Erick Kaique Santos, 21 anos, saiu da casa da avó na tarde de sábado, 16 de agosto, com um plano simples: pegar dinheiro com a mãe para ir a um show. Era um programa comum, do tipo que jovens fazem aos fins de semana em qualquer lugar do mundo. Mas Erick morava no Alto da Bola, na Federação, em Salvador, onde planos simples podem virar tragédias em questão de minutos. Ele foi executado a tiros, segundo relato da família, após ser abordado por homens armados da região. Sua avó acredita que o neto foi confundido com outra pessoa. Erick se tornou mais uma vítima da violência que está transformando dois bairros soteropolitanos em plena região central da capital baiana. Somente em agosto, o Fogo Cruzado registrou dez tiroteios no Engenho Velho da Federação e na Federação. Foram sete pessoas mortas e três feridas nos últimos 31 dias. Uma média de duas vítimas por semana. Essa alta dos tiroteios transformou Engenho Velho da Federação e Federação no segundo e terceiro bairro com maior números de tiroteios no mês, de acordo com dados do Instituto. O padrão assustador é reflexo da crise na segurança pública. No ano passado, Federação e Engenho Velho da Federação registraram, juntos, dois tiroteios que resultaram em três mortes. Ou seja, no último agosto registramos três vezes mais vítimas que no mesmo período do ano passado. Em somente oito meses de 2025, foram registrados 36 tiroteios com 24 mortos e 11 feridos, incluindo três agentes de segurança, apenas nesses bairros. Os números revelam uma realidade perturbadora: embora o total de tiroteios tenha diminuído 5% em relação ao mesmo período de 2024, onde foram registrados 37 casos, o número de vítimas disparou 40%, indo de 25 em 2024, para 35 vítimas em 2025. Agosto já se destaca como o pior mês do ano para a região e os dados apontam para duas dinâmicas distintas, mas igualmente letais. Entre as dez vítimas baleadas do mês, cinco foram atingidas durante disputas entre grupos armados e cinco durante ações ou operações policiais. Das 35 vítimas baleadas nesses bairros, em 2025, 20 foram atingidas durante ações policiais e nove em disputas entre grupos armados. O crime expõe a população à violência armada e a polícia, que deveria garantir a segurança, leva ainda mais violência. Os dados revelam outro aspecto da tragédia que se instalou na região. Das pessoas baleadas este ano na Federação e Engenho Velho da Federação, ao menos sete foram vítimas de chacinas. Todas eram adultas, sendo 31 homens e duas mulheres — outras duas vítimas não tiveram o gênero identificado; 21 eram negras e 13 não tiveram a raça identificada. Enquanto a polícia segue impondo presença, sem estratégia, inteligência e com muitos tiros, as disputas territoriais entre grupos armados na região continuam cobrando seu preço: vidas jovens.Histórias transformadas em estatísticas de uma política que fracassou em sua premissa básica: proteger a vida. |
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