TECNOLOGIA

 



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Poderá a IA gerar uma recessão global?

    Nobel de Economia provoca: nova tecnologia atrai montanha de investimentos, mas pode não trazer lucros tão cedo… E sequer há certeza que avançará na velocidade almejada: falta energia para sustentar tantos data centers

Por Paul Krugman, em seu substack | Tradução: Rôney Rodrigues

É assim que a bolha termina. É assim que a bolha termina. É assim que a bolha termina: não com um estouro, mas com poluição e apagões.

O quê? Vou explicar em um minuto. Mas primeiro, uma palavrinha do MechaHitler.


Você provavelmente ouviu falar dos problemas que Elon Musk tem tido com o Grok, sua participação na corrida da inteligência artificial. Ele continua tentando impedir o Grok de dar respostas de que não gosta, por exemplo, dizendo aos usuários (corretamente) que a violência de direita é mais frequente e letal do que a violência de esquerda. Mas seus esforços para fazer o Grok ser menos “woke” continuam tornando-o racista e antissemita.

Mas você pode não ter ouvido falar da crise ambiental criada pela xAI, que opera o Grok. Da Politico, em maio:

A empresa de inteligência artificial de Elon Musk está vomitando poluição formadora de smog em uma área do Sul de Memphis que já lidera o estado em visitas ao pronto-socorro por asma.

Nenhuma das 35 turbinas a gás metano que ajudam a alimentar o supercomputador massivo da xAI está equipada com controles de poluição normalmente exigidos por regras federais.

Na época, essas turbinas operavam sem licenças. Em 2 de julho, o Condado de Shelby — anulando protestos locais — emitiu licenças para 15 turbinas, juntamente com padrões de emissão. Mas, dada a história, é difícil evitar o ceticismo sobre se esses padrões serão respeitados.

Eu mencionei que o Sul de Memphis é 99,5% negro?

Há muito a ser dito aqui sobre proteção ambiental e a influência corruptora do grande dinheiro na política. Mas por hoje vamos fazer uma pergunta diferente: Por que Musk precisou instalar sua própria capacidade de geração de energia altamente poluente para alimentar seu data center? Por que não simplesmente comprar energia da rede elétrica, como todo mundo?

A resposta é que a rede elétrica não tem energia de sobra; não temos capacidade de geração suficiente para operar todos os data centers que estão sendo construídos para rodar IA. É por isso que estamos ouvindo muito falar sobre exigir que os data centers forneçam sua própria energia. Mas o que Musk está fazendo com Memphis mostra que também há grandes problemas com essa solução.

E isso, por sua vez, sugere que a IA pode ser um risco de curto prazo maior para a economia do que muitos percebem.


Observe que eu disse curto prazo, não longo prazo. Isso não é sobre a IA causar desemprego ao substituir humanos. Estamos falando, em vez disso, sobre o risco de uma recessão se o atual surto de investimento impulsionado pela IA se revelar insustentável.

Como muitos observadores, vejo paralelos óbvios entre o boom atual da IA e o boom das telecomunicações do final dos anos 1990. (Telecom, não pontocom — o excesso de investimento em redes de fibra óptica, etc., foi um problema muito maior do que sites supervalorizados.)

Naquela época, assim como agora, grandes quantias de investimento empresarial foram impulsionadas pelo entusiasmo com uma nova tecnologia emocionante. E o entusiasmo daquela época era justificado! Eu tenho assistido a antigos anúncios da Qwest sobre as maravilhas da fibra óptica, e praticamente tudo o que eles prometeram se concretizou. Você pode de fato se registrar em um hotel sujinho com wifi decente e assistir a praticamente todos os filmes já feitos:

Pergunta paralela: Por que os anúncios da indústria de tecnologia eram tão melhores em 1999?

Mas o retorno econômico da tecnologia de telecomunicações não veio rápido o suficiente para evitar uma grande quebra no investimento em telecom:

E essa quebra, por sua vez, levou a uma recessão e a um longo período de desemprego elevado:

Avançando para o presente. O crescimento econômico recente tem sido lento — apenas 1,2% em taxa anualizada durante o primeiro semestre do ano — e o investimento relacionado à IA provavelmente tem sido a única coisa nos mantendo acima da “velocidade de estol”, um crescimento tão lento que a fraqueza econômica se autorreforça.

O gráfico abaixo mostra as mudanças entre o quarto trimestre de 2024 e o segundo trimestre de 2025 no PIB real e alguns de seus componentes. O investimento em equipamentos de processamento de informação — o que neste ponto basicamente significa data centers — respondeu por mais da metade de todo o crescimento, mais do que os gastos do consumidor, que compõem 70% da economia:

Portanto, o boom da IA é realmente a única coisa mantendo a cabeça da economia acima da água, e você tem que se preocupar com o que acontece se e quando ele terminar.

Até aqui, tudo 1999. E como em 1999, você tem que se preocupar se a tecnologia é realmente tão grande quanto os entusiastas afirmam, e mesmo que seja, se ela gerará lucros grandes em tempo hábil para justificar os enormes gastos de capital de hoje.

Mas também temos uma preocupação adicional: as empresas que gastam quantias enormes em IA vão pisar no freio assim que perceberem que não conseguirão energizar seus data centers?

A questão é que o descompasso entre as imensas quantidades de eletricidade que os data centers esperam usar e a capacidade de geração que provavelmente teremos não é apenas um problema para as empresas que estão despejando centenas de bilhões na IA. É uma ameaça para a economia como um todo.

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Siga Antenado: 5 milhões de famílias já receberam antenas digitais gratuitas

Agência do Rádio

Mais de 5 milhões de famílias brasileiras já foram beneficiadas com a instalação gratuita de kits da nova antena digital por meio do programa Siga Antenado. A iniciativa é uma política pública coordenada pelo Ministério das Comunicações, em parceria com a Entidade Administradora da Faixa (EAF) e com supervisão da Anatel, e foi criada como contrapartida do leilão do 5G.

Mais de 5 milhões de famílias brasileiras já foram beneficiadas com a instalação gratuita de kits da nova parabólica digital por meio do programa Siga Antenado. A iniciativa é uma política pública coordenada pelo Ministério das Comunicações, em parceria com a Entidade Administradora da Faixa (EAF) e com supervisão da Anatel, e foi criada como contrapartida do leilão do 5G.

O balanço foi apresentado nesta quarta-feira (11), em Brasília (DF), e marca uma das maiores ações de inclusão digital já realizadas no país. Voltado a famílias de baixa renda inscritas no Cadastro Único (CadÚnico) que utilizavam parabólica tradicional, o programa garante acesso gratuito à nova parabólica digital, com som e imagem em alta definição e mais de 100 canais abertos. O Programa foi executado em todos os estados brasileiros, inclusive em regiões com baixa cobertura terrestre.

“Atingir cinco milhões de lares com esse benefício gratuito é uma conquista histórica. Estamos promovendo inclusão digital, ampliando o acesso à informação de qualidade e preparando o Brasil para a nova era da conectividade”, afirmou o ministro das Comunicações, Frederico de Siqueira Filho.

Além de levar a nova parabólica digital gratuitamente à população, o programa também permitiu a liberação completa da faixa de 3,5 GHz, que permite a implementação do 5G em todo o território nacional. A limpeza da faixa foi concluída 14 meses antes do prazo previsto.

“Mais do que trocar antenas, entregamos dignidade, acesso à informação e conectividade de qualidade para milhões de famílias. Esse é o legado do Siga Antenado: um projeto de alta complexidade técnica, que exigiu logística nacional, desenvolvimento de soluções sob medida e coordenação com dezenas de parceiros públicos e privados”, afirma Leandro Guerra, CEO da EAF. “Mostramos que é possível executar uma política pública em escala continental com eficiência, inovação e propósito, transformando o presente e preparando o país para o futuro digital”, completa.

Famílias elegíveis para o programa e que ainda não fizeram a troca de sua parabólica tradicional têm até o dia 30 de junho para solicitar e agendar a instalação de sua nova antena parabólica digital. O agendamento, a entrega e a instalação do kit digital são gratuitos. Mais informações estão disponíveis em sigaantenado.com.br ou pelo telefone 0800 729 2404, que também atende por mensagens via WhatsApp.

Ampliação do programa

Inicialmente destinado apenas a usuários do CadÚnico com parabólica tradicional, o programa foi ampliado em maio de 2025 por meio de portaria do Ministério das Comunicações. A Fase Extra contemplará moradores de baixa renda em 323 municípios com cobertura terrestre limitada, mesmo que não possuam parabólica instalada.

Foram priorizadas cidades em 16 estados brasileiros: Bahia (20), Ceará (7), Espírito Santo (2), Goiás (21), Maranhão (46), Minas Gerais (30), Mato Grosso (23), Mato Grosso do Sul (4), Pará (15), Pernambuco (3), Piauí (88), Rio Grande do Norte (9), Rondônia (4), Roraima (3), Rio Grande do Sul (4) e Tocantins (44).

A substituição é necessária para evitar interferências causadas pela ativação do 5G, que utiliza a mesma faixa de frequência (3,5 GHz). Os novos equipamentos oferecem melhor desempenho de sinal, estabilidade na recepção e qualidade superior de áudio e vídeo.

A lista completa dos municípios contemplados está disponível no site do programa.


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Breque dos Aplicativos 2025: um balanço preliminar

Movimento que despontou esta semana em várias partes do país capilarizou-se como nunca, teve apoio popular e agora conta com articulação nacional embrionária. Mas plataformas mantêm seu poder – inclusive porque governo não se posiciona e sindicatos hesitam

Depois de dois anos de relativo refluxo, os entregadores que trabalham em empresas de plataformas digitais foram à luta entre 31 de março e 1º de abril. O Breque Nacional dos APPs — denominação adotada pela categoria — espalhou-se por mais de cem cidades. Bloqueou shopping centers, desfilou em dezenas de motociatas e chegou a fazer trancamentos de ruas.

Além das reivindicações econômicas, assumiu, em alguns lugares, pautas políticas — como a defesa de direitos e garantias trabalhistas — ainda que sem, necessariamente, enquadramento via Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Estabeleceu laços internacionais e ampliou relações com parlamentares — inclusive à direita do espectro político. Ao final da jornada, registrou-se outro passo importante: a formação de um Comando Nacional do Breque, que já prepara novas mobilizações.

As principais reivindicações da categoria foram o aumento da taxa mínima de entrega, de R$ 6,50 para R$ 10,00, o aumento do valor do quilômetro rodado, de R$ 1,50 para R$ 2,50, o fim das entregas duplas em um mesmo trajeto e o limite de quilometragem para entregas de bicicleta — condizente com o esforço físico que é necessário pelos ciclistas. Essas reivindicações visam o aumento da remuneração e a melhoria das condições de vida desses trabalhadores, que arcam com todos os custos decorrentes do trabalho e não contam com nenhum acesso a direitos sociais e trabalhistas.


Em nota, a iFood, principal empresa do setor, afirma se colocar à disposição do diálogo e diz que está analisando as possibilidades de reajuste da taxa para este ano, embora não sinalize qualquer perspectiva de avanço nas demais reivindicações. De igual forma, a Associação Brasileira de Mobilidade e Tecnologia (Amobitec), que representa os interesses das empresas detentoras de plataformas de mobilidade e entrega, tal como a 99, a Uber e a própria iFood, também lançou nota reconhecendo o direito à manifestação dos entregadores, apesar de não assumir qualquer compromisso com as reivindicações.

Até o momento, o governo federal e o ministério do Trabalho e Emprego (MTE) não se pronunciaram sobre a mobilização e as reivindicações dos entregadores por aplicativos, que foram alvo de uma tentativa de regulação a partir de um grupo de trabalho (GT) que atuou ao longo de 2023.

Mesmo com a ausência de vitórias imediatas, ou de sinalizações concretas das empresas acerca da resolução das reivindicações, o Comando Nacional do Breque, que reúne diversas organizações coletivas e lideranças da categoria, suspendeu a paralisação e convocou uma plenária geral dos entregadores para a próxima quarta-feira, 9, para avaliar e decidir os rumos do movimento.

Enraizamento da paralisação

Em comparação às mobilizações realizadas pelos entregadores no passado recente, é possível notar que a paralisação desta semana contou com maior enraizamento. Em nota, o Comando Nacional do Breque estima que a ação paredista ocorreu em pelo menos cem municípios brasileiros, incluindo todas as capitais e o Distrito Federal. Em um breve levantamento em diferentes veículos de imprensa, hegemônicos e alternativos, foi possível notar protestos em pelo menos 60 municípios.

Na ampla maioria dos municípios, o breque foi uma combinação do fechamento de pontos de distribuição, sobretudo shoppings centers, e protestos que combinavam motociatas e bloqueios nas vias públicas. Em algumas localidades, houve panfletagens e discursos, realizados por lideranças e representantes da categoria, destinados não apenas aos trabalhadores, mas também aos clientes das plataformas. Por outro lado, em algumas localidades os trabalhadores optaram por ações mais “silenciosas”, isto é, apenas desligando os aplicativos, sem necessariamente combinar a paralisação do trabalho com outras táticas de pressão e diálogo.

É importante destacar que em algumas localidades, tais como em Recife, onde os entregadores fecharam a Ponte do Pina com uma barricada, o breque teve uma postura mais radical. Houve, ainda, localidades em que além das empresas, o movimento também tinha como alvo o poder público, apontando a necessidade de regulação do regime de trabalho, tal como em Brasília e Porto Alegre.

Em São Paulo e Osasco, os entregadores se direcionaram à sede da iFood para tentar dialogar com representantes da empresa, sendo reprimidos pela atuação da Polícia Militar (PM). Naquela oportunidade, e apenas depois de muita pressão, nove representantes do breque foram recebidos pela empresa para um diálogo sobre as pautas do movimento, sem que houvesse qualquer negociação, mesmo que parcial.


Essas variadas formas de ação, que são derivadas de diferentes leituras, feitas a partir dos múltiplos contextos em questão, mostram certa capacidade de combinação entre o nacional e o local, o amplo e o específico. Noutras palavras, ao mesmo tempo em que o breque tem um formato e uma agenda comum, ele também se materializa com adoção de outras táticas e pautas. Regionalizado e interiorizado, o movimento se destaca por uma maior coordenação das ações e a consolidação de um — novo? — espaço, o Comando Nacional do Breque, que aponta uma maior organização e articulação em comparação às experiências anteriores. Este espaço ainda carece de maior compreensão e qualificação, embora já seja possível especular que é conformado por heterogeneidades, tal como a Aliança Nacional dos Entregadores por Aplicativos, ANEA, que o compõe. Resta saber o que será deste espaço a partir de agora, se haverá saldos políticos, em geral, para a categoria, e organizativos, em particular, para suas organizações.

Solidariedade como parte constituinte da luta

Um elemento que sempre foi fundamental para a luta dos trabalhadores por aplicativos é a capacidade de mobilizar a solidariedade de outras categorias. Nas manifestações durante a pandemia da Covid-19, o apoio ativo dos consumidores que se negavam a fazer pedidos durante os dias de protesto foi parte importante do breque. Além disso, destaca-se também o engajamento nas redes e as avaliações negativas dos aplicativos de entrega nas chamadas lojas de aplicativos digitais dos smartphones.

No breque de 2025, a solidariedade de outros trabalhadores também foi um recurso mobilizado pelos entregadores. Chamou atenção, porém, uma maior presença de apoios, logísticos e políticos, por parte de parlamentares e de organizações sindicais e populares.

Quanto aos parlamentares, é interessante notar que o apoio veio de ambos os lados do espectro político: tanto parlamentares de direita quanto de esquerda manifestaram apoio às reinvindicações da paralisação nacional. É o caso, por exemplo, da deputada estadual do Rio de Janeiro, Danieli Balbi, do Partido Comunista do Brasil (PCdoB); do deputado estadual de Minas Gerais, Betão, do Partido dos Trabalhadores (PT); dos deputados estaduais do Espírito Santo, Camila Valadão, do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), e Coronel Weliton, do Partido Renovação Democrática (PRD); do deputado estadual de Goiás, Gugu Nader, do Avante, que propôs uma audiência pública para debater e buscar melhorias nas condições de trabalho; e do deputado estadual de Santa Catarina, Camilo Martins, que destinou emendas parlamentares para viabilizar pontos de apoio para os entregadores. Senadores do PT e a executiva nacional do PSOL também se manifestaram em apoio à mobilização dos entregadores.

Nesta direção, destaca-se também o apoio internacional, de lideranças da Argentina, dos Estados Unidos, da Itália, da Bélgica e da Suécia, em materiais divulgados pelo Comando Nacional do Breque. Isto pode indicar os próximos passos de conformação do movimento e de suas organizações, alinhando-se a agendas internacionais de luta, assim como a própria repercussão da mobilização para fora do país.

De modo geral, as organizações sindicais se envolveram de forma tímida, reforçando a leitura de que o sindicalismo ainda encontra dificuldades não somente em se aproximar desta categoria, mas em incorporar suas pautas em suas agendas de luta e disputar um horizonte de proteção social e trabalhista que inclua esses trabalhadores no regime de trabalho formal, com reconhecimento da — existente — subordinação do trabalho.

Destaca-se a atuação do Sindicato dos Mensageiros Motociclistas, Ciclistas e Mototaxistas do Estado de São Paulo (SindimotoSP), principal sindicato da categoria do motofrete, filiado à União Geral dos Trabalhadores (UGT), que divulgou materiais informativos antes do breque, se somou ao movimento na capital paulista e enviou ofícios ao Ministério Público do Trabalho (MPT), ao Tribunal Regional do Trabalho (TRT) e ao Tribunal Superior do Trabalho (TST) solicitando a apuração de práticas antissindicais e de rebaixamento das condições de trabalho praticadas pelas empresas. Em nota, este sindicato expõe que às vésperas da paralisação nacional, a iFood ofereceu promoções e bonificações de até R$ 800,00. No Rio Grande do Sul, o SindimotoRS, filiado à Central dos Trabalhadores e das Trabalhadoras do Brasil (CTB), também se somou às manifestações ocorridas em Porto Alegre e protocolou uma ação judicial contra as principais empresas de plataformas digitais para negociar melhores condições de trabalho. Prevista para 23 de abril, a audiência irá contar com protestos de entregadores e motoristas por aplicativos, conforme indica o material produzido pelo Sindicato dos Motoristas em Transporte Individual de Passageiros por Aplicativos do Rio Grande do Sul (Simtrapli-RS).

A UGT foi a central que mais se posicionou sobre a paralisação nacional, ainda que de forma lateral, por meio da publicação de notícias sobre as ações do SindimotoSP e de uma declaração do presidente da central, Ricardo Patah. O mesmo ocorreu com a CTB, a partir das notícias do SindimotoRS. CTB, UGT e Força Sindical (FS) priorizaram, ao longo da semana, divulgar notícias e notas sobre mobilizações de outras categorias. No caso das duas últimas, houve destaque à organização do ato do 1º de Maio em São Paulo, que será realizado em unidade junto à Central dos Sindicatos Brasileiros (CSB), Nova Central Sindical dos Trabalhadores (NCST) e Pública – Central do Servidor. Sobre isto, chama atenção que a Central Única dos Trabalhadores (CUT), principal organização da cúpula sindical brasileira, ficou de fora da ação.

O mesmo ocorreu com relação ao pronunciamento sobre o breque: a CUT, que tem filiada a maior parte dos sindicatos extraoficiais de motoristas e entregadores por aplicativos, e que se empenhou diretamente no GT criado pelo governo federal para regular o trabalho dessas categorias, não soltou nenhuma nota ou notícia sobre a paralisação nacional dos entregadores. Muito possivelmente que, diante do cenário de menor índice de aprovação do governo Lula, a central, aliada histórica do PT, tenha optado pelo silêncio para não desgastá-lo, já que o Projeto de Lei Complementar (PLP) 12/2024, que regula o trabalho dos motoristas por aplicativos, em tramitação no Congresso Nacional, criou grande polêmica e reações contrárias, à esquerda e à direita.

Os próximos passos da mobilização

O Comando Nacional do Breque sinaliza que os próximos passos da mobilização dos entregadores será decidido na plenária agendada para a próxima semana, que também buscará avaliar os impactos da mobilização. Em nota, o comando orienta que os trabalhadores mantenham a pressão contra as plataformas seguindo como diretriz a rejeição de corridas abaixo de R$ 8,00, para os entregadores de moto, e de 3 km, para os entregadores ciclistas; a rejeição de pedidos agrupados; e a realização de paralisações pontuais.

Embora vitoriosa do ponto de vista da organização da categoria e dos impactos sobre o funcionamento das plataformas — sendo que, inclusive, vários restaurantes informaram queda total dos serviços de delivery durante o breque —, ainda é difícil mensurar os impactos da ação dos entregadores às empresas detentoras das plataformas. A opacidade da gestão dessas plataformas é tão grande, que o contingente total da força de trabalho não é um dado público, dificultando uma análise rápida e objetiva sobre a adesão à paralisação.

O breque emerge em um momento em que o tema do trabalho volta ao centro da agenda pública. A mobilização dos entregadores se conecta a outras lutas em curso, como a resistência à jornada 6 x 1 e a defesa da redução das jornadas, compondo um movimento mais amplo por valorização do trabalho. Neste contexto, a demanda por melhores condições, remuneração digna e proteção social aos trabalhadores por plataforma reforça a urgência de enfrentar a precarização como um problema coletivo.

É importante destacar, ainda, que embora não fosse agitada pelo Comando Nacional do Breque, a regulação do trabalho de entrega por aplicativos é uma reivindicação que vez ou outra aparece em declarações dos trabalhadores e de algumas lideranças. Essa palavra ecoa polissemicamente junto à categoria, indicando muito mais um desejo de acesso a benefícios e contornos legais que viabilizam a execução dos serviços do que o reconhecimento da subordinação do trabalho e o acesso ao regime formal. Daí, resulta uma série de problemas, tal como a desvalorização social do regime celetista, a ilusão de que a forma com que as empresas de plataformas operam garante independência e autonomia do trabalho, e a falta de acesso a direitos, que prejudica as condições de trabalho e vida e impacta o conjunto do tecido social.

A combinação desses elementos, sem haver enfrentamento político e ideológico para sua reversão, pode acabar sendo direcionada com facilidade para a errada defesa de um estatuto intermediário, favorável às empresas e atualmente defendido pelo governo, que se situa entre o trabalho formal e o informal. O risco maior é a possibilidade deste estatuto, uma vez vigente, se expandir para o conjunto da classe trabalhadora.

Ainda há questões fundamentais para o balanço do movimento dos entregadores que ficam em aberto. Se por um lado há um visível avanço organizativo do movimento em relação aos breques anteriores, como fica a relação da base do movimento com suas direções? Como o movimento dos entregadores irá se estruturar daqui em diante, principalmente na escolha e na formação de seus dirigentes e representantes? Quais aprendizados os entregadores tirarão desta experiência de luta? Como o sindicalismo irá se inserir neste debate, que se desenvolve em suas margens e sem sua influência?

Também ficam questões sobre o desenlace do conflito. Até o momento as empresas têm reconhecido o direito à manifestação e feito reuniões sem resolução das demandas dos trabalhadores. Como irão se comportar frente a um movimento que começa a se estruturar com maior profissionalismo? Por outro lado, como o poder público em geral e o governo federal e o MTE, em particular, vão atuar nesse cenário? Será possível reverter os ânimos, que têm se direcionado à regulações rebaixadas?

São questões que interessam diretamente para um balanço do breque dos aplicativos, mas que apontam também para as dinâmicas da luta de classes no próximo período e o combate à precarização social no Brasil.

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Novo leilão reverso do Ministério das Comunicações vai levar internet móvel a 70 localidades de difícil acesso

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O Ministério das Comunicações vai levar internet móvel e telefonia a 70 localidades do país, em 17 estados, proporcionando mais conexão e inclusão digital a brasileiros que moram em locais onde não existe esse tipo de serviço.

O Ministério das Comunicações vai levar internet móvel e telefonia a 70 localidades do país (ver lista abaixo), em 17 estados, proporcionando mais conexão e inclusão digital a brasileiros que moram em locais onde não existe esse tipo de serviço.

Os estados beneficiados são: Amazonas, Amapá, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Goiás, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Pará, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rondônia, Santa Catarina, Sergipe, São Paulo e Tocantins.

O segundo leilão reverso para escolher operadoras aptas a instalar Estações de Rádio Base (ERBs) e operar serviços de telefonia móvel e internet nessas áreas acontecerá no dia 18 de março.

O edital do Seja Digital, que vai selecionar empresas a operar nessas áreas remotas, foi publicado nesta segunda-feira (10): https://sejadigital.com.br/leilao02/. A iniciativa faz parte de uma política pública elaborada pelo Ministério das Comunicações para promover a inclusão digital da população em regiões desassistidas.

“Nossa meta é implementar e agilizar políticas públicas que levem inclusão digital de Norte a Sul do país, principalmente em áreas mais remotas. Fizemos um primeiro leilão reverso para conectar mais de 50 áreas rurais e nesta segunda etapa, que será realizada no próximo mês, vamos aumentar o número de localidades que não contam o serviço”, disse Juscelino Filho, ministro das Comunicações.

O segundo leilão reverso seguirá o mesmo modelo do primeiro, realizado em outubro de 2024: lances únicos por localidade, sendo que a proposta vencedora será a de menor valor. As empresas interessadas em participar devem cumprir os requisitos de habilitação e as datas de envio de documentos estabelecidos no edital.

Os leilões têm a finalidade de usar o saldo remanescente de R$ 250 milhões em recursos à disposição. Após a realização do primeiro, restam mais dois. As localidades foram pré-determinadas pelo Ministério das Comunicações, que mapeia áreas remotas do país a serem incluídas digitalmente.

Os recursos para as instalações de antenas fazem parte das sobras do Leilão 4G da Anatel. No primeiro leilão, as empresas Brisanet, TIM e Ligga/Sercomtel venceram o certame realizado de maneira 100% digital, com acompanhamento de representantes da Anatel, do Ministério das Comunicações e da EAD/Seja Digital.

Na modalidade de leilão reverso, as operadoras podem escolher uma ou mais localidades da lista e realizar um lance único para cada uma, abaixo do limite máximo estipulado no edital. Vencerão as empresas que pleitearem o menor valor de subsídio em cada localidade.

O Ministério das Comunicações é um dos integrantes do Gired. Além da pasta, o grupo reúne representantes da Anatel, dos radiodifusores e das operadoras, e é responsável pelas diretrizes da Seja Digital/EAD.

UF Localidade
(Nome)
Município
(Nome)
AM Nova Manaus Iranduba
AP Colonia Nova Vida Tartarugalzinho
BA Ouro Verde São Domingos
CE Jordão Baturité
CE Santa Rita Choró
CE Águas Belas Crateús
CE Irapuá Crateús
CE Oiticica Crateús
CE Doutor Privat Granja
ES Caieira Velha Aracruz
GO Porto Real Monte Alegre de Goiás
GO Diadema Teresina de Goiás
GO Rancho dos Ipês Alexânia
MA Peroba de Cima Alcântara
MA Povoado Marudá Alcântara
MA Lagos Apicum-Açu
MA Pedra Caída Carolina
MA São José dos Pereiras Carolina
MA Conceição Mirador
MA Liso Mirador
MA Povoado Francelina Olho D´água das Cunhãs
MA Gameleira Olinda Nova do Maranhão
MA Santa Rita Olinda Nova do Maranhão
MA São Francisco Olinda Nova do Maranhão
MA Sítio Novo Pedreiras
MA Paraiso Pinheiro
MA Povoado Bom Viver Pinheiro
MA Matões Pirapemas
MA Distrito Industrial Porto Franco 
MA Canafístula dos Morais Presidente Dutra
MA Creoli do Joviniano Presidente Dutra
MA Povoado São João Presidente Dutra
MA Queimadas  Santa Helena
MA Água Limpa São Vicente Ferrer
MA Quilombo Poleiro São Vicente Ferrer
MA Vila São Paulo Senador Alexandre Costa
MA Arapiranga Serrano do Maranhão
MA Morro Vermelho Sucupira do Riachão
MA São Miguel Tuntum
MA Ibacazinho Viana
MA Carro Quebrado Viana
MS Aldeia Ipegue Aquidauana
PA Vila Jussara Água Azul do Norte
PA Vila Nova Canadá Água Azul do Norte
PA Vila Paraguaçu Água Azul do Norte
PA Retiro Grande Cachoeira do Arari
PA Piriá Curralinho
PA Joanes Salvaterra
PE Sipaúba Bodocó
RJ Bom Jardim Bom Jesus do Itabapoana
RJ Povoado Santa Isabel Bom Jesus do Itabapoana
RJ Usina Santa Maria Bom Jesus do Itabapoana
RN Alagamar Grossos
RN Areias Alvas Grossos
RN Comunidade de Valença Grossos
RN Cajueiro Touros
RO Calama Porto Velho
RO Nova Estrela Rolim de Moura
RO Vila Palmares Theobroma
SC Lajeadinho Monte Castelo 
SE Nova Descoberta Itaporanga D'Ajuda
SE Brasília Lagarto
SE Campestre do Abreu Tobias Barreto
SP Caximba Apiai
SP Mineiros Apiai
SP Queimadas Apiai
SP São Paulo Pinhalzinho
SP Caramuru Rubiacea
SP Rio Preto Sete Barras
TO Aldeia Mariazinha Tocantinópolis

Seja Digital

Entidade Administradora da Digitalização de Canais de TV e RTV, a Seja-Digital EAD foi criada por determinação da Anatel, para cumprir a missão de implementar políticas públicas para os setores de radiodifusão e telecomunicações.

Entre os projetos realizados estão a aceleração e a adoção do sinal digital de TV e a expansão da banda larga móvel pelo Brasil.

Fonte: Mcom


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Redes sociais: a possível diáspora

Após adesão das Big Techs à ultradireita, surge uma saída: redes federadas como Mastodom ou Bluesky, onde usuários do mundo todo usam a mesma plataforma, mas as regras de moderação são definidas por comunidades autônomas

Como chegamos aqui? O sistema centralizado de moderação de conteúdo, que começou a se fragmentar, foi moldado por uma combinação de valores políticos norte-americanos, normas sociais e realidades econômicas, como argumentou a pesquisadora e professora Kate Klonick na Revista de Direito de Harvard, em 2018.

O ensaio de Klonick, The New Governors, detalha como as políticas de governança das plataformas foram amplamente elaboradas por advogados dos EUA, cuja formação estava voltada para a Primeira Emenda à Constituição do país [– a que protege a “liberdade de expressão”].

Essas plataformas eram de propriedade privada e operadas por empresas, mas sua governança seguia o espírito da legislação norte-americana. No entanto, a maioria delas também considerava seu dever moderar conteúdos “obscenos, violentos ou de ódio”.


Isso se devia, em parte, ao desejo de serem vistas como ligadas a “boas práticas corporativas”, mas também era uma questão puramente pragmática: “A viabilidade econômica depende de atender às normas de discurso e comunidade dos usuários”, escreveu Klonick. Quando as plataformas criavam ambientes que atendiam às expectativas dos usuários, estes passavam mais tempo no site, e a receita poderia aumentar. Economia simples.

No entanto, enquanto as plataformas buscavam equilibrar responsabilidade corporativa, segurança dos usuários e viabilidade econômica, as regras tornaram-se cada vez mais pontos de conflito. As decisões de moderação de conteúdo passaram a ser vistas não como governança neutra, mas como julgamentos carregados de valores — declarações implícitas sobre quais vozes eram bem-vindas e quais não eram.

A remoção pelo Facebook da icônica foto Garota do Napal, em 2016 — devido à aplicação automatizada de regras contra nudez — provocou uma reação global, forçando a plataforma a reverter sua decisão e reconhecer as complexidades da moderação em larga escala.

Na mesma época, o Twitter enfrentou críticas por não responder adequadamente ao crescimento de propagandistas do Estado Islâmico e a campanhas de assédio como o Gamergate (um movimento online de 2014, supostamente sobre ética no jornalismo de games, mas amplamente visto como uma campanha de trolls contra mulheres do setor).

Esses incidentes ressaltaram as tensões entre a aplicação de padrões comunitários e a proteção da liberdade de expressão. Para muitos usuários, especialmente aqueles cujo discurso beirava o controverso ou ofensivo, os árbitros das grandes plataformas de tecnologia pareciam exercer um poder desproporcional, o que alimentava um sentimento de alienação e desconfiança.

À medida que essas forças convergiam e se consolidavam como o status quo da governança, aqueles que se sentiam insatisfeitos com esse modelo enfrentavam uma escolha clássica: sair ou protestar. Deveriam abandonar um produto ou uma comunidade em busca de opções melhores ou permanecer e expressar sua frustração, transformando-a em reivindicações por mudanças?

O economista alemão Albert Hirschman argumentou que a decisão entre sair ou se manifestar, para consumidores insatisfeitos, era mediada por um terceiro fator: a lealdade. A lealdade, esteja enraizada no patriotismo ou na afinidade com uma marca, pode manter os indivíduos ligados a uma instituição ou produto, tornando-os mais propensos a exigir mudanças do que simplesmente abandonar o espaço.

Durante anos, a lealdade às grandes plataformas tinha menos a ver com afeto e mais com realidades estruturais; o domínio monopolista e os poderosos efeitos de rede deixavam os usuários das redes sociais com poucas alternativas viáveis.


Havia poucos aplicativos com os recursos, a massa crítica ou o alcance necessários para atender às necessidades dos usuários em termos de entretenimento, conexão ou influência. Políticos e ideólogos também dependiam da escala das plataformas para propagar suas mensagens. As pessoas permaneciam, embora sua insatisfação crescesse.

A resposta foi a manifestação ativa. Políticos e grupos de defesa pressionaram as empresas para alterar suas políticas de forma a atender aos interesses de seus respectivos lados — um processo conhecido entre os estudiosos da moderação de conteúdo como “trabalhar os árbitros” (working the refs).

Em 2016, por exemplo, o “Trending Topicsgate” levou influenciadores de direita e veículos de mídia partidários a acusar o Facebook de supostamente rebaixar manchetes conservadoras em sua seção de tópicos em alta. Funcionou: o Facebook demitiu seus curadores humanos de notícias e reformulou o sistema. (O substituto, um algoritmo, rapidamente passou a espalhar manchetes sensacionalistas e falsas, incluindo algumas vindas de fábricas de trolls da Macedônia, até que a empresa finalmente decidiu eliminar o recurso.)

Organizações de inclinação progressista também “trabalharam os árbitros” ao longo dos anos, exercendo pressão para maximizar seus próprios interesses. Multidões partidárias online passaram a enxergar até mesmo decisões isoladas como evidência de um viés sistemático.

Decisões de moderação de conteúdo envolvendo disputas interpessoais aparentemente insignificantes eram ampliadas em controvérsias fabricadas — provas de que as plataformas estariam cedendo à política identitária ou perpetuando algum tipo de supremacia.

Havia um fundo de verdade: os moderadores realmente cometiam erros, ignoravam contextos e tomavam decisões equivocadas ao lidar com milhões de casos a cada trimestre. No entanto, à medida que a discordância se transformava em um esporte conflitivo, as plataformas se viram arbitrando uma guerra cultural cada vez mais intensa.

Esforços para impor ordem — para impedir que pessoas reais fossem vítimas de doxxing1, perseguição ou mesmo simples assédio — eram rotineiramente transformados em combustível para um novo ciclo de ressentimento tribal. Na direita, em particular, disputas sobre moderação foram reformuladas como batalhas existenciais sobre identidade política e liberdade de expressão.

O então presidente Donald Trump, em particular, irritado por ver seus tweets enganosos rotulados como tal, não foi sutil: passou a deslegitimar a própria moderação de conteúdo e a ameaçar ações regulatórias.

Intervenções básicas, como rótulos de verificação de fatos em declarações contestadas — e, às vezes, até a mera suspeita de intervenção (por exemplo, se um tweet não recebesse o engajamento esperado) — foram reformuladas como atos tirânicos de elites tecnológicas conspirando contra populistas de direita. Os árbitros deixaram de ser mediadores na guerra cultural; passaram a ser vistos como a oposição. À medida que essa narrativa se incorporava à identidade política da direita, o mercado respondeu oferecendo oportunidades de saída.

Plataformas como o Parler, que surgiu em 2018, foram criadas com o objetivo explícito de atender apoiadores de Trump, que agora acreditavam que as convencionais eram irremediavelmente tendenciosas. O Gettr e o Truth Social vieram em seguida, surgindo a partir de ressentimentos em torno da eleição de 2020 e dos distúrbios de 6 de janeiro. As novas plataformas alternativas de direita tinham árbitros do mesmo time, mas permaneceram pequenas — porque o preço a pagar era que havia poucos “liberais” para serem confrontados. Havia poucas oportunidades para brigas partidárias ou trolling. Havia poucos espectadores a serem potencialmente recrutados para uma causa preferida.

E assim, influenciadores políticos, figuras da mídia e políticos de todo o espectro continuaram a “trabalhar os árbitros” nas principais plataformas, onde as apostas — e as audiências — permaneciam muito maiores.

Então, em 2022, ocorreu uma mudança sísmica: Elon Musk, um verdadeiro crente na teoria dos árbitros corruptos, comprou o Twitter — e se autoproclamou o árbitro principal. A plataforma que ele passou a chamar de X sempre foi relativamente pequena, mas desproporcionalmente influente: sua concentração de pessoas obcecadas por mídia e política lhe rendeu o apelido de “praça pública”.

Mais precisamente, ela costumava funcionar como uma arena de gladiadores — um espaço caótico onde o consenso era moldado e indivíduos desavisados se tornavam os “personagens principais” de linchamentos virtuais.

Após a aquisição, Musk ofereceu uma “anistia” para aqueles que haviam caído em desgraça com os antigos árbitros — incluindo neonazistas declarados. Influenciadores de direita na plataforma aproveitaram a oportunidade para influenciar o novo árbitro com fervor, e Musk respondeu reformulando a governança de forma rápida e significativa a seu favor. Postagens que antes eram moderadas, como rumores infundados sobre eleições fraudadas ou o uso proposital de pronomes errados para pessoas transgênero, agora eram consideradas aceitáveis.

A insatisfação com o novo árbitro, as novas políticas e o ambiente geral do X levaram, assim, a um êxodo da esquerda política americana da plataforma. Inicialmente, as pessoas migraram para o Mastodon, que tinha a vantagem de já existir. Outra nova plataforma que entrou no mercado, o Bluesky, lançou sua versão beta com um modelo baseado apenas em convites, impulsionado por redes de indicação. A comunidade progressista rapidamente se estabeleceu na plataforma.

Em novembro de 2023, o Bluesky já contava com 2 milhões de usuários e reputação de ser um espaço fortemente alinhado à esquerda. Em julho de 2023, o “gorila de 800 quilos” entrou na competição pelos usuários insatisfeitos do Twitter: o Threads, da Meta.

Posicionado como um concorrente direto do X, o Threads se promoveu como uma plataforma “gerida de forma racional”, nas palavras do diretor de produtos Chris Cox. No entanto, a promessa de sanidade não protegeu o Threads das dinâmicas de “trabalhar os árbitros”. A decisão da liderança de restringir notícias políticas e bloquear algumas pesquisas relacionadas à pandemia gerou uma reação negativa de sua base de usuários, majoritariamente liberal (alguns dos quais passaram a promover o Bluesky como um lugar melhor para estar). Apesar dessas tensões, o Threads cresceu rapidamente, relatando 275 milhões de usuários ativos mensais até o final de outubro de 2024; era, como muitos usuários insatisfeitos suspiravam, melhor do que o X.

No entanto, em novembro de 2024, foi o crescimento do Bluesky que se acelerou dramaticamente, impulsionado pela reeleição de Trump e pelo alinhamento cada vez mais explícito de Musk com a extrema-direita. Musk, o usuário mais visível do X, bem como seu árbitro-chefe, tornou-se um defensor vocal de Trump e um propagador da teoria do roubo eleitoral, e os algoritmos de sua plataforma pareciam favorecê-lo, assim como seus aliados ideológicos.

A lealdade ao antigo Twitter diminuiu gradativamente entre os usuários mais influentes e ativos da plataforma. E assim, muitos optaram por sair: nas semanas seguintes à eleição, o Bluesky ultrapassou a marca de 25 milhões de usuários, impulsionado não tanto por seus recursos, mas pela insatisfação ideológica e pelo apelo de uma plataforma cuja governança parecia se alinhar mais de perto às normas progressistas.

Mas será que realmente se alinha?

Nova Governança, Novos Desafios

A Grande Descentralização — a migração das grandes plataformas centralizadas e padronizadas para espaços menores e ideologicamente distintos — é impulsionada por identidade política e insatisfação. No entanto, o mais interessante nessa última onda de migração é a tecnologia que sustenta o Bluesky, o Mastodon e o Threads — o que ela possibilita e o que ela limita inerentemente.

Essas plataformas priorizam algo fundamentalmente distinto de seus antecessores: a federação. Diferentemente das plataformas centralizadas, onde a curadoria e a moderação são controladas de cima para baixo, a federação se baseia em protocolos descentralizados — o ActivityPub para o Mastodon (que também é compatível com o Threads) e o AT Protocol para o Bluesky — que permitem abrigar os dados em servidores controlados pelos próprios usuários e transferem a moderação (e, em alguns casos, a curadoria) para o nível comunitário. Essa abordagem não apenas redefine a moderação; ela reestrutura a governança online em si. E isso porque, em grande escala, não há árbitros a serem influenciados.

É importante entender os ganhos e perdas. Se as plataformas centralizadas, com suas regras e algoritmos controlados de cima para baixo, são “jardins murados”, as redes sociais federadas podem ser melhor descritas como “jardins comunitários”, moldados por membros conectados por laços sociais ou geográficos frouxos e um interesse compartilhado em manter um espaço comunitário agradável.

Neste ambiente, conhecido tambem como “fediverso”, os usuários podem ingressar em servidores alinhados com seus interesses ou comunidades — ou criar os seus próprios. Geralmente, esses servidores são administrados por voluntários, que gerenciam os custos e estabelecem regras localmente.

A governança também é federada: embora todos os servidores do ActivityPub, por exemplo, compartilhem um protocolo tecnológico comum, cada um define suas próprias regras e normas e decide se deseja interagir com a rede mais ampla ou se isolar dela. Por exemplo, quando a plataforma Gab, declaradamente favorável a neonazistas, adotou o protocolo do Mastodon em 2019, outros servidores se desfederaram dela em massa, cortando laços e impedindo que o conteúdo do Gab chegasse a seus usuários. No entanto, o Gab persistiu e continuou a crescer, destacando uma das limitações importantes da federação: a desfederação pode isolar atores problemáticos, mas não os elimina.

As plataformas baseadas em protocolos oferecem um futuro potencial significativo para as redes sociais: um federalismo digital, onde a governança local se alinha a normas comunitárias específicas, mas permanece vagamente conectada a um todo maior. Para alguns usuários, a escala menor e o maior controle possível nas plataformas federadas são atrativos. No Bluesky — que, por enquanto, ainda é gerenciado por uma única instância, controlada pela equipe de desenvolvimento — os usuários mais experientes estão criando ferramentas para personalizar a experiência.

Há listas de bloqueio compartilháveis, feeds curados (visualizações que permitem aos usuários ver as postagens mais recentes sobre um tópico definido por um criador, como notícias, jardinagem ou esportes) e ferramentas de moderação gerenciadas pela comunidade, que permitem a aplicação de rótulos de categorização para postagens ou contas (“Conteúdo Adulto”, “Discurso de Ódio”, etc.). Esses recursos permitem que os usuários adaptem seu ambiente a seus valores e interesses, dando-lhes mais controle sobre quais postagens veem — desde discursos inflamados até nudez e política — e quais são ocultadas por um aviso ou completamente invisibilizadas. E embora, atualmente, haja um rotulador de conteúdo centralizado controlado pela equipe de moderação do Bluesky, os usuários também podem simplesmente desativá-lo.

Para alguns, esse nível de autonomia é atraente. No entanto, a maioria dos usuários nunca altera as configurações padrão de um aplicativo: o que eles realmente buscam é alívio do drama, do caos e do desalinhamento ideológico percebido em outros espaços. Eles não são atraídos por conceitos como “moderação componível” ou “governança federada” — muitos, na verdade, parecem nem compreender totalmente o que isso implica — mas sim pelo clima da instância.

O Bluesky, em sua missão de construir um protocolo que, no fim das contas, tornaria a moderação centralizada amplamente irrelevante, teve, no entanto, que quadruplicar rapidamente o tamanho de sua equipe de moderação à medida que os usuários inundaram a plataforma. E é por isso que é importante entender que a migração para longe dos árbitros centralizados traz compensações muito reais.

Sem uma governança centralizada, não há uma única autoridade para mediar questões sistêmicas ou aplicar regras de forma consistente. A descentralização impõe uma grande carga sobre os administradores das instâncias individuais, em sua maioria voluntários, que podem não ter as ferramentas, o tempo ou a capacidade para lidar com problemas complexos de forma eficaz.

Parte do meu próprio trabalho, por exemplo, tem se concentrado no grande desafio de lidar até mesmo com conteúdos explicitamente ilegais — como imagens de exploração infantil — no fediverso. A maioria dos servidores administrados por voluntários não está equipada para lidar com essas questões, o que expõe os administradores a responsabilidades legais e deixa os usuários vulneráveis.

A aplicação fragmentada das regras deixa brechas que atores mal-intencionados, incluindo manipuladores patrocinados por Estados e spammers, podem agir com relativa impunidade. A verificação de identidade é outro ponto fraco, levando a riscos de falsificação de identidade que as plataformas centralizadas normalmente gerenciam de maneira mais eficaz. Práticas de segurança inconsistentes entre servidores podem permitir que agentes mal-intencionados explorem os elos mais fracos.

Embora a federação ofereça mais autonomia aos usuários e promova diversidade, ela torna significativamente mais difícil combater danos sistêmicos ou coordenar respostas a ameaças como desinformação, assédio ou exploração. Além disso, como os administradores de servidores só podem moderar localmente — ou seja, só podem ocultar conteúdo no servidor que operam — postagens de um servidor podem se espalhar por toda a rede para outros servidores, havendo poucos recursos para sua contenção. Postagens promovendo pseudociências prejudiciais (“beber água sanitária cura o autismo”) ou doxxing podem persistir sem controle em alguns servidores, mesmo que outros rejeitem ou bloqueiem o conteúdo.

Além dos desafios de lidar com conteúdos ilegais ou prejudiciais, a Grande Descentralização levanta questões mais profundas sobre a coesão social. A fragmentação das plataformas agravará os silos ideológicos e corroerá ainda mais os espaços compartilhados necessários para o consenso e o compromisso?

Nossos espaços de comunicação moldam nossas normas e nossa política. As próprias ferramentas que agora permitem aos usuários fazer a curadoria de seus feeds e bloquear conteúdos indesejados podem também amplificar divisões ou reduzir a exposição a perspectivas divergentes. Listas de bloqueio criadas por comunidades, embora úteis para grupos específicos que buscam evitar trolls, são instrumentos brutos. Pessoas com visões mais nuançadas sobre questões polêmicas, como a política de aborto, podem acabar se autocensurando para evitar serem “rotuladas erroneamente” e excluídas. Eventos recentes no Bluesky ilustram esses desafios. O desafio do consenso não é mais apenas difícil — ele está sendo estruturalmente reforçado.

O que vem pela frente

Gostando ou não delas, as políticas centralizadas e a aplicação de regras de cima para baixo definiram a experiência das redes sociais em grandes plataformas como Facebook, Twitter e YouTube por duas décadas. Como Nilay Patel, do The Verge, disse, a moderação de conteúdo é “o produto” dessas plataformas. As decisões tomadas pelas equipes de moderação moldam não apenas o que os usuários veem, mas também o quão seguros ou ameaçados eles se sentem. Essas políticas tiveram efeitos profundos, não apenas em fenômenos sociais como a democracia e a coesão comunitária, mas também no bem-estar dos usuários individuais.

Se a Grande Descentralização continuar, essa experiência mudará.

A moderação centralizada, apesar de imperfeita, cara e opaca, ainda assim oferecia regras bem definidas, tecnologia sofisticada e equipes de aplicação profissionalizadas. As críticas a esses sistemas frequentemente surgiam de sua falta de transparência ou de erros ocasionais de grande repercussão, que alimentavam percepções de viés e insatisfação. Essa crise de legitimidade acabou inclinando a balança da manifestação ativa para a saída — e agora, a construção de um novo espaço público digital representa tanto um desafio quanto uma oportunidade.

Sim, existe o potencial para espaços online verdadeiramente democráticos, livres das relações desiguais que, até agora, definiram a relação entre plataformas e usuários. Mas a concretização desses espaços exigirá um trabalho significativo.

Também há a questão iminente da economia. As alternativas federadas precisam ser financeiramente sustentáveis se quiserem persistir. Atualmente, o Bluesky é financiado principalmente por capital de risco; já se falou na possibilidade de assinaturas pagas e recursos premium no futuro. Mas, se as últimas duas décadas de experimentação com redes sociais nos ensinaram algo, é que os incentivos econômicos inevitavelmente exercem um impacto desproporcional sobre a governança e a experiência do usuário

Tecnólogos (eu incluída) adoram falar sobre inovação mais rápida, melhor privacidade e controle mais granular do usuário como o futuro das redes sociais. Mas isso não é o que a maioria das pessoas pensa. A maioria dos usuários quer apenas bons serviços, riscos mínimos para seu bem-estar e um ambiente geralmente positivo e envolvente. Ironia: esses são precisamente os resultados que a moderação tentou oferecer.

O argumento de que os aspectos negativos da participação nas redes sociais — desinformação, doxxing e assédio — são emblemáticos do triunfo da “liberdade de expressão” foi amplamente rejeitado; muito poucos usuários realmente passam tempo em comunidades “absolutistas” onde vale tudo; o 8chan, por exemplo, nunca foi amplamente popular. E, no entanto, nossa incapacidade de concordar sobre normas e valores compartilhados, tanto online quanto offline, está nos empurrando para espaços online cada vez mais distintos.

Os usuários que estão migrando para o Bluesky estão sendo atraídos pela cultura de sua instância principal, que lembra um pouco o velho Twitter de 2014 — uma época mais simples e menos tóxica. Eles anseiam por um retorno a uma sociedade menos divisiva e hostil. Esse anseio reflete uma verdade mais profunda: as plataformas online não apenas refletem nossos valores offline; elas os influenciam ativamente.

As plataformas federadas nos darão a liberdade de curar nossa experiência online e criar comunidades onde nos sentimos confortáveis. Elas representam mais do que uma mudança tecnológica — são uma oportunidade de renovação democrática na esfera pública digital. Ao devolver a governança aos usuários e às comunidades, elas têm o potencial de reconstruir a confiança e a legitimidade de maneiras que as plataformas centralizadas já não conseguem mais.

No entanto, também correm o risco de fragmentar ainda mais nossa sociedade, à medida que os usuários abandonam os espaços compartilhados onde a coesão social mais ampla poderia ser construída.

A Grande Descentralização é um reflexo digitalizado de nossa política polarizada que, daqui para frente, também continuará a moldá-la.

1Ação de revelar informações de identificação sobre alguém na Internet, como seu nome real, endereço residencial, local de trabalho, telefone, dados financeiros e outras informações pessoais. Essas informações então circulam para o público, sem a permissão da vítima.

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