OPINIÃO

 



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Disparada em balas perdidas no RJ
 

Até o domingo, 16 de março, 41 pessoas já foram vítimas de balas perdidas no Grande Rio. O aumento em comparação ao mesmo período de 2024 é de 58%, quando foram documentados 26 casos.

Reginaldo de Menezes, 52 anos, era cantor gospel e seguia para o trabalho, em 3 de fevereiro, quando, antes das 10h da manhã, passou pela Avenida Albino Imparato, no Jardim Catarina, em São Gonçalo. Ali ele teve o trajeto e a vida interrompidos após ficar na linha de tiro, em um confronto entre traficantes e policiais. Régis teve seu corpo encontrado por uma bala que cisma em achar sempre os mesmos alvos: os moradores das periferias da metrópole.

Nossos dados mostram haver lugares e pessoas mais vulneráveis a esse tipo de violência. O caso de Reginaldo não é exceção, é parte de um padrão que se repete diariamente no Grande Rio, onde a violência armada se tornou cotidiana.

No dia 9 de março, noite de domingo, a bala perdida “achou” outro alvo. Dessa vez uma criança. Um menino de 10 anos, que andava próximo a sua casa, no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, foi atingido por um tiro. São Gonçalo pertence ao Leste Metropolitano e, apesar de somar cinco vítimas de balas perdidas somente este ano, está longe de ser a área que acumula mais casos semelhantes.

Na Zona Norte já foram registradas 30 vítimas. Desse número, 23 pessoas ficaram feridas e sete morreram. 23 vítimas foram atingidas em ações da polícia e duas em disputas entre grupos armados.

Alcione da Silva, de 49 anos, foi baleada quando chegava para deixar o filho na escola, em Quintino, na Zona Norte do Rio, no início da manhã do dia 12. E adivinha? Próximo à escola acontecia uma operação policial. O roteiro é conhecido pela população do Grande Rio: medo, insegurança, escola com aulas interrompidas, postos de saúde sem funcionar e crianças e seus familiares na linha de tiro.

No dia seguinte a história se repetiu: policiais e criminosos trocaram tiros no Complexo do Chapadão, também na Zona Norte do Rio, e durante o confronto o ambulante Marcelo Santos Martins, de 51 anos, foi atingido por uma bala perdida enquanto saía de casa para trabalhar. Ele não resistiu e morreu. 

Assim como Alcione e Marcelo, outras 25 pessoas foram vítimas de balas perdidas durante ações ou operações policiais no Grande Rio. Mais uma vez a política de segurança oferece tiros ao invés de garantia da vida.

Em 24 de janeiro, uma megaoperação das Polícias Civil e Militar terminou com 11 vítimas de balas perdidas, no Complexo do Alemão, na Zona Norte do Rio. Um dos atingidos é o jardineiro Carlos André Vasconcelos Santos, 35 anos. Ele tomava café, quando levou um tiro e morreu. Wander Souza dos Santos, 21 anos, foi atingido quando estava dentro de sua casa, assim como Isnaia Rangel de Souza, 60 anos.

Das 41 registradas em 2025, 28 são adultos, sete idosos, três adolescentes e outras três crianças. Dessas, nove vítimas foram atingidas enquanto estavam dentro de casa.

Não estamos tratando somente de números, falamos de famílias que perderam um pai, um filho, um avô. De pessoas que não se sentem seguras para levar um filho à escola, passear pela rua onde moram ou esperar uma carona. São pessoas que viraram estatísticas por parar para tomar um café antes de ir para o trabalho ou por sentar no sofá para assistir televisão.

Em um país onde os dados oficiais sobre violência armada são escassos, fragmentados ou simplesmente inexistentes, o Instituto Fogo Cruzado se estabeleceu como a única fonte que realiza esse monitoramento sistemático e detalhado, em tempo real. Nossa metodologia inclui não apenas a contagem de casos, mas a identificação das circunstâncias, locais e perfis das vítimas, permitindo uma compreensão mais profunda desse fenômeno devastador, que o governo do estado do Rio de Janeiro deixou de divulgar em 2012.

A região metropolitana do Rio de Janeiro acumula vítimas de balas perdidas de forma preocupante, principalmente quando comparamos com outras regiões monitoradas pelo Fogo Cruzado. Na região metropolitana do Recife, registramos 14 vítimas de balas perdidas esse ano, das quais dois casos aconteceram durante operação ou ação policial. Em Salvador e região metropolitana, foram registrados quatro casos, dois deles em ação ou operação policial. Já na região metropolitana de Belém, foram registradas três vítimas por bala perdida e, mais uma vez, somente um caso em ação ou operação policial.

Esse número alto de casos de balas perdidas no Grande Rio nos leva a questionar: qual o verdadeiro custo humano de uma política de segurança pública baseada no confronto? Os números mostram que precisamos urgentemente repensar nossas estratégias de segurança pública. Porque cada bala perdida encontra um destino — e esse destino tem nome, história e uma vida que jamais será a mesma.

Um abraço,

Terine Coelho
Gerente de pesquisa do Instituto Fogo Cruzado


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O PROARMAS no Congresso Nacional
Nos últimos anos, o debate sobre armamento civil migrou do campo da segurança pública estritamente para se tornar um poderoso catalisador político no Brasil. Nesse contexto, o PROARMAS, movimento civil pró-armamento que se inspira na National Rifle Association (NRA) dos Estados Unidos — poderosa organização de lobby americana —, ganhou destaque. O movimento apoiou candidaturas nas eleições de 2022 e 2024 e mostrou sua força. Em 2022, ajudou a eleger 22 parlamentares — 15 deputados federais e 7 senadores — somando 18,6 milhões de votos. Em 2024, foram eleitos 46 vereadores e 11 prefeitos com o apoio do Proarmas.

Depois de eleitos, como esses políticos trabalham? Em quais áreas atuam? Para responder a essas perguntas, o Instituto Fogo Cruzado produziu uma pesquisa que lança hoje: "PROARMAS no Congresso Nacional: uma análise da atuação parlamentar”. O relatório é um desdobramento da investigação “O que o Congresso Nacional fala sobre armamento civil?”, lançada em 2024.

A pesquisa foca nos projetos de lei propostos por deputados e senadores eleitos com o apoio do PROARMAS nos dois primeiros anos de legislatura. Para isso, criamos um banco com 739 PLs, categorizados em 27 temas.

Os dados indicam que a produtividade desses parlamentares é significativamente superior à média do Congresso Nacional, no que diz respeito à proposição de Projetos de Lei. Enquanto a média geral foi de 19 PLs por congressista nos dois anos analisados, o grupo apoiado pelo PROARMAS protocolou uma média de 32 PLs por autor, representando um volume 68% acima da média geral do parlamento.

No entanto, o que chama atenção não é somente o volume de proposições, mas o contraste entre essa alta produtividade e a baixa efetividade legislativa. Apenas quatro projetos foram transformados em Lei Ordinária — e nenhum deles relacionado à pauta armamentista. A pouca efetividade contrasta com a alta produtividade, sugerindo que o real objetivo pode não ser a aprovação das leis em si, mas a manutenção do debate no espaço público e a mobilização constante de apoiadores.

Contrariando o que o senso comum poderia sugerir, os parlamentares eleitos com apoio do PROARMAS não atuam com foco em armamento civil. A bancada das armas chegou para engrossar a antiga bancada da bala. Os principais temas dos projetos analisados estão relacionados à segurança pública e código penal.

Um dado que chama atenção é o fato de que esses parlamentares desenvolvem muitas propostas focadas em discussão de gênero e infância. Há projetos para criminalizar discussões sobre identidade de gênero, vetar “atividades pedagógicas de gênero” nas escolas, proibir tratamentos médicos para jovens transgêneros e impedir a participação de menores em eventos LGBTQIA+.

Outra tendência que emergiu da análise foi a instrumentalização de problemas sociais complexos para justificar a flexibilização do acesso ao armamento. Destacam-se os projetos que concedem prioridade e isenção fiscal para mulheres vítimas de violência na aquisição de armas, propostas que autorizam o porte de armas para professores e funcionários escolares, além da obrigatoriedade de segurança armada em instituições de ensino.

Esses são alguns destaques da pesquisa, mas você pode ler o texto completo aqui. Vale lembrar que o Fogo Cruzado atua para oferecer subsídios para um debate público mais informado, baseado em evidências. Por isso o tema do armamento civil nos preocupa tanto. 

Ele está conectado com um dos maiores desafios do nosso tempo: o alto número de mortes violentas. E torna-se ainda mais relevante no contexto de crescimento de forças políticas que se levantam contra o Estado de Direito. Ou seja, os dados são importantes para um debate público qualificado sobre segurança pública, mas também sobre a preservação da ordem democrática.

Boa leitura,

Terine Coelho
Gerente de pesquisa do Instituto Fogo Cruzado


Iris Rosa
Pesquisadora do Instituto Fogo Cruzado


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Sobre “pilantras” dos ovos, cafezinho caro e falsos profetas

Se o presidente Lula quiser recuperar a popularidade, vai ter que fazer bem mais do que apontar o dedo para os “pilantras dos ovos”. A alta na alimentação é uma tendência global e no país do agronegócio a crise dos preços dos ovos, do café, do cacau e de outros itens bem brasileiros tem contornos próprios. De 2012 para cá, o preço dos alimentos subiu 162% no país, e a tendência, infelizmente, é de alta nos próximos anos. 

O vilão é o clima, ou melhor, as mudanças que o nosso modo de vida vem trazendo para o planeta. O calor, a seca ou as chuvas excessivas afetam a produtividade das lavouras, como aconteceu com o café por aqui, já inflacionado pela quebra da safra no Vietnã, o segundo maior produtor do mundo, atrás apenas da gente. 

Com o café brasileiro impactado principalmente pelo calor e a estiagem no Sudeste, produzimos quase 2% a menos do que no ano anterior, contrariando as expectativas. Explico: o café, essa substância mágica que nos ajuda a viver, tem uma característica singular, chamada de bienalidade, e, depois da decepção de 2023, se esperava uma colheita maior em 2024. 

E aí entra outro fator tão global quanto a emergência climática: as commodities. Se falta o café asiático e a produção brasileira é menor, o preço sobe, e os cafeicultores – que estão rindo à toa – vão vendendo o produto aos poucos para segurar a alta. O preço mundial do café subiu quase 38,7% em 2024 em relação ao ano anterior. No Brasil, terra do cafezinho, o aumento foi de 66,18% no acumulado em 12 meses em fevereiro de 2025. 

Com os ovos – alta de mais de 40% – a situação é semelhante pelas mesmas razões de fundo, embora com características diferentes e consequências ainda mais preocupantes, como mostra o episódio desta semana do videocast/podcast Bom dia, Fim do Mundo (não vou dar spoiler, ouça lá rs). 

Pelo menos desde 2022, como mostra essa reportagem da Agência Pública, o calor vem prejudicando a produtividade das galinhas – que comem menos, botam menos ovos, e com a casca mais fininha, o que traz perdas no armazenamento e transporte. 

Além disso, a ração das galinhas poedeiras é composta basicamente de soja e milho, duas commodities que subiram de preço também por questões climáticas – o que inclui a catástrofe no Rio Grande do Sul, além da estiagem no Centro-Oeste. 

Ou seja, produzir ovos ficou mais caro e a produtividade caiu; dois fatores que impulsionaram a alta com uma pitada de “pilantragem” depois da explosão dos preços dos ovos nos Estados Unidos, que vivem um surto de gripe aviária. E nem foi por causa da venda de ovos para o país de Trump, que cresceu mais de 60% nos últimos meses. Afinal, ainda assim, 99% da nossa produção vão para o mercado interno, ou seja, há mais especulação do que exportação.

 Para além das apostas do mercado e de características próprias dos produtos em alta (câmbio, sazonalidade, tipo de transporte etc.), o certo é que os governos – Lula e os que virão depois – terão que lidar com uma realidade climática em que comer custa caro. Isso em um quadro de crescimento da desigualdade, o que aumenta a preocupação com a segurança alimentar das famílias brasileiras.
Não é à toa que o presidente escolheu os ovos como objeto de sua indignação: essa é a proteína de qualidade mais barata do mercado e a mistura mais comum no nosso arroz e feijão de todo dia. 

Mas, se a tendência dos preços dos alimentos segue em alta junto com a emergência climática, também há luz no fim do túnel, como diria nosso anjo Gabriel no podcast Bom dia, Fim do Mundo (se você não entendeu a brincadeira, ouça o podcast rs). Nesta quarta-feira (19), o MST celebrou a safra de 14 mil toneladas de arroz agroecológico no Rio Grande do Sul, depois de uma queda de 50% na produção do ano passado por causa das enchentes. 

“A utilização dos bioinsumos pelos agricultores, tanto na produção de hortaliças quanto na produção de arroz, ajudou na recuperação desse solo. O cuidado com a terra, com a natureza, já é uma prática dos agricultores”, explicou Nelson Luiz Krupinski, do setor de produção do MST-RS, à coluna de Míriam Leitão.

Para conter os preços e garantir a segurança alimentar dos brasileiros, o governo tem que investir na transição energética, incentivar a inovação e tecnologia para criar sementes e lavouras mais resilientes, dar mais crédito para a agricultura familiar e de baixo carbono, manter e gerenciar estoques, enfim, adotar políticas públicas eficazes

Nada que a taxa Selic, que chegou a 14,25% nesta semana, possa resolver, como me explicou a pesquisadora Clara Brenck, do Centro de Pesquisa em Macroeconomia das Desigualdades da USP. Isso porque a inflação dos alimentos é motivada pela escassez da oferta, que tem como principal fator as mudanças climáticas. 

“O Banco Central usa os juros para controlar a inflação, mas isso funciona quando é uma inflação de demanda, e, nesse caso, é uma inflação de oferta. Então você usa o instrumento de aumentar os juros para desaquecer a economia para diminuir a demanda e reduzir a inflação dos preços, mas não resolve a inflação dos alimentos e encarece o crédito para investir em capacidade, produtividade, adaptação nas culturas”, esclarece Brenck. 

Ou seja, para quem gasta quase todo o salário no supermercado só fica pior. Sem falar em um governo, já com os recursos canibalizados pelo Congresso, que fica cada vez mais endividado em um cenário em que precisamos de mais – e melhores – políticas públicas. 

Lembre-se disso quando escutar as vozes do mercado amplificadas no noticiário. A emergência climática não é mais um assunto restrito a ambientalistas e cientistas, como sabem agrônomos, economistas, povos tradicionais e agricultores familiares de todo o país. Aliás, é para tirar as mudanças climáticas do cercadinho dos especialistas que fazemos o Bom dia, Fim do Mundo. Já falei para você ouvir?

PS. O Bom dia, Fim do Mundo é apresentado por Ricardo Terto, Giovana Girardi e eu. Vai ao ar todas as quintas-feiras cedinho nos tocadores de podcast e no YouTube da Pública. Nos vemos lá!


Marina Amaral
Diretora Executiva da Agência Pública

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Radicalmente moderado
 

Olá, enquanto Trump vai à guerra e o centrão incomoda no Congresso, Lula renova os votos de paz e amor.

 

.Tá ruim, mas tá bom. A última pesquisa DataFolha mostra que a sangria do governo pode ter chegado ao fim. O número de eleitores que consideram o governo ótimo ou bom passou de 24% para 29% em relação a fevereiro, e os que consideram ruim ou péssimo passaram de 41% para 38%. Não dá pra dizer que é um desempenho bom, mas aponta uma reversão na tendência de queda na popularidade dos últimos meses. Na avaliação de Aldo Fornazieri, três fatores explicam o resultado. Em primeiro lugar, o susto das pesquisas fez Lula e seus ministros se mexerem e mostrarem serviço. Contribuiu também o impacto do indiciamento de Bolsonaro e a consequente desmoralização da oposição. Resultado disso é a dificuldade de Tarcísio de Freitas apresentar-se como uma candidatura viável para 2026. E no cenário externo, o perfil insano de Trump e sua guerra tarifária talvez tenha feito uma parcela dos eleitores reconsiderarem as vantagens de um presidente moderado e racional, além das oportunidades que se abrem para o Brasil se afastar dos Estados Unidos e se aproximar da China e da Europa. Mesmo com o respiro nas pesquisas, o jogo não está ganho. O principal problema é que a médio e longo prazo as notícias não são boas. A inflação dos alimentos tem sido resiliente, afetando a segurança alimentar da maioria da população. Assim como, nos cálculos Unctad, o PIB do Brasil deve ser impactado pela crise mundial este ano, com um crescimento módico de 2,2%, bem inferior aos 3,4% estimados para o ano passado. E, mesmo que a ampliação das isenções no Imposto de Renda saia do papel, o desmonte dos direitos trabalhistas, agora com uma pejotização generalizada liderada pelo STF, só promete trazer mais precariedade para um cenário já desastroso.

 

.Tem, mas acabou. A apresentação do Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias para 2026 traz uma triste constatação: o Estado brasileiro existe, mas não por muito tempo. O PLDO prevê que o país terá um microscópico crescimento do PIB de 0,25% e alcançará um superávit primário de R$ 38,2 bilhões em 2026. Na verdade, a meta do arcabouço seria um superávit de R$ 34,3 bilhões, mas o governo prevê que entregará mais do que foi pedido, confiando que vai aumentar a arrecadação, contando obviamente com a aprovação da taxação dos super ricos. Para 2027, a situação muda, porque aí entram na conta os precatórios que, até o próximo ano, não serão contabilizados no ajuste fiscal. O pior é que a previsão do governo é de superávits crescentes: R$ 73,4 bilhões (0,5% do PIB) em 2027, R$ 157,3 bilhões (1% do PIB) em 2028 e , em 2029, R$ 210,7 bilhões (1,25% do PIB). Já as despesas obrigatórias (pessoal, encargos sociais e previdência) devem cair gradualmente de 17,4% do PIB em 2026 para 16,8% em 2029. E o pagamento da dívida interna só cairia do patamar de 80% do PIB lá por 2035. Mesmo com um Estado mínimissímo e que garante o serviço da dívida, juros altos e o sacrossanto arcabouço fiscal, nem assim o mercado financeiro descansa. Bastou o governo protocolar o PLDO para a Faria Lima, através da mídia, chiar que o governo não vai cumprir a meta e que deveria fazer ainda mais cortes nos investimentos. O alvo do mercado financeiro é o combalido salário mínimo - que em 2026 deve ser de R$1.630 - como expressou sem constrangimentos o ex-presidente do BC, Armínio Fraga, que propôs um congelamento salarial de 6 anos para os trabalhadores.


.História sem fim. Apesar da falta de apoio popular, a anistia dos golpistas seguirá em pauta na conjuntura política por algum tempo. Afinal, se a longo prazo é a esperança de alguma jurisprudência que possa salvar Jair Bolsonaro, a curto prazo é o tema que a extrema-direita encontrou para ocupar a agenda política, tomando o lugar de debate de projetos do interesses do governo, como a PEC da segurança ou a isenção do Imposto de Renda. E, nisso, estão sendo bem sucedidos. Graças à sagacidade do líder do PL, Sóstenes Cavalcanti, que não apenas conseguiu protocolar o pedido de urgência na votação com mais assinaturas do que o necessário, como provocou fissuras na base governista, já que mais da metade dos assinantes são de partidos com cargos na Esplanada dos Ministérios. Se até aqui o governo não havia testado sua base sob a gestão de Hugo Motta, agora sabe que nada mudou em comparação aos tempos do toma-lá-da-cá de Arthur Lira. Mais do que uma traição, a adesão ao projeto também é uma forma do Congresso, ainda magoado pela disputa das emendas, bater no STF. Depois de perder tempo sem entrar em campo para retirar as assinaturas dos aliados, o Planalto levou uma bronca do STF e recebeu o recado de Hugo Motta de que não vai ficar sozinho com esta bomba na mão. Correndo atrás do prejuízo, o governo agora trabalha com um mapa de cargos na mão para que deputados da base que assinaram votem contra a urgência em plenário ou ainda que subscrevam outro ofício pedindo a retirada da urgência. Em caso de outra derrota, o Planalto e Hugo Motta já admitem a aprovação do projeto de anistia desde que exclua Bolsonaro e os generais que comandaram o golpe. Tanto essa proposta quanto a revisão das penas é duramente rechaçada pelo STF. Sobraria ainda, com uma derrota na Câmara, tentar enterrar o projeto no Senado.

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    Você sabe com quem está falando?

 O mercado e o centrão usam o velho carteiraço para desafiar o governo.


 

.O último acampamento bolsonarista. No início do terceiro mandato, o Planalto nutriu uma ilusão de que seduziria novamente a Faria Lima com uma proposta de crescimento econômico baseado no ganha-ganha para bancos, indústrias e trabalhadores. Não funcionou, porque na prática, o mercado financeiro que Lula III encontrou é mais ideologizado, mais ganancioso e irredutível. Como se viu nesta semana em que, mesmo com os esforços para votar o pacote de ajustes, o rentismo decidiu punir o governo com uma disparada especulativa do dólar. Mas por quê? Afinal, como demonstra Miriam Leitão, a situação fiscal não é exatamente crítica, as previsões da dívida pública e do déficit primário são menores do que o mercado previa e o PIB maior que as expectativas. A meta da inflação estourou, é verdade. Como estourou em três dos seis anos de mandato de Campos Neto. O problema é que o mercado financeiro acha insuficiente o corte de gastos, não concorda com a isenção do Imposto de Renda e não quer nem ouvir falar em taxação de super-ricos no próximo ano. E não admitem que o governo tomou estas decisões sem consultá-los. Para isso, a Faria Lima usou desde a ferramenta recorrente da extrema-direita, as fake news, ao sofisticado cartel do mercado combinado com um terrorismo fiscal do fiel Campos Neto. Enquanto o refém não ampliar a tesoura dos investimentos sociais, o sequestrador não vai sossegar. Existe saída? Para Eduardo Moreira, passa por acabar com o arcabouço fiscal que empoderou a chantagem da Faria Lima, assim como o regime de meta inflacionária, como sugere Luís Nassif. São medidas para longo prazo e que poderiam começar por reassumir a presidência do Banco Central. Mas, se depender da afinação de Galípolo com Campos Neto, o pesadelo continua em 2025.


 .Novo Cangaço. Essa é a tática do mercado e do centrão para extorquir o governo e saquear o país. O mercado, especulando abertamente com o dólar para exigir corte de gastos, e Arthur Lira, especulando com as votações no Congresso para manter o controle sobre as emendas. Esse foi o custo para que o governo não acabasse o ano em clima de paralisia e fracasso. O problema é que 2024 chega ao fim em sentimento de nostalgia quanto ao sonho de tempos melhores. É verdade que o Lula fez mais que os antecessores, mas a perspectiva de começar a mostrar resultados ficou para trás. Principalmente porque as pautas do governo foram abafadas pelas do mercado e do Congresso. A pobreza diminuiu, mas e daí? O tema não dá manchetes. Por ora, a batalha contra os juros altos parece vencida. Mas o arroz com feijão da política foi entregue: reforma tributária, OK; corte de gastos, OK; Lei de Diretrizes Orçamentárias, OK. Lula evitou uma crise de paralisia. Mas caiu numa crise de identidade. Afinal, mesmo onde teve sucesso, como na reforma tributária, o saldo é controverso, a exemplo de medidas como a redução da tributação sobre armamentos e agrotóxicos. Além disso, quem ficou com os méritos de bom articulador foi Arthur Lira. Mais do que isso, o cacique alagoano conseguiu arrastar o governo para seu próprio esquema e, agora, é o Executivo quem joga ao lado do centrão contra o STF, defendendo o sigilo das emendas. E quem paga a conta é o próprio governo - só a aprovação de uma das medidas de ajuste fiscal esta semana custou R$ 7,7 bilhões aos cofres públicos. O problema é que o mercado e o centrão já farejaram que o governo é fraco e a sangria não vai parar por aqui. O sinal veio com mais uma onda de especulação, dessa vez sobre uma suposta reforma ministerial, que é a nova profecia que deve se realizar: tirar ministérios do PT para acomodar o centrão, inclusive a bancada evangélica.

 

.O golpista do ano. Apesar da forte concorrência, o prêmio vai para o general Braga Neto, já que ele protagonizou o feito inédito de ser o primeiro quatro estrelas da história preso num país marcado pela impunidade da elite verde-oliva. As investigações da Polícia Federal apontam que o ex-candidato à vice-presidência seria o intermediário do financiamento do golpe, levando dinheiro vivo doado pelo agronegócio ao major Rafael de Oliveira, que posteriormente usou parte dos recursos para comprar celulares utilizados pelos conspiradores. Mas não foi só isso. O que precipitou sua prisão foi a tentativa de influenciar os depoimentos do delator Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro. Agora, o destino do general é incerto. Mas levando em conta o tratamento vip que ele tem recebido na prisão administrada por seus próprios companheiros de farda na Zona Oeste do Rio de Janeiro, ele não tem muito com o que se preocupar. Mais importante são as repercussões para outros personagens e para as forças armadas em geral. Como nem o procurador-geral da República, Paulo Gonet, nem o ministro do Supremo, Alexandre de Moraes, tirarão férias em janeiro, a expectativa é que novas prisões sejam realizadas, e alguns possíveis alvos são o “cara do agro” que intermediava a participação do setor na trama golpista, o gen. Heleno e o próprio Bolsonaro, sem contar a possibilidade de cassação do mandato da deputada Carla Zambelli (PL-SP). Nada disso, porém, intimida o general Mourão, que aproveitou a tribuna do Senado para defender Braga Neto e mostrar-se fiel, não ao bolsonarismo, mas ao verde-olivismo golpista raiz. Outro efeito indireto da desmoralização dos militares é a releitura do alcance da Lei da Anistia de 1979 que, segundo o ministro do STF Flávio Dino, não tem validade para os casos de ocultação de cadáver caracterizados como “desaparecidos”. Por fim, a prisão até ajudou porque, depois de muito esperneio, os militares finalmente aceitaram negociar com o governo o corte de algumas regalias na área da previdência e no fundo das forças armadas que devem gerar uma contribuição de R$ 16 bilhões para o ajuste fiscal

 

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