ECONOMIA


 



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O livro que explica por que 1,4 bilhão de pessoas escaparam da pobreza

    

(E que Joseph Stiglitz citou para derrubar o neoliberalismo)


Qual é o livro mais subestimado e poderoso sobre economia política dos últimos 20 anos?

A maioria dos líderes empresariais e formuladores de política nunca ouviu falar dele. Joseph Stiglitz o citou para defender alternativas ao neoliberalismo. Ganhou 2 prêmios internacionais de economia. Suas ideias explicam o maior milagre econômico da história moderna. E contém insights que podem transformar como você pensa sobre desenvolvimento, estratégia empresarial e crescimento econômico.

O livro é "Como a China Escapou da Terapia de Choque", de Isabella Weber. Hoje vou explicar por que esta obra é essencial para qualquer pessoa séria sobre entender como economias realmente crescem - e por que você deveria lê-la imediatamente.

Vamos mergulhar!

Isabella Weber começou como uma jovem pesquisadora alemã - e acabou descobrindo segredos que mudaram a economia mundial.

Isabella Weber economista autora livro Como China Escapou Terapia Choque
Isabella Weber economista autora livro Como China Escapou Terapia Choque

A credibilidade da autora é impressionante, mas poucos conhecem sua história.

Weber é economista de elite: PhD pela Cambridge University, orientada por Peter Nolan (consultor direto do governo chinês), professora na Universidade de Massachusetts, e especialista reconhecida em economia política chinesa. Mas o que a torna única é sua metodologia. Ela passou anos entrevistando burocratas chineses dos anos 80-90, acessando arquivos internos inéditos e traduzindo documentos em chinês que nunca foram disponibilizados ao Ocidente.

Foi isso que lhe deu acesso exclusivo à verdade por trás do "milagre" chinês. E a verdade é bem diferente da narrativa ocidental.

Seu trabalho foi tão inovador que ela foi eleita para a lista "Times Next 100" - as 100 pessoas mais importantes do planeta. Ela também travou debates públicos com Paul Krugman (Nobel de Economia) e Olivier Blanchard sobre controle de preços, provando que suas ideias não são marginais - são mainstream entre os economistas mais respeitados do mundo.

O livro destrói mitos fundamentais sobre como países realmente se desenvolvem.

"Como a China Escapou da Terapia de Choque" revela como a China rejeitou completamente a ortodoxia neoliberal dos anos 80-90.

Enquanto Rússia e Leste Europeu seguiram o "Big Bang" econômico recomendado por Milton Friedman e colapsaram, a China escolheu gradualismo pragmático. O resultado? A China multiplicou suas exportações por 80x, cresceu 1.800% em 40 anos, e se tornou a maior economia do mundo. A Rússia perdeu 50% do PIB nos anos 90 e só recuperou os níveis de 1990 em 2015.

Weber mostra com evidências primárias inéditas que:

  • A China quase adotou terapia de choque em 1988 - e isso causou inflação de 25% e contribuiu para os protestos da Praça da Paz Celestial

  • Deng Xiaoping reverteu imediatamente as políticas liberalizantes após ver o caos social

  • O modelo híbrido chinês combinou controle estatal estratégico com dinamismo de mercado seletivo

  • 95-100 empresas estatais continuam controlando setores-chave até hoje

É o manual definitivo sobre como 1,4 bilhão de pessoas escaparam da pobreza sem seguir Washington

Redução pobreza extrema China 98% para 0% entre 1981-2025 versus mundo

Este livro é essencial porque oferece evidências práticas de que existem alternativas reais ao modelo neoliberal.

Aqui estão 5 razões pelas quais você deve ler esta obra:

Primeira razão: Destrói mitos sobre desenvolvimento econômico. Weber prova com fontes primárias que o sucesso chinês não veio da "adoção do capitalismo", mas da criação de um modelo híbrido próprio que manteve o Estado no comando de setores estratégicos.

Segunda razão: Mostra alternativas práticas ao Consenso de Washington. Enquanto países que seguiram privatização + liberalização + ajuste fiscal enfrentaram décadas de crises (Argentina 2001, Brasil estagnação, México 1995), a China prosperou fazendo exatamente o oposto.

Terceira razão: Explica por que a Rússia falhou e a China triunfou. A comparação detalhada entre gradualismo chinês e terapia de choque russa oferece lições fundamentais sobre gestão de transições econômicas complexas.

Quarta razão: Baseado em evidências inéditas que ninguém mais teve acesso. Weber entrevistou dezenas de burocratas que estavam nas salas onde as decisões foram tomadas, acessou documentos internos, e trabalhou com fontes primárias em chinês.

Quinta razão: Oferece insights aplicáveis para estratégia empresarial. Os princípios de gradualismo, experimentação controlada, e hibridismo pragmático que a China usou para se desenvolver são diretamente aplicáveis para empresas navegando transformações complexas.

O modelo chinês não foi sorte - foi estratégia baseada em 3 pilares que Weber identificou com precisão cirúrgica.

Weber descobriu que existem 3 segredos fundamentais que explicam o milagre chinês:

Pilar 1: Gradualismo Pragmático. A China rejeitou liberalização total imediata e criou o "Sistema Dual Track" - preços controlados para produtos essenciais, preços livres para não-essenciais. Resultado: construiu capacidade produtiva antes de liberalizar, evitando choques desestabilizadores.

Pilar 2: Estado como Protagonista. A China não "deixou o mercado funcionar 100% livre" - usou o mercado como ferramenta coordenada pelo Estado. Manteve controle de energia, telecomunicações, bancos e infraestrutura. Criou zonas especiais para testar políticas antes de expandir nacionalmente.

Pilar 3: Controle Estratégico de Preços. Enquanto outros países liberalizaram tudo simultaneamente, a China manteve regulação seletiva de commodities essenciais e energia. Isso garantiu estabilidade social enquanto permitia competitividade internacional.

Estes princípios construíram a segunda maior economia do mundo porque atacam a psicologia do desenvolvimento: gradualismo reduz choques sociais, Estado coordena melhor que mercado caótico, e controle seletivo evita crises sistêmicas.


"Como a China Escapou da Terapia de Choque" prova definitivamente que há alternativas viáveis ao neoliberalismo.

Para líderes empresariais navegando transformações complexas, oferece um roteiro prático sobre como gerenciar mudanças sem destruir o que já funciona. Para formuladores de política, demonstra que desenvolvimento requer estratégia própria, não seguir receitas externas. E para professores há nesse livro uma fonte robusta de conhecimento para os seus estudantes!

A China não seguiu manuais ocidentais - criou seu próprio modelo. E funcionou melhor que qualquer outro experimento de desenvolvimento dos últimos 50 anos.

Se você se importa com entender como crescimento econômico realmente acontece, este livro é leitura obrigatória.

P.S.: O livro está disponível em português como "Como a China Escapou da Terapia de Choque". É denso mas recompensador - especialmente os capítulos sobre o Sistema Dual Track e a crise de Tiananmen. Vale cada página.

Abraços,

Paulo Gala

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3 erros fatais do Ocidente que permitiram o domínio chinês    

Enquanto os EUA gastavam trilhões em guerras, a China conquistava o Sul Global com estradas e pontes


O Império da Infraestrutura: O Xadrez Geopolítico que o Ocidente Não Compreendeu

Enquanto os EUA gastavam trilhões em guerras, a China conquistava o Sul Global com estradas e pontes

lá!

Você já se perguntou como, enquanto o mundo assistia às guerras no Iraque e Afeganistão, a China silenciosamente construía seu império global?

Este é um jogo de xadrez geopolítico que o Ocidente simplesmente não compreendeu: enquanto os EUA gastavam mais de US$ 8 trilhões em conflitos militares desde 2001, a China investia em algo muito mais poderoso e duradouro - infraestrutura. Não se conquista o século XXI com tanques e mísseis, mas com portos, ferrovias, pontes e redes digitais.

A Iniciativa Cinturão e Rota não é apenas o maior projeto de infraestrutura da história da humanidade - é a mais brilhante jogada estratégica dos últimos 50 anos. E só foi possível graças a três erros fatais cometidos pelo Ocidente, que permitiram à China:

  • Estabelecer controle de pontos estratégicos em mais de 150 países

  • Criar dependência econômica de dezenas de nações emergentes

  • Garantir acesso prioritário a recursos naturais cruciais

  • Redesenhar completamente as rotas comerciais globais com Pequim no centro

Hoje, vou explicar exatamente quais foram esses três erros fatais que escaparam da compreensão ocidental e por que a estratégia de infraestrutura chinesa mudou fundamentalmente o equilíbrio de poder global.

Imagem mostrando mapa das novas e antigas rotas terrestres e marítimas da Iniciativa Cinturão e Rota da China conectando Ásia, Europa e África

Como podemos ver neste mapa, a China está recriando e expandindo as antigas rotas da Seda, tanto terrestres quanto marítimas, conectando a Ásia, Europa e África em uma rede de comércio e infraestrutura sem precedentes. Observe como estas rotas estrategicamente contornam pontos de controle ocidentais tradicionais e estabelecem novos corredores econômicos.

Vamos analisar esta jogada magistral.

Erro fatal #1: Apostar em guerras enquanto a China apostava em infraestrutura.

O primeiro e mais grave erro estratégico do Ocidente no século XXI foi não compreender que o poder global mudou de natureza. Enquanto os EUA e aliados apostavam em soluções militares para problemas complexos, a China focou em algo muito mais fundamental: infraestrutura.

Os números são impressionantes: enquanto os EUA gastaram mais de US$ 2 trilhões apenas no Afeganistão, a China investiu US$ 59 bilhões em portos estratégicos ao redor do mundo. Enquanto as potências ocidentais enviavam tropas e drones, a China enviava engenheiros e trabalhadores. O Ocidente destruía; a China construía.

Imagem mostrando gráficos de investimentos chineses por setor na Iniciativa Cinturão e Rota desde 2013 até 2024, com energia e transportes liderando
fonte: https://greenfdc.org/china-belt-and-road-initiative-bri-investment-report-2024/

Como mostram estes gráficos, a China focou seus investimentos principalmente em setores estratégicos como energia, transportes, mineração e tecnologia.

Desde 2013, o volume de recursos direcionados a áreas fundamentais para o desenvolvimento econômico cresceu exponencialmente, com prioridade clara para infraestrutura energética e de transporte - exatamente o que o Sul Global mais necessitava.

Esta jogada não foi improvisada - foi meticulosamente calculada. A China identificou um vácuo deixado pelo Ocidente: a falta crônica de investimentos em infraestrutura no Sul Global. O Banco Mundial estima que existe uma lacuna de infraestrutura de aproximadamente US$ 1,5trilhões por ano em países em desenvolvimento. A China não viu isso como um problema, mas como uma oportunidade estratégica perfeita.

O resultado deste movimento no tabuleiro global? Mais de 2.600 projetos em andamento que transformam não apenas economias locais, mas criam relações de dependência que durarão décadas.

Cada porto, ferrovia e ponte é uma peça estratégica no tabuleiro que garante influência chinesa a longo prazo.

Enquanto o Ocidente gastava trilhões em guerras sem fim e sem vitórias claras, a China investia em ativos que geram retornos econômicos e geopolíticos por gerações.

Erro fatal #2: Impor condições políticas rigorosas enquanto a China oferecia "não-interferência".

O segundo erro crucial do Ocidente foi não perceber que seu modelo de desenvolvimento condicionado estava alienando o Sul Global e abrindo espaço para a abordagem chinesa de "não-interferência".

Durante décadas, instituições como FMI e Banco Mundial impuseram condições rigorosas para financiamentos: austeridade fiscal, privatizações, liberalização econômica e reformas políticas. A China revolucionou este modelo com sua política de "não-interferência nos assuntos internos" - um conceito radicalmente diferente do "desenvolvimento condicionado" ocidental.

Imagem mostrando gráfico do aumento da dívida pública em países participantes da Iniciativa Cinturão e Rota, com Djibouti e Tajiquistão ultrapassando 80% do PIB

Este gráfico mostra a contrapartida dessa política de "não-interferência": o aumento significativo no endividamento público dos países participantes da BRI.

Nações como Djibouti, Tajiquistão, Laos e Montenegro viram suas dívidas públicas dispararem após aderirem à iniciativa. É o que críticos chamam de "armadilha da dívida" - mas mesmo assim, muitos países preferem este modelo ao condicionamento político ocidental.

Em termos práticos, isso significa que quando a Tanzânia precisava de uma nova ferrovia mas não queria privatizar suas empresas estatais, a China financiou o projeto sem questionar. Quando o Sri Lanka necessitava de um porto moderno mas não podia implementar as reformas exigidas pelo FMI, a China ofereceu os recursos sem exigências políticas.

Este movimento estratégico permitiu que a China estabelecesse parcerias com regimes de todos os tipos, desde repúblicas africanas até monarquias ricas em petróleo no Oriente Médio. A mensagem era clara: "Não nos importamos como você governa, apenas queremos construir infraestrutura e estabelecer laços econômicos."

A jogada foi brilhante porque ofereceu uma alternativa ao que muitos países do Sul Global consideravam "neocolonialismo ocidental" - e eles aderiram em massa a esta nova proposta. O Ocidente, apegado a seu modelo de condições políticas, falhou em perceber que estava perdendo aliados estratégicos por décadas.

Erro fatal #3: Focar no curto prazo enquanto a China executava uma estratégia de décadas.

O terceiro erro fatal do Ocidente foi operar dentro de uma lógica de curto prazo, enquanto a China implementava uma estratégia com horizonte de décadas.

A disparidade de visão temporal é evidente: líderes ocidentais priorizam ciclos eleitorais de 4-5 anos, empresas focam em relatórios trimestrais, e projetos de desenvolvimento exigem retornos rápidos. A China, por outro lado, opera dentro de planos quinquenais que se encaixam em estratégias de 30-50 anos.

Esta diferença fundamental permitiu que a China:

  • Investisse em projetos de infraestrutura com payback de décadas, não anos

  • Aceitasse perdas financeiras iniciais em troca de ganhos geopolíticos a longo prazo

  • Construísse relacionamentos sistêmicos com países em desenvolvimento, não apenas transações pontuais

  • Desenvolvesse uma visão integrada onde cada projeto individual faz parte de uma estratégia global coerente

A China construiu a maior base industrial do planeta, com uma produção industrial de US$ 4,6 trilhões (comparada aos US$ 2,4 trilhões dos EUA). A BRI funciona como um gigantesco sistema de distribuição para esse poder industrial, criando uma rede econômica com a China no centro.

Os resultados são inegáveis: o comércio entre a China e os países da BRI cresce a taxas três vezes maiores que o comércio global médio. Novas rotas comerciais foram estabelecidas, contornando estrategicamente os tradicionais pontos de controle ocidentais. O Yuan avança como moeda de comércio internacional, desafiando diretamente a hegemonia do dólar.

O Ocidente, concentrado em sua visão de curto prazo e em retornos financeiros imediatos, não percebeu que estava perdendo o controle das peças mais importantes do tabuleiro global para um jogador que planeja cada movimento com décadas de antecedência.

Em uma recente palestra que dei, reencontrei um ex-aluno que dedicou três anos ao estudo sistemático do modelo de desenvolvimento chinês desde 1978. Ele explicou como essa compreensão mudou completamente sua capacidade de analisar tendências globais e identificar oportunidades estratégicas para empresas e nações, tornando-o um consultor requisitado por organizações internacionais que buscam navegar esta nova paisagem econômica.

O contra-ataque tardio: as respostas ocidentais insuficientes.

Quando finalmente o Ocidente percebeu a magnitude desses três erros estratégicos, suas tentativas de contra-ataque foram tardias e insuficientes.

O B3W (Build Back Better World) dos Estados Unidos e o Global Gateway da União Europeia surgem como respostas diretas à BRI, mas com orçamentos significativamente menores e ainda presos à mesma mentalidade de curto prazo. É como tentar recuperar peças quando o oponente já controla o centro do tabuleiro.

A estratégia ocidental de desacreditar a BRI como uma "armadilha da dívida" encontra pouca ressonância no Sul Global. Quando populações locais podem literalmente dirigir em estradas modernas, usar aeroportos recém-construídos e ter acesso a energia elétrica estável pela primeira vez, argumentos sobre "neocolonialismo econômico" soam como uvas azedas de potências em declínio.

A triste realidade é que, após décadas ignorando as necessidades de infraestrutura do Sul Global, impondo condições políticas rigorosas e operando com visão de curto prazo, o Ocidente descobriu que a China havia ocupado esse espaço estratégico - possivelmente de forma irreversível.

O xeque-mate silencioso: como a infraestrutura redefine poder no século XXI.

O que estamos testemunhando não é apenas um projeto de infraestrutura global - é uma redefinição fundamental do que significa "poder" no século XXI resultante desses três erros fatais do Ocidente.

Imagem mostrando mapa mundial com 150 países participantes da Iniciativa Cinturão e Rota em 2025, destacando a expansão global com África liderando adesões
https://greenfdc.org/countries-of-the-belt-and-road-initiative-bri/?cookie-state-change=1747687521373

Este mapa impressionante mostra a escala global da Iniciativa Cinturão e Rota. Por maio de 2025, de 146 a 150 países haviam assinado Memorandos de Entendimento com a China para participar da BRI. Observe como o número de países aderentes cresceu exponencialmente desde 2013, com África, Europa e América Latina representando grandes blocos de participantes.

Esta não é apenas uma iniciativa asiática - é verdadeiramente global.

O xeque-mate chinês está sendo executado sem um único tiro. Não é necessário impor dominação militar quando se controla as estradas, pontes, portos e redes 5G que sustentam economias inteiras. A China compreendeu que no mundo globalizado, controlar a infraestrutura significa controlar o jogo.

Este movimento transformou a geopolítica global de formas profundas. Quando a China precisa de votos nas Nações Unidas ou apoio em questões como Taiwan ou Xinjiang, seus parceiros da BRI consistentemente se alinham com Pequim. Durante a pandemia de COVID-19, países da BRI foram os primeiros a receber vacinas chinesas - independentemente de seus históricos de direitos humanos.

A realidade é que um novo bloco global está se formando, e ele não segue a liderança ocidental. Esta coalizão emergente não compartilha necessariamente valores democráticos ou prioridades ocidentais - mas representa a maioria da população mundial e grande parte do crescimento econômico futuro.

O futuro do tabuleiro global: lições de três erros históricos.

A jogada chinesa de infraestrutura global não é apenas uma estratégia geopolítica brilhante - é uma lição sobre como o poder funciona no século XXI, construída sobre três erros fatais do Ocidente.

O Sul Global já fez sua escolha estratégica, atraído pela combinação de investimentos concretos sem interferências políticas que o Ocidente falhou em oferecer. A pergunta que resta para o Brasil e outras economias emergentes não é se devem participar deste novo sistema econômico centrado na China, mas como podem se posicionar estrategicamente para maximizar benefícios e preservar algum grau de autonomia.

Esta é a nova realidade que define nosso século: um mundo onde a infraestrutura, não os mísseis, determina quem controla o jogo. Enquanto o Ocidente investia trilhões em guerras que não poderia vencer, insistia em condições políticas rigorosas, e mantinha uma visão de curto prazo, a China conquistava o mundo com estradas, portos e pontes - um império construído não com sangue, mas com concreto e aço.

Os três erros fatais do Ocidente - priorizar guerras sobre infraestrutura, impor condições políticas rigorosas, e operar com visão de curto prazo - podem ter sido o maior erro estratégico do século XXI.

No xadrez geopolítico moderno, a infraestrutura é a rainha do tabuleiro, e a China compreendeu isso muito antes que seus adversários.

Abraços,

Paulo Gala

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Brasil pode perder margem para investimentos a partir de 2027, aponta Instituto Fiscal Independente (IFI), do Senado

Lívia Braz

O Brasil vive uma trajetória em que as despesas obrigatórias avançam de forma acelerada e pressionam o orçamento, mesmo diante de uma arrecadação recorde. Para ampliar a transparência e o controle social, a Confederação das Associações Comerciais e Empresariais do Brasil (CACB) lançou a plataforma Gasto Brasil, que mostra em tempo real o quanto é gasto pelo governo federal, estados e municípios.

    O Brasil vive uma trajetória em que as despesas obrigatórias avançam de forma acelerada e pressionam o orçamento, mesmo diante de uma arrecadação recorde. Para ampliar a transparência e o controle social, a Confederação das Associações Comerciais e Empresariais do Brasil (CACB) lançou a plataforma Gasto Brasil, que mostra em tempo real o quanto é gasto pelo governo federal, estados e municípios.

Segundo dados do Instituto Fiscal Independente (IFI), do Senado, a situação é crítica: mais de 90% do orçamento já está comprometido com despesas obrigatórias, como aposentadorias, salários do funcionalismo, Bolsa Família, saúde e educação. Se nada mudar, a partir de 2027 o país poderá viver um “apagão fiscal”, quando todos os recursos serão consumidos por gastos fixos, restando zero margem para investimentos em áreas como infraestrutura, saneamento e manutenção de serviços públicos básicos.

“As despesas continuam em crescimento real e isso ocorre há vários anos. A dificuldade é que o governo precisa financiar esse aumento sem conseguir ampliar receitas no mesmo ritmo”, explica Alexandre Andrade, diretor do IFI. Ele lembra que decisões tomadas na transição de governo, como a retomada da política de valorização do salário mínimo e a reativação dos pisos constitucionais de saúde e educação, intensificaram a pressão sobre as contas.

Além disso, alerta o especialista, a composição do orçamento já mostra sinais de desequilíbrio: “As despesas obrigatórias crescem acima das discricionárias, comprimindo gastos essenciais ao funcionamento da máquina pública e aos investimentos”.

Transparência como aliada

Para ampliar a conscientização da sociedade sobre o tema, a CACB criou o Gasto Brasil, ferramenta que já vem sendo adotada por associações comerciais em todo o país. O presidente da Associação Comercial e Industrial de Uberlândia (Aciub), Fábio Túlio Felippe, destaca o papel da plataforma como instrumento de participação cidadã:

“O Gasto Brasil permite que entidades como a Aciub acompanhem, com dados oficiais, como os recursos estão sendo aplicados. Isso nos dá subsídios para dialogar com os governos e defender políticas públicas mais eficientes”, afirma.

Ele ressalta ainda a importância do envolvimento social: “Quando a comunidade tem acesso a informações transparentes, pode cobrar mais e se engajar em debates que são essenciais para o desenvolvimento econômico e social”.

Projeções preocupantes

De acordo com o IFI:

  • Até 2027, não haverá margem para custeio de serviços básicos como estradas, portos e saneamento.
  • A arrecadação federal, que hoje representa 18,3% do PIB, deve cair para 17,7% até 2035.
  • As despesas, por outro lado, devem subir de 18,9% para 20,4% do PIB no mesmo período.
  • Isso comprometerá até gastos operacionais de órgãos públicos, como combustível, luz e telefonia.


“Se nada for feito, a relação dívida/PIB vai seguir em trajetória crescente, o que afeta a percepção de risco, encarece os juros e compromete o futuro da economia”, adverte Alexandre Andrade.

Um debate inevitável

Para especialistas, a realidade fiscal do país exigirá uma profunda reforma das despesas obrigatórias já a partir de 2027. “É preciso rever a política de vinculações e criar instrumentos de revisão periódica de gastos, como já fazem países da OCDE”, sugere Andrade.

Enquanto isso, iniciativas como o Gasto Brasil tentam trazer o tema para mais perto da sociedade, permitindo que cidadãos, empresários e gestores tenham clareza de como os recursos públicos estão sendo aplicados.

Como resume Fábio Túlio Felippe: “Transparência é o primeiro passo para cobrar eficiência. O Gasto Brasil coloca na mão da sociedade a chance de participar ativamente desse debate”.


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Exportações indiretas crescem 23% em dez anos

Agência do Rádio

Segundo a worldsteel, as exportações indiretas de aço para os 74 países analisados totalizaram 392 milhões de toneladas em 2023, um aumento de 23% sobre as 319 milhões de toneladas de aço exportadas em 2013. O volume de comércio indireto de aço foi equivalente a 95% das exportações diretas em 2023.

    

Segundo a worldsteel, as exportações indiretas de aço para os 74 países analisados totalizaram 392 milhões de toneladas em 2023, um aumento de 23% sobre as 319 milhões de toneladas de aço exportadas em 2013. O volume de comércio indireto de aço foi equivalente a 95% das exportações diretas em 2023. O comércio indireto de aço ocorre por meio de exportações e importações de produtos que contêm aço.

Os dados comerciais de produtos manufaturados (comércio de produtos que contêm aço) são reportados tanto em valor quanto em volume. Para processar os cálculos do comércio indireto de aço, é necessário contabilizar a quantidade de aço utilizada na produção de cada produto manufaturado, ou seja, os coeficientes de aço de cada produto, expressos em termos de peso do produto. Na metodologia da worldsteel, o coeficiente de aço é a quantidade de produtos de aço acabado (em toneladas) necessária para produzir uma tonelada de um produto manufaturado.

Para a classificação de produtos, o estudo de comércio indireto da worldsteel adotou o Sistema Harmonizado de Descrição e Codificação de Mercadorias (SH) das Nações Unidas. Códigos SH de até seis dígitos são usados para definir produtos comercializados de forma detalhada, o que envolveu o uso de aproximadamente 1.000 códigos no estudo. Os dados comerciais e os resultados dos cálculos foram sintetizados neste estudo e apresentados para seis grupos de commodities: produtos metálicos, máquinas mecânicas, equipamentos elétricos, eletrodomésticos, automotivo e outros transportes. Estes correspondem aos grupos de setores que utilizam aço convencionalmente, utilizados pela Worldsteel na análise da produção industrial ponderada pelo aço (SWIP). A fonte de dados comerciais usada no atual estudo sobre comércio indireto é o Banco de Dados de Estatísticas de Comércio de Mercadorias das Nações Unidas (UN Comtrade).


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Por que destruímos o que funcionava?

    Como o Brasil sabotou sua própria revolução industrial para virar colônia tecnológica

Olá!

Por que um país destrói deliberadamente aquilo que estava dando certo?

Essa é uma pergunta que deveria nos manter acordados à noite.

Nos anos 1980, o Brasil tinha empresas nacionais produzindo carros, tanques de guerra, material ferroviário e elevadores que competiam mundialmente. Tínhamos uma base industrial diversificada e tecnologicamente sofisticada. Nossa produção manufatureira era maior que a da China e Coreia do Sul somadas.

Estávamos subindo na escada da complexidade econômica e conquistando mercados internacionais. Éramos, literalmente, uma potência industrial emergente.

Hoje somos uma colônia tecnológica.

Importamos praticamente tudo que é sofisticado. Perdemos as capacidades produtivas que levaram décadas para construir. Viramos reféns de tecnologia externa para produtos básicos do dia a dia.

Nossa estrutura produtiva regrediu tanto que hoje exportamos principalmente ferro, soja, açúcar, petróleo e carne.

Hoje vou mostrar exatamente como sabotamos nossa própria revolução industrial e o preço brutal que pagamos por essa escolha.

Vamos mergulhar nesta autópsia econômica.

Tínhamos criado uma máquina industrial que funcionava.

Nos anos 1980, o Brasil atingiu seu auge de sofisticação produtiva.

Não era perfeita, tinha ineficiências e problemas, mas funcionava.

Sabíamos produzir praticamente tudo que existia no mundo: desde equipamentos básicos até tecnologia militar de ponta.

A Gurgel não apenas fabricava carros brasileiros - ela exportava para o Caribe e outros mercados. Seus veículos tinham tecnologia própria e chegaram a incomodar seriamente a Volkswagen.

O modelo X12 conquistou fatias significativas de mercado internacional, provando que éramos capazes de competir globalmente.

Imagem mostrando carro Gurgel brasileiro cinza estacionado representando indústria automobilística nacional
Gurgel X12

A Engesa era ainda mais impressionante.

Criada em 1958, evoluiu de produtora de componentes para a Petrobras até se tornar uma das principais fabricantes mundiais de veículos militares. O tanque Osório usava um computador de 21 bits embarcado com giroscópio integrado.

Tecnologia 100% brasileira que estava à frente dos tanques americanos da época.

Imagem mostrando tanque militar Osório brasileiro Engesa tecnologia nacional defesa anos 80
Tanque militar Osório brasileiro Engesa - tecnologia nacional defesa anos 80

A Mafersa dominava o setor ferroviário nacional e exportava equipamentos pesados.

Imagem mostrando ônibus vermelho Mafersa CMTC 7313 da indústria brasileira de transporte público anos 80
ônibus vermelho Mafersa CMTC 7313

A Villares competia com gigantes como Caterpillar e Komatsu, desenvolvendo desde elevadores até motores industriais.

Imagem mostrando anúncio histórico Villares guindaste 650 V-TC indústria pesada brasileira anos 80
Anúncio histórico Villares guindaste 650 V-TC indústria pesada brasileira anos 80

Essas empresas representavam décadas de acumulação de conhecimento técnico e capacidades produtivas.

Era um ecossistema industrial robusto que gerava empregos qualificados, desenvolvia tecnologia nacional e nos dava autonomia produtiva.

Funcionava.

Então veio a década de 1990 e decidimos jogar tudo fora.

A partir de 1990, iniciamos o que chamaram de "nova transição econômica".

A narrativa era sedutora: abertura da economia, controle da inflação, privatizações e novos marcos regulatórios nos prepararam para um "novo ciclo de crescimento".

A promessa central era que a exposição à concorrência internacional forçaria nossas empresas a se tornarem mais eficientes.

O resultado foi uma catástrofe produtiva.

A ancoragem cambial manteve o real artificialmente valorizado por anos. Nossas indústrias perderam competitividade internacional e doméstica simultaneamente.

Produtos importados ficaram artificialmente baratos comparados à produção nacional.

As empresas que levaram décadas para construir conhecimento técnico e market share foram esmagadas em poucos anos.

A Gurgel faliu.

A Engesa entrou em concordata em 1990 e foi à falência definitiva em 1995.

A Mafersa desapareceu.

A Villares virou subsidiária de uma empresa austríaca.

Perdemos milhares de capacidades produtivas que poderiam ter sido aperfeiçoadas para conquistar o mundo. Nossa economia literalmente "desaprendeu" a fazer produtos complexos.

Jogamos décadas de desenvolvimento tecnológico no lixo.

As multinacionais orquestraram a destruição sistemática da indústria nacional.

O caso da Gurgel revela como as multinacionais agiram deliberadamente para eliminar a concorrência brasileira.

Quando a empresa começou a crescer e incomodar, o lobby das grandes montadoras conseguiu uma mudança nas regras do jogo.

Primeiro, estenderam a isenção de impostos para todos os carros de até 1.0 litro, permitindo que as quatro grandes montadoras usassem modelos de suas linhas globais para atender exatamente o nicho que a Gurgel havia descoberto e desenvolvido.

Era uma jogada para abastecer toda a demanda antes que a fábrica brasileira ficasse pronta.

Segundo, fizeram pressão coordenada sobre fornecedores de autopeças.

Proibiram sistematicamente a venda de componentes originalmente desenvolvidos para suas próprias linhas à Gurgel. A empresa brasileira sempre aproveitara peças de outros fabricantes - prática comum e nunca questionada.

Com a proibição, foi forçada a desenvolver componentes próprios, aumentando drasticamente custos e prazos.

Terceiro, o próprio BNDES atrasou sistematicamente a liberação de recursos já aprovados para a construção da nova fábrica da Gurgel.

O cerco estava completo: regras tributárias alteradas para favorecer as multinacionais, fornecedores pressionados a cortar relações e financiamento público sabotado.

A soma desses fatores levou uma empresa tecnologicamente viável e comercialmente bem-sucedida à falência.

Não foi "seleção natural do mercado" - foi eliminação orquestrada da concorrência.

Enquanto destruíamos nossa indústria, a Ásia construía a deles.

Enquanto o Brasil sabotava suas próprias empresas, países asiáticos faziam exatamente o oposto. Protegiam, financiavam e desenvolviam suas indústrias nacionais com estratégias de longo prazo.

Na Coreia do Sul, quando a Kia enfrentou dificuldades em 1997, o governo só permitiu que empresas nacionais a comprassem.

Resultado: ficou com a Hyundai, que hoje domina quase 80% do mercado automotivo coreano.

O Estado coreano deu à Hyundai monopólio na produção de plataformas offshore, financiou a construção de navios e apoiou a subsidiária de navegação da empresa.

A Hyundai lançou seu primeiro carro em 1974 - uma porcaria com motor japonês e design italiano.

Partes de plástico trincavam, maçanetas se rompiam, freios falhavam. Levou 17 anos para desenvolver um motor próprio, e mesmo assim era menos eficiente que os japoneses.

Mas o Estado e a empresa mantiveram o compromisso com uma estratégia nacional de desenvolvimento tecnológico.

Foram anos de prejuízo sustentados por subsídios generosos, protecionismo seletivo e restrições à entrada de concorrentes.

Regulações limitavam o número de modelos que podiam ser fabricados para gerar economias de escala.

Concorrência interna controlada e metas de melhoria foram exigidas pela ditadura coreana.

Hoje a Hyundai é a terceira maior montadora do mundo. O processo foi longo, custoso e cheio de erros. Mas funcionou porque houve persistência estratégica.

Essa diferença fundamental entre as estratégias brasileira e asiática é algo que analisamos detalhadamente em nosso cursos sobre desenvolvimento econômico da ÁsiaChinaBrasilAmérica Latina e outros, onde estudamos como escolhas de política industrial determinaram trajetórias tão distintas entre países que partiam de condições similares.

O preço da nossa escolha: de potência industrial a economia colonial.

O resultado das nossas políticas dos anos 1990 foi uma regressão produtiva completa.

Saímos de produtores de bens complexos para exportadores de produtos primários.

Nossa pauta exportadora se reprimarizou: em 2014, apenas cinco produtos (ferro, soja, açúcar, petróleo e carne) responderam por quase metade das nossas exportações.

Trabalhadores que tinham empregos qualificados em manufaturas e serviços sofisticados migraram para serviços básicos: varejo, restaurantes, padarias, cabeleireiros.

Perdemos os "bons empregos" que transformam conhecimento e educação em produtos de valor agregado.

As indústrias que sobreviveram ficaram viciadas no mercado interno e perderam completamente o ímpeto exportador. Viraram montadoras de produtos importados ou simplesmente fecharam.

Nossa produção industrial colapsou 20% entre 2014 e 2016.

Hoje somos reféns tecnológicos.

Importamos desde componentes eletrônicos básicos até equipamentos médicos sofisticados. Dependemos de fornecedores externos para produtos que já soubemos fazer.

Viramos uma economia colonial tecnológica: exportamos matérias-primas e importamos produtos acabados.

A lição brutal que nos recusamos a aceitar.

O desenvolvimento econômico não acontece por acaso.

É resultado de estratégias deliberadas, coordenadas e persistentes entre Estado e setor privado.

Países que conseguiram subir na escada da complexidade - Coreia do Sul, Taiwan, China - combinaram abertura seletiva com políticas industriais ativas.

Não bastava abrir a economia e esperar que a "concorrência" resolvesse tudo.

Era preciso proteger setores estratégicos durante o período de aprendizado, financiar desenvolvimento tecnológico e criar condições para que empresas nacionais pudessem competir em condições menos desiguais.

A tragédia brasileira é que sabíamos fazer isso. O "milagre econômico" dos anos 1970 e o auge produtivo dos anos 1980 foram resultado de políticas industriais coordenadas.

Tínhamos instituições como BNDES, Petrobras e universidades federais que apoiavam o desenvolvimento tecnológico nacional.

Mas escolhemos destruir o que funcionava.

Desmontamos políticas industriais, fragilizamos o financiamento de longo prazo e deixamos nossas empresas à própria sorte contra gigantes multinacionais.

O resultado era previsível: regressão produtiva e dependência tecnológica.

Em 1980, nossa produção industrial era maior que a da China e Coreia do Sul juntas. Quase conseguimos nos desenvolver - faltou muito pouco. Mas paramos. E eles continuaram.

A boa notícia é que ainda temos ativos: matriz energética limpa, biodiversidade única, agricultura de ponta, universidades respeitadas e restos de um parque industrial. O que falta não é capacidade - é vontade política de reconstruir o que funcionava.

Porque sabotamos o que dava certo uma vez. Podemos escolher não repetir esse erro.

Sempre que você estiver pronto, existem 3 formas de eu poder te ajudar:

  1. Escola de Complexidade Econômica Completa: Minha formação mais abrangente sobre os padrões que separaram países vencedores de perdedores na economia global. 16 cursos especializados que vão desde fundamentos teóricos até casos práticos de desenvolvimento. Domine as ideias que tiraram países da pobreza e levaram à liderança mundial. Junte-se a mais de 5.000 alunos clicando aqui.

  2. Trilhas Temáticas Específicas: Escolha entre 4 trilhas focadas - Fundamentos Essenciais, Casos de Sucesso Global, Análise do Brasil e Fracassos, ou Aplicação Prática. Ideal para quem quer aprofundar conhecimento em áreas específicas do desenvolvimento econômico. Comece sua trilha clicando aqui.

  3. Cursos Individuais: Acesse cursos específicos como "Coreia do Sul e o Milagre Asiático", "Milagre da China", "Brasil uma Economia que Não Aprende", entre outros 16 cursos. Perfeito para necessidades pontuais de aprendizado. Veja todos os cursos clicando aqui.

Abraços,

Paulo Gala

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Como o governo coreano transformou uma montadora fracassada em gigante global bancando 17 anos de prejuízo


Olá!

O que é preciso para ir de produzir carros cujas portas caíam para se tornar a terceira maior montadora do mundo?

A maioria das pessoas vê a Hyundai hoje como uma marca global confiável e inovadora.

Mas poucos percebem que a empresa passou quase duas décadas sendo motivo de piada na indústria. Seu primeiro carro "coreano" em 1974 ainda usava motor japonês e design italiano. Peças de plástico rachavam, maçanetas se rompiam, freios falhavam e a pintura desbotava em semanas.

Por suas próprias estimativas, sua produtividade em 1991 não atingia metade da Honda e Toyota.

Ainda assim, hoje a Hyundai controla 80% do mercado automotivo da Coreia do Sul e é classificada como a terceira maior fabricante de carros globalmente. Esta transformação não aconteceu por acidente—foi resultado de decisões estratégicas deliberadas que a maioria das empresas ocidentais nunca teria paciência para executar.

Então hoje, vou compartilhar as 3 lições críticas da ascensão impossível da Hyundai que o Brasil pode aplicar para construir vantagem competitiva duradoura.

Vamos mergulhar.

Lição 1: Comprometer-se com aprendizado de longo prazo em vez de lucros de curto prazo

A transformação da Hyundai exigiu perdas sustentadas por mais de 15 anos antes de alcançar lucratividade.

Quando a Hyundai lançou seu primeiro carro "coreano" em 1974, eles sabiam que era inferior—ainda usava motor japonês e design italiano.

Peças de plástico rachavam, maçanetas se rompiam, freios falhavam e a pintura desbotava em semanas. Especialistas da indústria zombavam das ambições automotivas coreanas.

Mas em vez de abandonar o projeto ou cortar custos, a Hyundai e o governo coreano se comprometeram com uma estratégia de aprendizado de longo prazo que priorizou a construção de capacidades sobre retornos imediatos.

A empresa recebeu subsídios estatais massivos, proteção de concorrentes estrangeiros e direitos de monopólio em segmentos específicos.

Mas estes vieram com rigorosos requisitos de desempenho e metas de melhoria. O governo não apenas escrevia cheques em branco, eles exigiam progresso mensurável em qualidade, produtividade e capacidade tecnológica.

Esta abordagem exigiu paciência incrível.

A Hyundai perdeu dinheiro por anos enquanto sistematicamente adquiria tecnologia, treinava trabalhadores e construía expertise em manufatura.

A maioria das empresas ocidentais teria abandonado tal estratégia após 2-3 anos de perdas.

Mas este compromisso de longo prazo compensou. A estratégia de nacionalização da Hyundai foi impressionante: o conteúdo local cresceu de 21% em 1966 para mais de 60% em 1972 e para 92% em 1981, transformando completamente a operação de uma simples montagem para produção nacional integrada.

A imagem do meu livro Complexidade Econômica mostra visualmente essa jornada de aprendizado: a linha azul representa a evolução da complexidade da Coreia do Sul de 1962 a 2013, demonstrando como o país construiu sistematicamente suas capacidades tecnológicas ao longo de décadas.

Imagem mostrando evolução da complexidade econômica no Sudeste Asiático 1962-2013 com Coreia do Sul liderando crescimento
Evolução da complexidade (ECI) no Sudeste Asiático entre 1962 e 2013Fonte: Extraído do meu livro "Complexidade Econômica: Uma nova perspectiva para entender a antiga questão da riqueza das nações" (p. 75).

Em meados dos anos 1980, quando tensões comerciais entre EUA e Japão criaram oportunidades para montadoras coreanas, a Hyundai estava pronta para capitalizar. Eles haviam passado mais de uma década construindo as capacidades fundamentais necessárias para competir globalmente.

A lição aqui é clara: vantagem competitiva sustentável requer paciência e disposição para investir em capacidades antes de buscar retornos.

Lição 2: Usar proteção estrategicamente para construir força competitiva, não para evitar competição

A Hyundai aproveitou a proteção governamental não para evitar competição, mas para se preparar para ela.

Muitas empresas buscam proteção da competição através de lobby, captura regulatória ou outras estratégias defensivas. Mas a Hyundai usou proteção diferentemente—como um escudo temporário enquanto construía força para competir sem ela.

O governo coreano restringiu montadoras estrangeiras e limitou o número de concorrentes domésticos.

Apenas Hyundai e Daewoo podiam produzir carros de passeio na Coreia. Este mercado protegido deu à Hyundai escala e oportunidades de aprendizado que não poderiam ter alcançado em um mercado aberto.

O resultado foi dramático: a participação da Hyundai no mercado nacional de automóveis de passeio saltou de 19,2% em 1970 para 73,9% em 1979.

Mas a proteção veio com condições.

O governo estabeleceu metas de produção, benchmarks de qualidade e requisitos de exportação. Empresas que falhassem em atender estes padrões perdiam sua proteção. A Samsung tentou entrar no mercado automotivo mas não conseguiu alcançar escala significativa e eventualmente saiu.

Mais importante, a Hyundai sabia que a proteção era temporária.

Eles usaram o respiro para sistematicamente melhorar suas capacidades, sabendo que eventualmente enfrentariam competição global.

Quando a Coreia abriu seu mercado automotivo nos anos 1990, a Hyundai estava pronta.

O insight chave é que proteção deve ser usada como preparação para competição, não escape dela. Se você não está ficando mais forte durante períodos protegidos, está apenas atrasando fracasso inevitável.

Lição 3: Integrar verticalmente para capturar valor e acelerar aprendizado

A Hyundai construiu um ecossistema empresarial integrado que permitiu subsídios cruzados e desenvolvimento acelerado de capacidades.

Enquanto a maioria das empresas automotivas foca apenas na manufatura de carros, a Hyundai desenvolveu capacidades através de múltiplas indústrias relacionadas. O Grupo Hyundai incluía divisões de construção, construção naval, aço e maquinário pesado junto com automotiva.

Imagem mostrando navio porta-contêineres Hyundai carregado com containers coloridos navegando em águas azuis

Esta integração serviu dois propósitos cruciais.

Primeiro, permitiu que divisões lucrativas subsidiassem perdas automotivas durante o longo período de aprendizado.

Os lucros de construção e construção naval da Hyundai ajudaram a financiar P&D automotivo e construção de capacidade.

Segundo, acelerou aprendizado tecnológico através de transferência de conhecimento entre indústrias.

Capacidades de engenharia desenvolvidas na construção naval informaram processos de manufatura automotiva. Experiência em construção ajudou com design de fábrica e gestão de projetos.

Conhecimento de produção de aço melhorou expertise em materiais.

Esta estratégia de ecossistema também forneceu alavancagem de negociação com fornecedores e clientes.

Quando a Hyundai precisava de componentes ou tecnologias específicas, eles podiam oferecer relacionamentos empresariais mais amplos além de apenas parcerias automotivas.

A estratégia de integração exigiu capital enorme e largura de banda de gestão.

Mas deu à Hyundai vantagens competitivas que empresas puramente automotivas não conseguiam igualar.

Eles podiam resistir a curvas de aprendizado mais longas, investir em capacidades que não dariam retorno por anos e desenvolver soluções técnicas únicas.

A imagem a seguir mostra o resultado contundente: em 2013, a Coreia do Sul aparece como um dos principais exportadores globais de automóveis, competindo de igual para igual com potências automotivas tradicionais.

Imagem mostrando treemap dos principais exportadores de carros em 2013 com Alemanha dominando seguida por Japão Reino Unido
Principais exportadores de carros em 2013. Fonte: Extraída do meu livro "Complexidade Econômica: Uma nova perspectiva para entender a antiga questão da riqueza das nações" (p. 30)

A ascensão da Hyundai de piada da indústria a líder global demonstra que vantagem competitiva sustentável vem da construção paciente de capacidades, uso estratégico de proteção governamental e criação integrada de valor.

Explicações convencionais sobre o sucesso asiático frequentemente atribuem os resultados extraordinários da Coreia do Sul simplesmente à disciplina de mercado, investimento em educação e políticas de livre comércio.

Porém a trajetória da Hyundai revela um sistema muito mais sofisticado de coordenação Estado-empresa, políticas industriais seletivas e estratégias de inserção externa que contradizem fundamentalmente as interpretações neoliberais sobre desenvolvimento econômico.

A capacidade coreana de sustentar perdas por décadas, proteger setores estratégicos temporariamente e integrar verticalmente para acelerar aprendizado tecnológico demonstra mecanismos de catching-up que desafiam as receitas ortodoxas aplicadas no Brasil e na América Latina.

O caso da Hyundai ilustra perfeitamente os mecanismos de desenvolvimento que estudamos em nosso curso sobre o Milagre Asiático, onde analisamos como países como a Coreia do Sul utilizaram coordenação Estado-empresa e políticas industriais seletivas para construir capacidades competitivas globais.

A transformação é impressionante: em 1962, Europa e América do Norte dominavam completamente o mercado mundial de automóveis, com a Ásia tendo participação praticamente nula.

Em 1995, a Ásia já controlava 25% do mercado global - uma revolução silenciosa liderada por países como Coreia do Sul e Japão.

Imagem mostrando evolução dos exportadores de carros entre 1962 e 1995 com Europa dominando em 1962 e fragmentação em 1995
Principais exportadores de carros em 1962 vs 1995 Fonte: Extraída do meu livro "Complexidade Econômica: Uma nova perspectiva para entender a antiga questão da riqueza das nações" (p. 76-77)

A questão não é se o Brasil pode se dar ao luxo de investir em capacidades de longo prazo—é se o país pode se dar ao luxo de não fazê-lo.

Sempre que você estiver pronto, existem 3 formas de eu poder te ajudar:

  1. Escola de Complexidade Econômica Completa: Minha formação mais abrangente sobre os padrões que separaram países vencedores de perdedores na economia global. 16 cursos especializados que vão desde fundamentos teóricos até casos práticos de desenvolvimento. Domine as ideias que tiraram países da pobreza e levaram à liderança mundial. Junte-se a mais de 5.000 alunos clicando aqui.

  2. Trilhas Temáticas Específicas: Escolha entre 4 trilhas focadas - Fundamentos Essenciais, Casos de Sucesso Global, Análise do Brasil e Fracassos, ou Aplicação Prática. Ideal para quem quer aprofundar conhecimento em áreas específicas do desenvolvimento econômico. Comece sua trilha clicando aqui.

  3. Cursos Individuais: Acesse cursos específicos como "Coreia do Sul e o Milagre Asiático", "Milagre da China", "Brasil uma Economia que Não Aprende", entre outros 16 cursos. Perfeito para necessidades pontuais de aprendizado. Veja todos os cursos clicando aqui.

🚨 Matrículas se encerram no dia 20 de Julho.

Abraços,

Paulo Gala

    


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Indústria brasileira registra terceira queda seguida no faturamento e acende alerta para perda de fôlego em 2025

Lívia Braz

A indústria brasileira voltou a registrar queda no faturamento em maio, acumulando o terceiro mês consecutivo de retração, segundo os Indicadores Industriais da Confederação Nacional da Indústria (CNI), divulgados nesta segunda-feira (7). Entre abril e maio, o encolhimento foi de 1,2%, refletindo o que economistas já apontam como uma perda de dinamismo do setor em 2025.

    

A indústria brasileira voltou a registrar queda no faturamento em maio, acumulando o terceiro mês consecutivo de retração, segundo os Indicadores Industriais da Confederação Nacional da Indústria (CNI), divulgados nesta segunda-feira (7). Entre abril e maio, o encolhimento foi de 1,2%, refletindo o que economistas já apontam como uma perda de dinamismo do setor em 2025.

No trimestre encerrado em maio, o recuo acumulado foi de 1% na comparação com os três meses anteriores. Para o gerente de Análise Econômica da CNI, Marcelo Azevedo, os números indicam um cenário de enfraquecimento da demanda e redução no ritmo de crescimento da indústria nacional.

“O que a gente percebe no trimestre encerrado em maio, na comparação com o trimestre imediatamente anterior, encerrado em fevereiro, é que se tem queda em todas as variáveis, exceto emprego. Mas mesmo assim, há um crescimento um pouco mais moderado do que o que vinha acontecendo antes”, explica Azevedo.

Emprego

Apesar da queda no faturamento, o nível de emprego no setor registrou uma leve alta de 0,1% em maio, após a primeira retração em 18 meses, registrada em abril. Na análise trimestral, o avanço é de 0,4%. O número de horas trabalhadas na produção também reagiu, com crescimento de 0,8% em maio, interrompendo dois meses de recuo. Ainda assim, o índice teve queda de 0,4% no trimestre.

A massa salarial, por sua vez, apresentou recuo expressivo de 3,9% em maio, devolvendo boa parte da alta registrada no mês anterior. Já o rendimento médio dos trabalhadores da indústria caiu 3,8% entre abril e maio. No acumulado do trimestre, a redução foi de 0,8% em relação ao trimestre anterior.

O único indicador com desempenho ligeiramente positivo foi a Utilização da Capacidade Instalada (UCI), que subiu 0,3 ponto percentual em maio, chegando a 78,5%. No entanto, no trimestre, a UCI também apresentou leve retração.

Segundo Azevedo, a tendência de oscilação entre resultados negativos e positivos muito fracos é reflexo direto da desaceleração do consumo e da instabilidade na demanda por produtos industriais.

“Os indicadores industriais vêm mostrando uma perda de ritmo da indústria em dados de faturamento, emprego, horas trabalhadas na produção e uso da capacidade instalada. Especialmente nos últimos meses, vêm se alternando resultados negativos e resultados positivos muito fracos”, resume.

Mesmo com expectativa de crescimento para o ano, o cenário traçado pelos dados de maio aponta que 2025 será menos aquecido do que 2024 para a indústria — um sinal de alerta para empresários e formuladores de políticas públicas.
  

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Valores a receber: mais de R$ 9,7 bilhões ainda estão disponíveis para saque; saiba como solicitar resgate

Amanda dos Santos Sousa

Mais de R$ 9,74 bilhões ainda estão disponíveis para saque no Sistema de Valores a Receber (SVR), plataforma do Banco Central criada para permitir que cidadãos e empresas recuperem valores esquecidos em contas bancárias, consórcios, cooperativas de crédito e outras instituições financeiras.

Somente no mês de abril, os brasileiros sacaram cerca de R$ 360 milhões esquecidos no sistema financeiro, de acordo com dados divulgados pelo Banco Central (BC). Ao todo, mais de R$ 9,7 bilhões ainda estão disponíveis para saque. Desde que entrou em funcionamento, o Sistema de Valores a Receber (SVR) já devolveu mais de R$10,38 bilhões.

Para pedir o resgate, é necessário ter uma conta Gov.br nos níveis prata ou ouro. O solicitante pode optar por receber diretamente da instituição que aparece no sistema ou solicitar o valor pelo próprio SVR.

Para valores de pessoas falecidas ou empresas encerradas, o processo pode ser feito pelo herdeiro, inventariante ou representante legal, que deve usar sua conta Gov.br e assinar um termo de responsabilidade. Todo o processo é gratuito e deve ser feito apenas pelo site oficial.

Números 

Até o fim de abril, 30,6 milhões de beneficiários já haviam feito o resgate. Desses, 27,8 milhões são pessoas físicas e 2,7 milhões são empresas. Ainda restam mais de 51,7 milhões de beneficiários que não sacaram os valores, sendo a maioria com pequenas quantias:

* 63,8% têm até R$10 a receber;
* 24,2% têm entre R$10,01 e R$100;
* 10,1% têm entre R$ 100,01 e R$1 mil;
* Apenas 1% tem valores acima de R$1 mil.

Esses valores podem vir de:


* Contas-corrente ou poupança encerradas;
* Cotas de capital e sobras de cooperativas de crédito;
* Consórcios finalizados;
* Tarifas ou parcelas cobradas indevidamente;
* Entre outros.

Como saber se você tem dinheiro esquecido:

2. Informe o CPF e a data de nascimento ou CNPJ e data de abertura da empresa;
3. Se houver valores disponíveis, siga as orientações para solicitar o resgate.

O Banco Central alerta que não envia links, não faz ligações, não entra em contato com os usuários e ninguém está autorizado a pedir dados ou senhas em nome do Banco Central. Todo o processo é gratuito e deve ser feito apenas pelo site oficial.

Com informações da Agência Brasil 


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AmpliAR: Governo oferece 19 aeroportos regionais à iniciativa privada com previsão de R$ 1,35 bilhão em investimentos

Marquezan Araújo

As concessionárias que já possuem contrato com a União para atuar no setor aéreo poderão assumir a gestão de terminais deficitários por meio do Programa de Investimentos Privados em Aeroportos Regionais (AmpliAR). A determinação consta na Portaria nº 373, publicada no Diário Oficial da União. Nesta primeira etapa do programa, serão ofertados 19 aeroportos (ver lista abaixo) situados em 11 estados da Amazônia Legal e do Nordeste do país. Inicialmente, esses terminais contarão com investimentos de R$ 1,35 bilhão

As concessionárias que já possuem contrato com a União para atuar no setor aéreo poderão assumir a gestão de terminais deficitários por meio do Programa de Investimentos Privados em Aeroportos Regionais (AmpliAR). A determinação consta na Portaria nº 373, publicada no Diário Oficial da União.

Nesta primeira etapa do programa, serão ofertados 19 aeroportos (ver lista abaixo) situados em 11 estados da Amazônia Legal e do Nordeste do país. Inicialmente, esses terminais contarão com investimentos de R$ 1,35 bilhão, o que representa uma média de aproximadamente R$ 77 milhões por aeroporto.

A iniciativa, criada pelo Ministério de Portos e Aeroportos (MPor), visa atrair investimentos privados para a malha aeroportuária regional e conectar áreas remotas aos principais aeroportos do país. A projeção do governo é que o programa alcance mais de R$ 5 bilhões em investimentos privados.

Os terminais incluídos no programa foram definidos com base no Plano Aeroviário Nacional (PAN) e serão ofertados por meio de processo competitivo simplificado. Para o ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho, a iniciativa contribuirá para impulsionar a economia nas regiões contempladas.

“Que isso possa estimular o turismo de negócios, que possa ajudar no turismo de lazer, para estimular que os brasileiros e estrangeiros viajem mais para o interior do Brasil. Nossa meta é que, nos próximos cinco anos, mais de 100 aeroportos sejam construídos ou requalificados em todo o país”, destaca o ministro.

AmpliAR: propostas devem ser abertas em setembro

De acordo com o MPor, as empresas interessadas serão remuneradas por meio de aditivos que vão reequilibrar os contratos vigentes. A estimativa é de que as propostas sejam abertas em setembro de 2025. Os ajustes contratuais devem ser concluídos até o fim do ano.

Vale destacar que os terminais aeroportuários que não receberem propostas nesta rodada vão permanecer disponíveis, assim como novos lotes, que serão oferecidos em futuras etapas do programa.

Na avaliação do secretário nacional de Aviação Civil, Tomé Franca, o programa deve impulsionar o desenvolvimento de regiões menos desenvolvidas, que precisam de uma infraestrutura aeroportuária mais adequada.

“Em parte dessas cidades só há acesso por barcos, por onde chegam produtos de saúde, alimentos e combustível. Com estiagem, que ocorre com maior frequência na Região Norte, alguns municípios acabam ficando completamente isolados”, considera.

“Baseado em uma análise técnica reconhecida pelo TCU, que sugeriu usar a metodologia do PAN como referência para planejamento, a implantação do AmpliAR resulta em múltiplos impactos para o desenvolvimento regional e traz benefícios para diversas áreas”, complementa Franca.

AmpliAR: contribuição para a Saúde

Segundo previsão do governo federal, os investimentos realizados por meio do programa terão impacto em áreas como a saúde, já que a ideia também é viabilizar deslocamentos de emergência e facilitar a distribuição de medicamentos e vacinas em comunidades remotas.

“Além disso, os aeroportos devem funcionar como pontos estratégicos para a fiscalização ambiental, o monitoramento de áreas isoladas e a proteção de comunidades indígenas”, pontua ministério.

AmpliAR: aeródromos incluídos na primeira fase 

  • Aracati (CE)
  • Araguaína (TO)
  • Araripina (PE)
  • Barcelos (AM)
  • Barreirinhas (MA)
  • Cacoal (RO)
  • Cruz (CE)
  • Garanhuns (PE)
  • Guanambi (BA)
  • Itacoatiara (AM)
  • Itaituba (PA)
  • Lençóis (BA)
  • Parintins (AM)
  • Paulo Afonso (BA)
  • Porto Alegre do Norte (MT)
  • São Raimundo Nonato (PI)
  • Serra Talhada (PE)
  • Tarauacá (AC)
  • Vilhena (RO)

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O Mito do Brasil Cafeeiro: Somos Potência ou Peão?

Olá!

Você já se perguntou por que, apesar de ser o maior produtor mundial de café, o Brasil fica com apenas uma fração mínima do lucro dessa indústria bilionária?

Esta é a história de um grande paradoxo econômico: enquanto colhemos grãos, países como a Alemanha colhem euros. Os números são estarrecedores e revelam uma matemática perversa que transforma nosso país em mero fornecedor de matéria-prima barata para indústrias estrangeiras. Enquanto nos orgulhamos do título de "potência cafeeira", a realidade mostra que somos apenas peões em um tabuleiro global muito mais complexo e lucrativo.

Hoje, vou desvendar os mecanismos dessa dinâmica desigual e mostrar como o mito do "Brasil cafeeiro" esconde uma realidade econômica que precisamos urgentemente transformar.

Vamos mergulhar nessa análise.

A cadeia do café revela uma desigualdade brutal.

De uma xícara de café vendida por £2.50 (aproximadamente R$16), o produtor recebe apenas 1 penny (menos de R$0,07). Enquanto isso, o aluguel da loja fica com 88 pence, funcionários com 63 pence e impostos com 38 pence.

Os números expostos pelo Financial Times em 2019 contam uma história alarmante sobre a distribuição de valor na cadeia global do café:

Produtores brasileiros vendem o quilo do café por aproximadamente R$6,60. Esse mesmo café, após processado na Europa, é comercializado no varejo por cerca de R$400/kg. Isso representa um markup extraordinário de 70 vezes sobre o preço original!

Para contextualizar essa disparidade: um saco de café de 60kg, comercializado por cerca de R$400 no Brasil, gera produtos finais que podem valer mais de R$24.000 no mercado internacional. Essa discrepância monumental não é apenas uma curiosidade estatística — é o reflexo de um sistema econômico que mantém países produtores como o Brasil na base da pirâmide de valor.

E o mais revelador: enquanto os produtores recebem migalhas, os torradores ficam com aproximadamente 80% do valor gerado em toda a cadeia. Um grupo seleto de empresas — as top 10 do setor — controla 35% do mercado mundial de café processado. E o Brasil? Está praticamente ausente nesse segmento mais lucrativo!

Por que isso acontece? A armadilha das commodities.

Essa situação não é fruto do acaso, mas resultado de escolhas econômicas que nos mantêm presos à chamada "armadilha das commodities".

O Brasil se especializou em produzir grandes volumes de commodities com características muito específicas:

  • Preços definidos em bolsas internacionais, sobre os quais temos pouco controle

  • Produto homogêneo, facilmente substituível

  • Baixa diferenciação que nos coloca em competição direta com outros produtores

  • Pouco investimento em P&D, inovação e desenvolvimento de marcas

Essa especialização nos torna extremamente eficientes na produção, mas vulneráveis e dependentes. Ficamos à mercê de preços definidos externamente, enquanto outros países capturam o valor através do processamento, branding e distribuição.

O resultado é um ciclo vicioso que pode ser resumido em quatro passos devastadores:

  1. Brasil vende grão barato

  2. Europa processa e agrega valor

  3. Brasil reimporta produto final

  4. Pagamos 70x mais pelo nosso próprio café!

Esta não é apenas uma questão econômica, mas um problema de desenvolvimento nacional. Quando exportamos matéria-prima e importamos produtos acabados, estamos essencialmente financiando a industrialização e a criação de empregos qualificados em outros países.

O caso Dolce Gusto: um exemplo gritante.

Quando olhamos quem exporta café torrado (processado), o Brasil nem aparece entre os líderes. A Suíça (19,36%), Itália (15,04%) e Alemanha (13,92%) dominam este mercado muito mais lucrativo.

Para ilustrar essa dinâmica perversa, basta olharmos para o caso concreto da Dolce Gusto na Alemanha:

A empresa instalou uma nova fábrica que oferece:

  • 350 empregos bem pagos

  • Localização estratégica no coração da Europa

  • Alta tecnologia e processos industriais avançados

  • Forte agregação de valor à matéria-prima

Enquanto isso, o Brasil fornece o insumo básico: um saco de café de 60kg, vendido por aproximadamente R$400 (R$6,60/kg), que será transformado em cápsulas comercializadas no varejo por R$400/kg.

A matemática é implacável: enquanto geramos alguns empregos rurais de baixa remuneração, a Alemanha cria centenas de postos de trabalho qualificados, bem remunerados e com alta produtividade. Enquanto exportamos um produto primário sujeito a oscilações de preço e condições climáticas, eles exportam tecnologia, design e experiência de consumo.

E o mais irônico: muitas vezes importamos de volta, a preços premium, produtos feitos com nosso próprio café.

Essa dinâmica da cadeia global de valor, onde países em desenvolvimento ficam presos nas etapas menos rentáveis, enquanto nações desenvolvidas dominam os elos mais lucrativos, é um tema que exploramos detalhadamente em nosso curso sobre economia para entender o Brasil.

Brasil vs. Starbucks: quem é realmente a potência?

A comparação entre o Brasil e uma única empresa de café revela a magnitude desse desequilíbrio:

  • Faturamento da Starbucks: US$ 36 bilhões/ano (dado de 2023)

  • Produção brasileira de café em grão: 50,4 milhões de sacas e faturamento de US$ 12,5 bilhões/ano (dado de 2024)

Isso mesmo: uma única rede de cafeterias gera quase três vezes mais receita do que todo o setor cafeeiro do maior produtor mundial! E não é por acaso: a Starbucks não vende apenas café, mas experiências, ambientes, status e uma marca global.

Esta comparação brutal nos força a confrontar uma verdade incômoda: somos gigantes na produção, mas pequenos no valor agregado. Produzimos em quantidade, mas não controlamos as etapas que realmente geram riqueza, empregos qualificados e desenvolvimento tecnológico.

A transformação necessária: de peão a player estratégico.

O mercado global de café cresceu consistentemente, alcançando mais de US$ 60 bilhões em 2017. As categorias de maior valor agregado, como cápsulas e café pronto para beber, são as que mais crescem - mas o Brasil está praticamente ausente nestes segmentos.

O Brasil não está condenado a permanecer eternamente nessa posição desfavorável. Podemos e devemos transformar nossa relação com o café e outras commodities.

Outros países produtores já começaram essa jornada. A Colômbia, por exemplo, investiu pesadamente na diferenciação do seu café, criando denominações de origem, promovendo cafés especiais e desenvolvendo marcas nacionais com reconhecimento global. O resultado? Seus produtores conseguem preços significativamente melhores do que os brasileiros, mesmo com volume menor.

Para quebrar esse ciclo vicioso, precisamos de uma estratégia nacional ambiciosa que inclua:

  • Investimento em pesquisa e desenvolvimento para criar produtos diferenciados

  • Fomento à industrialização local e ao processamento avançado

  • Desenvolvimento de marcas brasileiras fortes com presença internacional

  • Criação de certificações, denominações de origem e padrões de qualidade reconhecíveis

  • Apoio a startups e empreendedores que possam inovar na cadeia do café

Isso não significa abandonar nossa força na produção primária, mas complementá-la com atividades de maior valor agregado. Precisamos estar presentes em todos os elos da cadeia, especialmente naqueles que capturam mais valor.

Até quando seremos apenas o celeiro do mundo?

Esta é a pergunta que deve nos inquietar e mobilizar. A verdadeira riqueza das nações modernas não está na terra ou nos recursos naturais, mas na capacidade de agregar valor, inovar e controlar cadeias produtivas estratégicas.

Países que se desenvolveram nas últimas décadas entenderam essa lição fundamental. Coreia do Sul, Taiwan e China não se contentaram em ser fornecedores de matérias-primas ou montadores de baixo custo — eles ascenderam na cadeia de valor global até se tornarem líderes em tecnologia e inovação.

O caso do café brasileiro é emblemático de um modelo econômico que nos mantém presos à "armadilha das commodities": exportamos natureza e importamos conhecimento, num ciclo que perpetua dependência e subdesenvolvimento.

Curiosamente, enquanto o Brasil na década de 1980 tinha um parque industrial mais diversificado que a Coreia do Sul, hoje nos encontramos exportando principalmente commodities enquanto a Coreia produz alguns dos bens mais sofisticados do mundo.

Este paradoxo de como uma economia com enormes vantagens iniciais perdeu dinamismo enquanto outras avançaram rapidamente desafia as explicações econômicas convencionais e revela falhas estruturais profundas em nosso modelo de desenvolvimento que vão muito além das políticas de curto prazo.

Quebrar esse ciclo exigirá não apenas políticas públicas coerentes, mas uma mudança de mentalidade. Precisamos superar o orgulho superficial de ser o "país do café" para ambicionar ser protagonistas em toda a cadeia de valor desse produto.

Porque no final, a questão fundamental permanece: queremos ser potência ou peão no tabuleiro global do café?

O mito do Brasil cafeeiro precisa dar lugar a uma nova narrativa — uma em que não apenas colhemos grãos, mas também colhemos o valor e a inovação que podem transformar nossa economia e sociedade.

Um grande abraço!

Paulo Gala    


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Maioria das principais importações do Brasil depende apenas de 1 ou 2 países, diz estudo

Marquezan Araújo

A maior parte dos 10 produtos mais importados pelo Brasil veio de apenas um ou dois países, entre 2015 e 2024. É o que revela novo estudo divulgado pela Nexus - Pesquisa e Inteligência de Dados. De acordo com o levantamento, no ano passado, 7 itens estavam nessa situação. Desse total, 5 vieram dos Estados Unidos. O país norte-americano lidera a concentração desses importados na última década.

A maior parte dos 10 produtos mais importados pelo Brasil veio de apenas um ou dois países, entre 2015 e 2024. É o que revela novo estudo divulgado pela Nexus - Pesquisa e Inteligência de Dados. De acordo com o levantamento, no ano passado, sete itens estavam nessa situação. Desse total, cinco vieram dos Estados Unidos. O país norte-americano lidera a concentração desses importados na última década. 

Os dados foram elaborados a partir de informações do Comex Stat, do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços. Para classificar os produtos mais importados foi levado em conta o valor em dólares e não o volume de importações. 

O top 10 corresponde entre 8% e 22% do total de importações brasileiras por ano, a depender do ano. Em 2024, por exemplo, a taxa foi de 16,6%. Todos os produtos com mais de 60% vindos de apenas um ou dois países foram considerados com alta concentração. Ao longo de todo o período analisado, pelo menos 6 itens estavam nessa condição. O indicador chegou a 9 nos anos de 2021 e 2022.

Importações de óleo diesel

Ao longo dos 10 anos analisados, 28 produtos se apresentam no top 10. De acordo com o levantamento, somente 3 estão presentes todos os anos: diesel, óleos brutos de petróleo e outros cloretos de potássio, insumo para fertilizantes e outros usos industriais.

Em 120 dias de 2025, governo gastou R$ 1,7 trilhão

Desses, apenas o óleo diesel teve mais de 60% vindo de um ou dois países no período analisado. Trata-se do principal item importado, em 1º lugar entre 2016 e 2023. Os Estados Unidos são o principal vendedor para o Brasil, responsável por pelo menos 74% de todo óleo diesel importado por ano entre 2016 e 2020. 
  

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SIMPLES NACIONAL: nova funcionalidade no PGMEI permite gerar DAS de forma consolidada

Marquezan Araújo

Os microempreendedores individuais (MEIs) já podem acessar a nova ferramenta que permite a emissão de um único Documento de Arrecadação do Simples Nacional (DAS) para pagar vários meses de tributos. A medida se aplica a tributos vencidos, a vencer e aos que ainda estiverem em aberto.

Os microempreendedores individuais (MEIs) já podem acessar a nova ferramenta que permite a emissão de um único Documento de Arrecadação do Simples Nacional (DAS) para pagar vários meses de tributos. A medida se aplica a tributos vencidos, a vencer e aos que ainda estiverem em aberto.

Trata-se de uma inovação do Programa Gerador do Documento de Arrecadação do Simples Nacional - Microempreendedor Individual (PGMEI), pela qual é possível resolver pendências de forma consolidada. Por meio da iniciativa, o contribuinte ganha tempo e reduz chances de erros. 

Antes disso, era necessário gerar e pagar um boleto por mês, o que tornava o processo mais trabalhoso e demorado. Essa nova função foi estabelecida a partir de uma parceria entre a Receita Federal e Serpro. 

Gasto Brasil: nova ferramenta exibe despesas públicas em tempo real e reforça controle social

Segundo o gerente da Divisão de Negócios responsável pelo tema MEI no Serpro, Yuri Bassakin, a medida representa um avanço importante no cumprimento das obrigações fiscais, já que facilita esse tipo de procedimento por parte dessa categoria de profissionais. Na avaliação dele, a iniciativa simplifica a regularização dos contribuintes, que não vão mais precisar emitir e pagar cada documento individualmente.

Como utilizar a ferramenta?

Para gerar o Documento de Arrecadação do Simples Nacional consolidado, o microempreendedor individual precisa acessar o PGMEI pelo Portal do Simples Nacional. Depois, basta selecionar os períodos desejados e emitir o documento. Os links oficiais são:

Portal do Simples Nacional:

https://www8.receita.fazenda.gov.br/simplesnacional/

PGMEI - Versão aberta:

https://www8.receita.fazenda.gov.br/SimplesNacional/Aplicacoes/ATSPO/pgmei.app/Identificacao

PGMEI - Versão completa:

https://www8.receita.fazenda.gov.br/SimplesNacional/Servicos/Grupo.aspx?grp=t&area=2

  

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Demanda fraca e juros altos elevam preocupação da indústria no início de 2025

Lívia Braz

A indústria brasileira iniciou 2025 sob pressão. A demanda interna insuficiente ganhou destaque entre os principais desafios enfrentados pelos empresários, segundo a Sondagem Industrial divulgada esta semana pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). O problema, que ocupava a quinta posição no fim de 2024, agora divide o segundo lugar com as elevadas taxas de juros, atrás apenas da alta carga tributária — apontada por 33,3% dos industriais.

A indústria brasileira iniciou 2025 sob pressão. A demanda interna insuficiente ganhou destaque entre os principais desafios enfrentados pelos empresários, segundo a Sondagem Industrial divulgada esta semana pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). O problema, que ocupava a quinta posição no fim de 2024, agora divide o segundo lugar com as elevadas taxas de juros, atrás apenas da alta carga tributária — apontada por 33,3% dos entrevistados.

De acordo com Marcelo Azevedo, gerente de Análise Econômica da CNI, a retração da demanda é reflexo direto do aperto monetário e da redução dos gastos públicos. “A demanda é o motor da atividade industrial. Quando ela enfraquece, o empresário hesita em investir, contratar e produzir”, explica.

Além dessas questões, a falta ou alto custo de mão de obra qualificada (22,4%) e de matérias-primas (21,3%) também figuram entre os cinco principais entraves para o setor. Os dados ainda apontam um agravamento das condições financeiras das empresas. O índice de satisfação com a situação financeira caiu para 48,8 pontos, abaixo da linha dos 50 pontos, sinalizando uma percepção negativa. A dificuldade de acesso ao crédito também aumentou, com o indicador recuando para 40,4 pontos.

Desempenho da atividade industrial

O desempenho da atividade industrial, que vinha em ritmo positivo nos primeiros meses do ano, registrou recuo em março. O índice de evolução da produção caiu para 49 pontos, indicando retração. Situação semelhante foi registrada no emprego industrial, com o índice fechando março em 49,2 pontos — ambos os piores resultados para o mês desde 2020.

Apesar das dificuldades, os empresários seguem com expectativas positivas para os próximos meses. As projeções para demanda, exportações, contratações e compras de insumos continuam acima da linha dos 50 pontos, embora com leve recuo em relação a março. Já a intenção de investir diminuiu pelo segundo mês seguido, atingindo 56,4 pontos.

A pesquisa ouviu 1.522 empresas entre os dias 1º e 10 de abril, sendo 608 de pequeno porte, 538 médias e 376 grandes. O levantamento traz um retrato preocupante do cenário industrial, que, embora mantenha o otimismo com o futuro, sente os efeitos imediatos da combinação de juros altos, carga tributária elevada e demanda fraca.


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Déficit de investimentos em Drenagem e Manejo de Águas Pluviais têm sido, em média, de R$ 12,3 bilhões ao ano

Marquezan Araújo

O mais recente estudo divulgado pelo Instituto Trata Brasil revela que, entre 2017 e 2023, os investimentos em Drenagem e Manejo de Águas Pluviais têm sido, em média, de cerca de R$ 10 bilhões por ano. O valor é relativamente baixo, se levado em conta a estimativa necessária apresentada pelo Ministério do Desenvolvimento Regional, com base em dados de 2022.

O mais recente estudo divulgado pelo Instituto Trata Brasil revela que, entre 2017 e 2023, os investimentos em Drenagem e Manejo de Águas Pluviais têm sido, em média, de cerca de R$ 10 bilhões por ano. O valor é relativamente baixo, se levado em conta a estimativa necessária apresentada pelo Ministério do Desenvolvimento Regional, com base em dados de 2022. 

De acordo com a Pasta, existe uma necessidade de investimentos da ordem de R$ 250,5 bilhões entre 2021 e 2033, a preços de dezembro de 2021. Essa quantia corresponde a R$ 250 bilhões a preços de junho de 2023. 

Nordeste tem maior número de municípios sem Planos Diretores de Drenagem e Manejo de Águas Pluviais

De maneira geral, o advogado especialista em direito ambiental, Caio Freitas, avalia que o setor de saneamento básico nem sempre recebe a atenção necessária. Para ele, o avanço na cobertura dos serviços não ocorre na velocidade desejada, pela falta de priorização política do assunto.

“O saneamento básico nunca esteve ou poucas vezes esteve tanto em evidência na mídia e no debate público como agora, desde a aprovação do novo marco legal. A mídia faz uma cobertura constante sobre o assunto, mas ainda assim parece que isso não foi capaz de mobilizar as autoridades para destinar recursos especificamente para que os projetos e as obras possam acontecer”, pontua. 

“Talvez ainda prevaleça no setor aquela antiga máxima de que o saneamento básico não é um setor a ser priorizado, porque as obras decorrentes não geram grande visibilidade por serem obras enterradas e, por isso, não dão voto”, complementa Freitas.

Investimentos Totais em Drenagem e Manejo de Águas Pluviais (R$ Bilhões, Valores de Jun./2023)

Fonte: Trata Brasil

Sem levar em conta investimentos feitos entre 2021 e 2023, a projeção é de que haja uma necessidade de se investir R$ 223,3 bilhões, ou R$ 22,3 bilhões por ano. Ou seja, seria preciso mais que dobrar o valor praticado atualmente. Se for considerando a quantia por habitante, o investimento também deve mais que o dobro, passando de R$ 43,79, realizado em 2023, para R$ 117,01.
  

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O que acontece quando um país se contenta em ser a fábrica dos outros?

Você já parou para pensar por que pagamos tanto por carros no Brasil, mesmo tendo dezenas de montadoras instaladas no país?

Ou por que, depois de mais de 60 anos de indústria automobilística, ainda não temos uma marca genuinamente brasileira competindo globalmente?

Enquanto a Alemanha domina o mercado com BMW, Mercedes, Volkswagen e Porsche, o Brasil se contenta em montar veículos projetados no exterior. É como se fôssemos eternos aprendizes, nunca mestres.

Se continuarmos assim, em 2050 ainda estaremos montando carros enquanto outros países estarão desenvolvendo os veículos autônomos e sistemas de mobilidade do futuro.

Vamos entender como o Brasil perdeu a corrida da indústria automotiva e o que isso nos ensina sobre desenvolvimento tecnológico.

Da Oportunidade Perdida à Dependência Tecnológica

A história da indústria automobilística brasileira é um caso clássico de oportunidade desperdiçada.

Enquanto países como Coreia do Sul e Japão transformaram suas indústrias automotivas em plataformas de desenvolvimento tecnológico, o Brasil se contentou com um papel secundário na cadeia global.

Por Que Montamos em Vez de Fabricar?

  • Falta de Políticas de Desenvolvimento Tecnológico

    • O Brasil nunca exigiu efetivamente transferência de tecnologia

    • Incentivos fiscais foram dados sem contrapartidas de inovação

    • Não investimos adequadamente em centros de P&D nacionais

    • Contentamo-nos com a geração de empregos básicos, não qualificados

  • A Armadilha da Vantagem Comparativa

    • Nos especializamos nas etapas menos complexas da cadeia produtiva

    • O valor agregado dos componentes de alta tecnologia vai para o exterior

    • Como na agricultura, o Brasil fica com a parte menos rentável do processo

    • O conhecimento estratégico permanece nos países de origem das montadoras

  • O Contraste com Outros Países

    • A Coreia do Sul partiu do zero para criar a Hyundai e a Kia

    • A China está desenvolvendo rapidamente marcas próprias como BYD e Geely

    • Mesmo a Índia tem a Tata Motors competindo globalmente

    • O Brasil, com mercado maior que muitos desses países, não conseguiu desenvolver nenhuma marca global

Esse padrão de especialização em atividades de baixa complexidade, aliás, é algo que exploramos profundamente em nosso curso sobre desenvolvimento econômico brasileiro, onde analisamos como a complexidade produtiva influencia a trajetória de crescimento de longo prazo dos países.

A Matemática do Valor Agregado

Imagem mostrando gráfico de barras da receita da indústria automobilística alemã de 2013 a 2023, revelando crescimento para 564 bilhões de euros e domínio tecnológico"

Assim como comparamos a produção de Super Tucanos da Embraer com a soja, podemos fazer um paralelo na indústria automotiva:

Quem Fica com o Valor?

  • Um carro de luxo alemão vendido por US$ 100 mil tem aproximadamente:

    • 70% do valor em design, engenharia, software e marca

    • 30% em manufatura, montagem e materiais

  • Quando o Brasil apenas monta carros:

    • Ficamos com menos de 30% do valor total

    • Os melhores empregos e salários ficam no exterior

    • A inovação e propriedade intelectual permanecem fora

É como se exportássemos minério de ferro para importar carros - mas com uma etapa adicional no meio.

O resultado final é o mesmo: ficamos com a menor parte do valor.

O Alto Preço da Baixa Complexidade

O reflexo dessa escolha é visível em nosso dia a dia:

  • Carros Caros e Defasados

    • Brasileiros trabalham mais que europeus para comprar carros similares

    • Nossa indústria está sempre alguns anos atrás em tecnologia

    • Mesmo produzindo localmente, não conseguimos preços competitivos

  • Déficit Tecnológico Crescente

    • Com a eletrificação e sistemas autônomos, o gap aumentará

    • Software, baterias e sistemas de IA são o futuro - áreas em que estamos atrasados

    • A revolução da mobilidade ocorrerá sem participação brasileira significativa

Repensando o Futuro Automotivo Brasileiro

"Da necessidade surge a oportunidade," mas precisamos transformar essa oportunidade em ação estratégica.

O Brasil não precisa aceitar o papel de simples montador.

Assim como a Embraer provou ser possível competir globalmente em aeronaves, poderíamos desenvolver competências próprias em nichos da indústria automotiva.

Precisamos de:

  • Uma política industrial que exija contrapartidas tecnológicas

  • Investimento massivo em educação técnica e engenharia

  • Incentivos direcionados para P&D nacional

  • Foco em áreas emergentes onde ainda há espaço para novos players

A indústria automotiva global está em transformação.

Veículos elétricos, autônomos e compartilhados estão criando oportunidades para novos entrantes. É nossa chance de repensar nosso papel.

Afinal, não queremos apenas "montar o futuro" - queremos criá-lo.

Um grande abraço!

Paulo Gala

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O Enigma do PIB Estagnado: 30 Anos de Crescimento Medíocre e Como Reverter Isso

As armadilhas econômicas que impedem o Brasil de decolar

Você já se perguntou por que, apesar de tantos planos e promessas, o Brasil parece estar sempre correndo para ficar no mesmo lugar?

Imagine acordar todo dia em um país com potencial imenso – recursos naturais abundantes, uma população talentosa e criativa, universidades de ponta – mas que, década após década, cresce menos que outros países emergentes. Esta é a realidade brasileira: um gigante atado por cordas invisíveis.

Se nada mudar, corremos o risco de completar quatro décadas de crescimento medíocre, muito abaixo do nosso potencial, enquanto assistimos outros países emergentes ultrapassarem nossos indicadores econômicos um após o outro.

Vamos desvendar o enigma do PIB estagnado e entender as armadilhas que nos mantêm presos a esse ciclo de baixo crescimento.

O Enigma dos 30 Anos

Em 1980, o Brasil tinha metade da renda per capita dos Estados Unidos. Hoje, essa proporção caiu drasticamente, evidenciando um distanciamento crescente entre nosso potencial e nossa realidade econômica.

As Raízes da Estagnação

  • A Armadilha da Estabilização

    • Desde o Plano Real, o Brasil transformou o combate à inflação não apenas em uma prioridade, mas em projeto único de nação

    • Juros constantemente elevados para manter estabilidade sufocam investimentos produtivos

    • A obsessão por estabilidade substituiu qualquer projeto consistente de desenvolvimento

  • O Paradoxo da Modernização Sem Industrialização

    • Enquanto nos tornamos líderes em commodities, nossa indústria de transformação encolheu

    • A desindustrialização precoce reduz a criação de empregos qualificados

    • A falta de políticas industriais coerentes impede a evolução tecnológica

  • O Peso do Câmbio Desalinhado

    • Nossa moeda frequentemente sobrevalorizada prejudica a competitividade industrial

    • O câmbio desalinhado beneficia importações em detrimento da produção nacional

    • Estudos mostram que períodos de câmbio competitivo coincidem com crescimento industrial

O Contraste Com Outras Economias Emergentes

A diferença entre o Brasil e outros emergentes se torna ainda mais evidente quando olhamos para números concretos:

Enquanto a China e a Índia Avançam

  • Ambos mantiveram taxas de crescimento consistentemente superiores a 6% ao ano

  • Investiram pesadamente em políticas industriais orientadas para o futuro

  • Desenvolveram estratégias claras para incrementar sua complexidade econômica

O Brasil Permanece Estagnado

  • Crescimento médio abaixo de 2% nas últimas décadas

  • Indústria perdendo participação no PIB

  • Infraestrutura cada vez mais defasada em relação a outros emergentes

A Ilusão das Soluções Mágicas

Muitos acreditam que uma única reforma ou política poderia resolver nossos problemas de crescimento. A realidade é mais complexa:

  • A Falácia do "Estado Mínimo"

    • Países que se desenvolveram recentemente, como Coreia do Sul, fizeram isso com forte presença estatal

    • O Estado não precisa ser mínimo, mas inteligente e estratégico na promoção do desenvolvimento

  • O Mito do Brasil "Fechado"

    • Nossas tarifas caíram de 40% para menos de 10% desde os anos 90

    • O problema não é abertura comercial, mas falta de estratégia industrial

  • A Armadilha da Dependência Tecnológica

    • O valor de produtos tecnológicos é muito maior que o de commodities

    • Mesmo nosso setor agrícola depende de tecnologias importadas

Esta questão da estagnação de longo prazo, por sinal, é um dos temas centrais que abordamos em nosso curso sobre desenvolvimento econômico brasileiro, onde analisamos como diferentes escolhas de política econômica levaram a trajetórias distintas entre os países emergentes nas últimas décadas.

Como Reverter o Quadro?

O Brasil não está condenado à estagnação. Podemos retomar o crescimento sustentável se tivermos coragem de fazer algumas escolhas estratégicas:

  1. Repensar a Relação Entre Estabilidade e Desenvolvimento

    • Estabilidade é meio, não fim

    • É possível combater a inflação sem sacrificar completamente o crescimento

  2. Adotar um Câmbio de Equilíbrio

    • Um câmbio competitivo (próximo a R$ 6) tornaria os custos brasileiros alinhados globalmente

    • A experiência de países asiáticos comprova a importância do câmbio para o desenvolvimento

  3. Investir em Complexidade Econômica

    • Diversificar para além das commodities

    • Fomentar setores de maior valor agregado, como a indústria aeroespacial (caso Embraer)

  4. Integrar Políticas Macro e Microeconômicas

    • Evitar a desarticulação entre política macroeconômica e industrial

    • Garantir que juros e câmbio não neutralizem esforços de desenvolvimento

Como diz o velho ditado: "A melhor época para plantar uma árvore foi há 20 anos. A segunda melhor é agora."

O Brasil já perdeu décadas valiosas de desenvolvimento. Mas ainda temos a oportunidade de mudar nosso destino econômico, desde que tenhamos a coragem de questionar dogmas estabelecidos e fazer escolhas estratégicas para o futuro.

Um grande abraço!

Paulo Gala

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Pix acima de R$ 5 mil: entenda o que muda com novas regras de monitoramento da Receita Federal

Marquezan Araújo

Com o intuito de ampliar o monitoramento de transações financeiras no Brasil, a Receita Federal incluiu operadoras de cartões de crédito e plataformas de pagamento na obrigação de reportar informações financeiras. A medida foi estabelecida por meio da Instrução Normativa 2.219/2024. De acordo com a Receita, as movimentações financeiras acima de R$ 5 mil para pessoas físicas devem ser reportadas. No caso das empresas, o limite é de R$ 15 mil mensais.

    Com o intuito de ampliar o monitoramento de transações financeiras no Brasil, a Receita Federal incluiu operadoras de cartões de crédito e plataformas de pagamento na obrigação de reportar informações financeiras. A medida foi estabelecida por meio da Instrução Normativa 2.219/2024.

Mas, afinal, o que deve mudar a partir dessas novas regras? Inicialmente, vale destacar que o novo formato está em vigor desde o dia 1° de janeiro de 2025. De acordo com a Receita, as movimentações financeiras acima de R$ 5 mil para pessoas físicas devem ser reportadas. No caso das empresas, o limite é de R$ 15 mil mensais. 

Os dados coletados serão enviados semestralmente, até agosto e fevereiro de cada ano. As informações serão repassadas por meio de uma declaração emitida na plataforma e-Financeira, que faz parte do Sistema Público de Escrituração Digital (Sped).

Para uma melhor compreensão, imaginemos uma pessoa que realiza uma transferência de sua conta para um terceiro, via Pix. Nessa transação, não se identifica, na e-Financeira, para quem ou a que título esse valor individual foi enviado. Então, ao final de um mês, todos os valores que saíram da conta são somados, inclusive saques.

Caso o total ultrapasse o limite de R$ 5 mil para uma pessoa física, ou de R$ 15 mil para uma pessoa jurídica, a instituição financeira prestará essa informação à Receita Federal.

Pix no radar da Receita Federal 

A regra vale para operadoras de cartões, aplicativos de pagamento e bancos digitais. Com isso, as transações via Pix, além de movimentações financeiras com cartão de crédito, entram no radar da Receita Federal. 

Até então, somente instituições financeiras tradicionais, como bancos e cooperativas de crédito, tinham obrigatoriedade de informar dados sobre esse tipo de operação. 

O governo federal afirma que as alterações não implicam qualquer aumento de tributação, e que a medida visa melhorar o gerenciamento de riscos pela administração tributária.

Como os dados serão informados

O envio das informações será feito por meio do sistema eletrônico e-Financeira, que centraliza dados financeiros para fins de monitoramento fiscal. Esse sistema já é utilizado na coleta de dados de contas bancárias, previdência privada e investimentos, por exemplo. 

De acordo com a Receita Federal, a medida visa reforçar o combate à evasão fiscal e promover a transparência. Por meio de nota, o órgão destacou que as novas regras estão alinhadas aos compromissos internacionais do Brasil. O intuito é elevar o controle sobre operações financeiras e facilitar a fiscalização.

Os primeiros dados deverão ser reportados em agosto deste ano, levando em conta as movimentações financeiras realizadas no primeiro semestre. O prazo para o segundo semestre será fevereiro do próximo ano. 

Opinião do setor contábil 

Ao Brasil 61, a Associação Nacional dos Profissionais da Contabilidade (Asscon) informou que vê as novas regras de controle social e financeiro com preocupação, já que os principais afetados são as pessoas mais vulneráveis. “Enquanto isso, movimentações atípicas e milionárias nunca foram efetivamente combatidas, apesar das alegações da Receita Federal de que fiscaliza essas situações”, destaca em nota. 

De toda forma, a entidade aponta vantagens e desvantagens destacadas a partir dessa medida. Em relação aos pontos positivos, a Asscon considera, por exemplo, maior transparência, já que há uma centralização das informações financeiras no sistema de controle. Além disso, é uma forma de combater a evasão fiscal. 

No entanto, a associação aponta que as novas regras promovem aumento da burocracia para algumas entidades, assim como a obrigatoriedade de prestar informações e custos adicionais. Outra desvantagem está relacionada à privacidade do contribuinte, já que mais informações serão compartilhadas com a Receita Federal. “A população está preocupada com a possibilidade de ser vigiada e com o risco de cair na malha fina, especialmente se fizerem PIX em pequenas partes”, afirma.

Outros pontos de atenção para o contribuinte, de acordo com a Asscon

  • Obrigatoriedade de apresentação: A e-Financeira deve ser apresentada por diversas entidades, incluindo instituições financeiras, seguradoras e empresas que gerenciam contas de pagamento e moeda eletrônica.
  • Extinção de declarações anteriores: A entrega da Declaração de Operações com Cartões de Crédito (Decred) será dispensada para fatos ocorridos a partir de 1º de janeiro de 2025.
  • Novos declarantes e contas: Há inclusão de novos declarantes e contas no Módulo de Operações Financeiras, além da extinção do Módulo de Movimentação Financeira Anual.
  • Disponibilidade na declaração pré-preenchida: Os dados recebidos poderão ser disponibilizados na declaração pré-preenchida do imposto de renda da pessoa física no ano seguinte, evitando-se divergências.
  • Obrigatoriedade de submissão ao SPED: De acordo com o artigo 9° da IN RFB n°2.219/2024, todas as instituições que operam com movimentações financeiras ou transações que rentabilizam seus clientes devem submeter a e-Financeira ao SPED. Isso inclui empresas custodiantes de ativos financeiros, administradoras de consórcios, instituições financeiras depositárias, administradoras de fundos de investimento, instituições intermediárias, empresas que realizam transações financeiras no mercado de câmbio e outras instituições com relacionamento final com cliente.
  • Limites de movimentação: Aumento dos limites de movimentação para a apresentação do Módulo Mensal.

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Serasa: mais de 31% das empresas do país começaram o ano endividadas

Bianca Mingote

Dados do Indicador de Inadimplência da Serasa Experian revelam que o ano de 2024 fechou com 6,9 milhões de empresas inadimplentes – equivalente a 31,6% das companhias existentes no país. Em comparação com dezembro de 2023, houve um aumento de 300 mil no número de negócios negativados. O setor de Serviços foi o mais afetado, representando 55,3% das empresas com débitos.

Dados  do Indicador de Inadimplência da Serasa Experian revelam que o ano de 2024 fechou com 6,9 milhões de  empresas inadimplentes – equivalente a 31,6% das companhias existentes no país. Em comparação com dezembro de 2023, houve um aumento de 300 mil no número de negócios negativados. O setor de Serviços foi o mais afetado, representando 55,3% das empresas com débitos.

O índice também foi impulsionado pelo Comércio, que correspondeu a 35,4% do total. Além disso, as Indústrias afetadas somaram 8,0%, o setor Primário, 1,0%, e Outros, 0,3%. 

O indicador traz, ainda, que o setor com mais dívidas em dezembro de 2024 foi o de Serviços (31,6%). Já o segmento com menos atrasos foi o de Securitizadoras (0,7%). 

Em relação aos estados, Alagoas liderou o ranking com mais empresas negativadas no país no ano passado, registrando 41,0% na proporção de empresas inadimplentes. O Distrito Federal aparece logo em seguida, com 39,8%, e Pará, com 39,2%. 

Em contrapartida, Espírito Santo (25,1%), Piauí (24,9%) e Santa Catarina (24,2%) registaram menos companhias com contas em atraso. 

Conforme os dados do Serasa Experian, em dezembro do ano passado as dívidas atrasadas chegaram a R$ 50,2 milhões, totalizando R$ 150,6 bilhões, cum uma média de 7,2 boletos e R$ 21.678,1 devidos por empresa. 

Os micros e pequenos negócios representaram a maior parcela dos devedores, com 6,5 milhões de negativados.

Com informações da Serasa Experian, Bianca Mingote.

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Energia Vital: O Poder do Metabolismo para uma Saúde Infinita

Good Energy: The Surprising Connection Between Metabolism and Limitless Health, de Dr. Casey Means, explora como a função metabólica é fundamental para a saúde geral e o bem-estar. A autora argumenta que muitos problemas de saúde comuns podem ser atribuídos à forma como nossas células produzem e utilizam energia.

Principais Ideias do Livro

1. Função Metabólica como Pilar da Saúde

Dr. Means destaca que a função metabólica é um dos fatores mais importantes e menos compreendidos na saúde humana. Ela sugere que condições como depressão, ansiedade, infertilidade, insônia, doenças cardíacas, diabetes tipo 2, Alzheimer e câncer podem compartilhar uma causa raiz comum relacionada ao metabolismo celular.

2. Produção de Energia Celular

A autora enfatiza a importância de as células produzirem “boa energia” para manter o bem-estar físico e mental. Quando as células não funcionam de maneira otimizada, podem surgir sintomas e doenças.

3. Sinais de “Má Energia” como Alertas Precoces

Sintomas menores, como fadiga ou névoa mental, são vistos como sinais de “má energia” no corpo, indicando possíveis problemas metabólicos que, se não tratados, podem levar a doenças mais graves no futuro.

4. Monitoramento e Melhoria da Saúde Metabólica

Dr. Means sugere que, com as tecnologias atuais, é possível monitorar detalhadamente a saúde metabólica e tomar medidas proativas para melhorá-la. Ela propõe um plano de quatro semanas que inclui:

• Identificação de Biomarcadores: Reconhecer cinco biomarcadores que determinam o risco de doenças graves.

• Princípios Alimentares: Implementar seis princípios alimentares que podem ser adotados por qualquer pessoa, independentemente de seguir uma dieta carnívora ou vegana.

• Relação entre Sono e Metabolismo: Compreender a ligação crucial entre sono, ritmo circadiano e metabolismo.

• Exercício e Movimento: Estabelecer uma rotina de exercícios que incorpore movimentos simples no dia a dia.

• Exposição ao Frio e ao Calor: Utilizar a exposição ao frio e ao calor para aumentar a resiliência do corpo.

• Navegação no Sistema de Saúde: Aprender a interagir com o sistema médico para obter o necessário para uma saúde ideal.

Reflexões Finais

Good Energy oferece uma nova compreensão sobre as causas subjacentes das doenças, enfatizando a importância da saúde metabólica. Ao combinar pesquisas de ponta com histórias pessoais, Dr. Casey Means fornece um guia prático para otimizar a produção de energia celular e alcançar uma saúde ilimitada.


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Tucanos da Embraer e soja do cerrado: O Contraste entre a Exportação de Commodities e Produtos Tecnológicos no Brasil

A exportação de 22 aeronaves Embraer A-29 Super Tucano, que gerará aproximadamente US$ 396 milhões em divisas em dezembro de 2024, é um exemplo emblemático da importância de produtos de alto valor agregado na pauta exportadora brasileira. Esse montante é equivalente ao valor gerado pela exportação de 1,08 milhão de toneladas de soja, que exige a utilização de aproximadamente 341 mil hectares de área plantada, além de recursos significativos em termos de irrigação, colheita, transporte e logística.

A comparação ilustra a diferença estrutural entre exportar produtos de alta tecnologia, como aeronaves, e commodities agrícolas. No caso da soja, o Brasil precisa mobilizar vastas extensões de terra fértil, demandar altos volumes de insumos agrícolas e enfrentar os desafios ambientais e logísticos para escoar a produção. Por outro lado, a exportação de aeronaves envolve um setor intensivo em conhecimento e tecnologia, capaz de gerar um impacto econômico expressivo em menor escala de recursos físicos e ambientais.

Essa disparidade também revela o potencial estratégico da indústria de alta tecnologia para o Brasil. Setores como o aeroespacial podem gerar mais riqueza por unidade exportada, reduzir a dependência de commodities e criar empregos qualificados. Além disso, investimentos em tecnologia incentivam a inovação, a transferência de conhecimento e o fortalecimento das cadeias produtivas locais.

Por fim, essa análise reforça a necessidade de políticas públicas e privadas que diversifiquem a pauta exportadora brasileira, estimulando a produção de bens de maior valor agregado. Embora o agronegócio continue sendo fundamental para a economia nacional, um equilíbrio maior entre commodities e produtos tecnológicos é essencial para garantir sustentabilidade econômica e competitividade global no longo prazo.


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Desemprego em mínima histórica no Brasil

A taxa de desemprego divulgada pela PNAD Contínua do IBGE foi de 6,1%, a menor da série histórica, indicando um mercado de trabalho aquecido. A população ocupada chegou a 103,9 milhões de pessoas, enquanto a população desocupada foi estimada em 6,8 milhões. O desalento está em queda, com mais pessoas voltando a buscar emprego, e o aumento dos pedidos de demissão voluntária reforça o movimento de trabalhadores migrando para empregos melhores. O CAGED registrou a criação de 106 mil vagas formais em novembro, ligeiramente abaixo da expectativa de 125 mil, mas ainda consistente com um mercado formal em expansão. A PNAD também apontou um recorde de empregos com carteira assinada, embora mais da metade dos trabalhadores ainda estejam no mercado informal ou em empregos de baixa qualidade. O subemprego, entendido como ocupações abaixo do desejado em termos de horas e remuneração, também atingiu o menor nível desde 2015.

No campo econômico, o crescimento do Brasil foi de 3,5% em 2024, mas a inflação segue como um desafio. O IPCA-15 (novembro-dezembro) registrou alta de 0,34%, abaixo dos 0,64% de novembro. Ainda assim, a média dos núcleos de inflação subiu de 3,95% para 4,08%, com a difusão de preços passando de 57% para 61,9%, refletindo aumentos mais amplos, especialmente em serviços e bens transacionáveis, pressionados pelo câmbio desvalorizado. A inflação acumulada no ano ficou em 4,71%, acima da meta de 3%, mas abaixo de patamares críticos. Para o início de 2025, é esperado um aumento significativo, com projeções de 2% acumulados entre janeiro e março, devido à sazonalidade e ao câmbio, que ultrapassou R$6,00 em 2024, acumulando desvalorização de 25% no ano. Apesar das boas notícias no mercado de trabalho e no crescimento econômico, o cenário cambial e a inflação elevada mantêm os juros longos próximos de 15%, indicando um ambiente ainda desafiador para o controle inflacionário em 2025.


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Cenário para 2025: Mais Inflação e Menos Crescimento

• Inflação

• IPCA de 2024 projetado em 4,9% e para 2025 em 4,8% (Focus).

• Meta de inflação: 3% para o segundo trimestre de 2026.

• Taxa Selic

• Expectativa de alta rápida, permanecendo em torno de 15% em 2025.

• Impacto direto no crescimento econômico, estimado em cerca de 2% para 2025 e 2026.

• Câmbio

• Taxa de câmbio acima de R$6 terá consequências importantes para a trajetória de preços em reais nos próximos meses.

Comparação com a Crise de 2015

• Balança comercial

• 2015: Resultado próximo de zero.

• 2024: Superavit robusto de US$ 80 bilhões (12 meses).

• Conta petróleo tornou-se o principal produto de exportação, superando soja e minério de ferro.

• Déficit em conta corrente

• 2024: Quase 3% do PIB, puxado pelo déficit em serviços.

• Investimento Direto Estrangeiro (IDE)

• 2024: Forte, próximo de US$ 70 bilhões (12 meses).

• Saída significativa de capitais pela conta financeira.

• Crédito

• 2024: Crescimento de 10%.

• 2015: Forte contração de crédito.

• Crescimento Econômico e Investimentos

• 2024: Crescimento de 3,5%, importações crescendo 17% ao ano, e investimentos crescendo 10% ao ano.

• 2015: Crescimento e investimentos estagnados.

• Taxa de Desemprego

• Semelhança: Em torno de 6% em ambos os períodos.

• Inflação e Desvalorização Cambial

• 2015: IPCA chegou a 10%, câmbio desvalorizou de R$ 2,40 para R$ 4,00.

• 2024: Inflação menos pressionada, desvalorização cambial menos drástica.

Política Fiscal e Dinâmica de Dívida

• Governabilidade

• 2024/2025: Relação Executivo-Congresso melhor do que em 2014, marcado por pautas-bomba.

• Impulso Fiscal

• 2025: Positivo, mas sem a magnitude do ajuste drástico do programa Levy (2015).

• Dívida Pública

• 2015: Dívida bruta em 60% do PIB.

• 2024: Dívida bruta próxima de 80% do PIB.

• Conta de Juros

• Próximos 12 meses: R$ 1 trilhão, muito superior ao déficit primário de R$ 50 bilhões.

Expectativas para 2025

• Desafios econômicos

• Inflação pressionada.

• Selic elevada.

• Desaceleração do crédito.

• Incertezas

• Difícil prever a inflação e o crescimento com exatidão.

• Diferenças entre previsões e resultados finais de 2024 evidenciam os erros frequentes em projeções econômicas.

• Conclusão

• Sem perspectiva de crise de grandes proporções, mas 2025 será um ano mais desafiador.


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Por que no Brasil engenheiros dirigem Uber?

Um fenômeno que precisa ser discutido (e sem preconceitos)

Olá!

Você conhece alguém formado em engenharia que está dirigindo para apps de transporte?

Esta cena se tornou tão comum que virou até piada nas redes sociais. Mas por trás do humor, existe uma triste realidade que afeta milhares de profissionais qualificados no Brasil.

Enquanto famílias investem fortunas na educação dos filhos, sonhando com um futuro promissor, muitos engenheiros acabam descobrindo uma verdade dolorosa: diplomas prestigiados não garantem empregos bem remunerados no Brasil.

O problema é tão sério que está causando uma verdadeira fuga de cérebros do país.

Vamos entender por que tantos engenheiros brasileiros estão trocando pranchetas por volantes.

O Sonho da Engenharia vs. Realidade Brasileira

A história é sempre a mesma: jovens passam anos estudando cálculo, física e projetos, sonhando em construir pontes, desenvolver tecnologias ou criar inovações. Mas quando se formam, descobrem que o mercado brasileiro tem pouquíssimas vagas para engenheiros que paguem salários compatíveis com sua qualificação.

A Cruel Matemática do Mercado Brasileiro

O problema é estrutural e mais complexo do que parece:

  • O Abismo Salarial Brasileiro:

    • Um engenheiro recém-formado frequentemente recebe ofertas de R$ 5-8 mil

    • O mesmo profissional poderia ganhar R$ 20-25 mil em países desenvolvidos

    • O investimento em educação acaba não se pagando financeiramente

  • Nossa Economia Está Presa no Básico:

    • O Brasil continua focado em produtos simples como alimentos e commodities

    • Faltam empresas de tecnologia avançada que precisem de engenheiros

    • Os poucos projetos complexos geralmente são tocados por empresas estrangeiras

  • O Ciclo do Desperdício:

    • Universidades formam engenheiros de alta qualidade

    • Empresas brasileiras não conseguem absorver esses talentos

    • Profissionais acabam migrando para outras áreas ou deixando o país

  • A Competição Global:

    • Setores de alta tecnologia são dominados por poucas empresas mundiais

    • Boeing e Airbus na aviação

    • Grandes farmacêuticas na medicina

    • Gigantes de tecnologia no setor digital

Transformando o Jogo: O Que Precisamos Mudar

O velho ditado "Quem sabe faz, quem não sabe ensina" precisa ser substituído por "Quem tem indústria avançada contrata, quem não tem exporta talentos".

A solução passa por:

  1. Desenvolver um ecossistema industrial mais sofisticado

  2. Criar políticas que incentivem empresas de alta tecnologia

  3. Aproximar universidades e setor produtivo

  4. Investir em pesquisa e desenvolvimento dentro das empresas

Enquanto o Brasil não criar um ambiente propício para empresas tecnologicamente avançadas, continuaremos vendo nossos engenheiros buscando alternativas - seja no volante de um Uber ou em um voo só de ida para o exterior.

A escolha não é do engenheiro: é do país que não consegue aproveitar seus talentos.

Abraços,

Paulo Gala


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O Desenvolvimento das Telas de Radar nos EUA e sua Conexão com os Computadores Pessoais PCs e MACs

O desenvolvimento das telas de radar nos EUA foi um marco tecnológico do século XX, impulsionado por investimentos massivos em pesquisa e desenvolvimento (P&D) financiados pelo governo durante a Segunda Guerra Mundial e a Guerra Fria. Essas inovações, inicialmente voltadas para aplicações militares, transbordaram para o setor civil e moldaram a indústria de computadores pessoais (PCs e Macs) nos anos 1980.


1. O Início: Segunda Guerra Mundial e Telas de Radar

Radar e a Necessidade de Telas Visuais

  • O radar, inicialmente desenvolvido para detectar aeronaves e navios inimigos, exigia formas de visualização em tempo real.
  • As telas de radar foram introduzidas como interfaces visuais, utilizando tubos de raios catódicos (CRT, ou Cathode Ray Tubes) para exibir informações captadas pelos sistemas de radar.

Principais Instituições e Projetos

  • MIT Radiation Laboratory (Rad Lab):
    • Fundado em 1940, com financiamento militar dos EUA, foi responsável por avanços cruciais em radares e sistemas de visualização.
    • Pesquisadores como Jay Forrester e Vannevar Bush trabalharam no desenvolvimento de sistemas de radar e displays CRT.
  • Bell Labs:
    • Desenvolveu tecnologias de tubo de raios catódicos, além de melhorar a precisão dos sistemas de radar.
  • SRI International:
    • Envolvido no refinamento de interfaces visuais para radares e computadores militares.

Impacto Militar

  • Durante a Segunda Guerra Mundial, radares com displays CRT foram fundamentais para a defesa aérea dos Aliados, como no caso da Batalha da Grã-Bretanha e em operações navais no Pacífico.

2. O Transbordamento para Computadores Militares e Científicos

Guerra Fria e Avanços Tecnológicos

  • A Guerra Fria ampliou os investimentos em pesquisa tecnológica, incluindo computadores que incorporavam telas para visualização.
  • SAGE (Semi-Automatic Ground Environment):
    • Desenvolvido na década de 1950 pelo MIT e pela IBM, o SAGE era um sistema de defesa aérea que utilizava computadores com displays CRT para monitorar ameaças aéreas soviéticas.
    • Pesquisadores como Claude Shannon contribuíram para a integração de radares e computadores no SAGE.

A Transição para Computadores Científicos

  • Empresas como a IBM adaptaram tecnologias de telas de radar para uso em computadores científicos e comerciais, como o IBM 701 e o IBM 360.
  • Os displays CRT começaram a ser usados para visualização de dados em laboratórios e indústrias.

3. O Papel dos Investimentos Públicos no Desenvolvimento Tecnológico

ARPANET e Interface de Computadores

  • Departamento de Defesa dos EUA, por meio da ARPA (hoje DARPA), financiou projetos que melhoraram as interfaces homem-máquina, incluindo displays visuais.
  • Projetos como o Sketchpad, desenvolvido por Ivan Sutherland no MIT em 1963, foram revolucionários:
    • Sketchpad usava telas CRT para desenhar e manipular gráficos interativos, uma base para interfaces gráficas modernas.

Xerox PARC e Interfaces Gráficas

  • Nos anos 1970, o Xerox PARC (Palo Alto Research Center), apoiado por ex-pesquisadores de projetos financiados pelo governo, desenvolveu tecnologias como:
    • A primeira interface gráfica (GUI).
    • O computador Xerox Alto, que utilizava monitores CRT com janelas e ícones.

4. A Chegada ao Mercado de Computadores Pessoais (Anos 1980)

Apple e o Macintosh

  • Steve Jobs, inspirado pelo Xerox PARC, trouxe as ideias de interfaces gráficas e telas CRT para a Apple:
    • Apple Lisa (1983) e o Macintosh (1984) popularizaram o uso de monitores CRT e interfaces gráficas para o público geral.
    • O Macintosh foi o primeiro computador pessoal amplamente acessível com interface gráfica e tela CRT integrada.

IBM e o PC

  • IBM PC (1981) também utilizava monitores CRT, inicialmente com interfaces de texto, mas que evoluíram para gráficos com adaptadores como o CGA e VGA.
  • Empresas como a Microsoft desenvolveram sistemas operacionais (MS-DOS e Windows) que aproveitavam as capacidades gráficas de displays CRT.

5. Empresas e Indústrias Impactadas

  • RCA:
    • Líder na fabricação de tubos CRT, tanto para uso militar quanto comercial.
  • DEC (Digital Equipment Corporation):
    • Fabricante de computadores como o PDP-1, que utilizava monitores CRT para jogos e visualizações científicas.
  • Tektronix:
    • Especializada em osciloscópios e displays para uso industrial e técnico.

6. Legado e Impacto nos Anos 1980

  • As tecnologias de telas de radar originadas de verbas públicas criaram a base para o desenvolvimento de monitores em computadores pessoais e industriais.
  • Os computadores pessoais dos anos 1980, como o Macintosh e o IBM PC, popularizaram essas tecnologias, trazendo-as para o uso cotidiano.
  • A integração de monitores CRT em PCs tornou-se um dos pilares da revolução da computação pessoal.

Conclusão

O desenvolvimento das telas de radar nos EUA é um exemplo emblemático de como investimentos públicos em tecnologia militar podem transbordar para a sociedade, moldando indústrias inteiras. Da Segunda Guerra Mundial aos computadores pessoais dos anos 1980, a trajetória dessa tecnologia demonstra o impacto de projetos governamentais no avanço tecnológico e econômico global.

 

Projeto SAGE (Semi-Automatic Ground Environment): A Revolução na Defesa Aérea

SAGE (Semi-Automatic Ground Environment) foi um sistema revolucionário de defesa aérea desenvolvido pelos Estados Unidos durante a Guerra Fria. Concebido no final da década de 1940 e implementado nos anos 1950, o SAGE foi projetado para detectar, rastrear e interceptar aeronaves inimigas, especialmente bombardeiros soviéticos, em uma era de tensões nucleares crescentes. Ele representa um marco na história da computação, sendo um dos primeiros sistemas a integrar computadores digitais para processamento de dados em tempo real.


1. Contexto Histórico

  • Após a Segunda Guerra Mundial, a ameaça de um ataque nuclear soviético levou os EUA a desenvolver sistemas de defesa aérea mais avançados.
  • A ideia era criar uma rede integrada que combinasse radares, comunicações e computadores para monitorar o espaço aéreo norte-americano.
  • O SAGE foi concebido como parte da estratégia de defesa do NORAD (North American Aerospace Defense Command).

2. Objetivos do Projeto

  • Criar um sistema semi-automático que integrasse informações de dezenas de radares e estações de observação.
  • Processar os dados em tempo real para:
    • Rastrear aeronaves hostis.
    • Coordenar interceptações com caças e mísseis.
  • Proteger o território dos EUA de ataques aéreos.

3. Desenvolvimento

Instituições Envolvidas

  • MIT Lincoln Laboratory: Responsável pela pesquisa e desenvolvimento inicial.
  • IBM: Fabricante dos computadores digitais usados no sistema.
  • Western Electric: Desenvolveu os sistemas de comunicação e infraestrutura.

Tecnologia Inovadora

  • O SAGE usava computadores AN/FSQ-7, projetados pela IBM:
    • Cada unidade pesava cerca de 250 toneladas e ocupava o equivalente a um edifício de 4 andares.
    • Era o maior computador já construído na época.
    • Capacidade de processamento: cerca de 75 mil instruções por segundo.
  • Rede de radares: Mais de 100 estações de radar enviavam dados para os centros de comando do SAGE.
  • Telas de exibição CRT: Os operadores visualizavam informações de tráfego aéreo em tempo real.
  • Comunicações avançadas: Linhas telefônicas dedicadas e sistemas de rádio conectavam radares e centros de comando.

Custo e Escala

  • O SAGE foi um dos projetos mais caros da época, com um custo estimado de US$ 8 a 12 bilhões (valores atualizados ultrapassam US$ 100 bilhões).
  • Foram construídos 23 centros de comando nos EUA e Canadá.

4. Funcionamento

  1. Coleta de Dados
    • Os radares detectavam movimentos aéreos e enviavam dados brutos para os computadores centrais do SAGE.
  2. Processamento
    • Os computadores processavam os dados em tempo real, eliminando interferências e identificando aeronaves hostis.
  3. Visualização
    • Operadores analisavam os dados em telas de radar e coordenavam a resposta.
  4. Intercepção
    • O sistema acionava caças interceptores e mísseis guiados automaticamente.

5. Contribuições para a Computação

  • O SAGE foi pioneiro no uso de:
    • Processamento em tempo real.
    • Interface homem-máquina: Usava telas CRT interativas com sistemas de entrada de dados, como o light gun, um precursor do mouse.
    • Redes de computadores: A integração de vários radares foi um passo importante para o desenvolvimento de redes como a ARPANET, precursora da Internet.

6. Impacto Militar e Tecnológico

  • Militar:
    • O SAGE nunca foi utilizado em combate, mas manteve a vigilância constante contra ataques aéreos.
    • Mostrou a viabilidade de sistemas de defesa automatizados.
  • Tecnológico:
    • Estimulou o desenvolvimento de computadores digitais e sistemas interativos.
    • Influenciou o design de sistemas civis e militares nas décadas seguintes.

7. Declínio

  • Com o avanço de tecnologias mais modernas, como satélites e sistemas móveis, o SAGE foi gradualmente desativado nos anos 1980.
  • Sua obsolescência foi acelerada pelo alto custo de manutenção e pela mudança na natureza das ameaças aéreas.

8. Legado

  • O SAGE é lembrado como um dos sistemas mais ambiciosos da história da defesa aérea e da computação.
  • Contribuições notáveis:
    • Base para sistemas de controle de tráfego aéreo.
    • Tecnologias derivadas influenciaram indústrias como telecomunicações e computação gráfica.
  • Mostrou como parcerias entre governo, universidades e empresas privadas podem gerar avanços significativos.

Conclusão

SAGE foi muito mais do que um sistema de defesa aérea; ele foi um divisor de águas na história da tecnologia. Apesar de sua vida útil limitada, seu impacto ressoa até hoje, desde o controle de tráfego aéreo até as bases da computação em rede. Foi um símbolo de como grandes desafios podem impulsionar inovações transformadoras.


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Viagem ao coração do capitalismo financeiro

No núcleo de um sistema que criou múltiplas formas de extrair a riqueza coletiva, há dois grupos de corporações: as Big Techs e as gestoras de ativos. Como elas atuam em conjunto e por que isso é social e politicamente devastador?

Por Panos Tsoukalisem Sin Permiso | Tradução: Eleutério Prado1

O capitalismo mudou de tal forma que o rótulo “neoliberalismo” se tornou obsoleto. A crescente proeminência econômica e política das grandes empresas de tecnologia e de gestão de ativos transformou o capitalismo contemporâneo de várias maneiras. O mais importante é que ela trouxe a predominância da renda sobre o lucro, da apropriação sobre a produção. Isso afetou a lógica fundamental da compreensão econômico-política da realidade social em curso, pondo em questão assim a própria sobrevivência do capitalismo.

O neoliberalismo está aí desde a década de 1980. Desde então, o capitalismo passou por múltiplas crises e transformações. Mais recentemente, ele suportou uma crise financeira global e uma pandemia que paralisou as cadeias de suprimentos e o comércio, trancou as pessoas em suas casas e devolveu o Estado à vanguarda da política econômica.


Há muitas maneiras de entender o termo neoliberalismo. Utilizo o conceito principalmente para me referir a duas coisas: em primeiro lugar, para apontar para uma era na história do capitalismo, que começa com as eleições de Margaret Thatcher no Reino Unido e Ronald Reagan nos Estados Unidos; em segundo lugar, para fazer referência à predominância de um pacote de políticas econômicas que inclui a liberalização do comércio internacional, a privatização dos serviços públicos e a flexibilização dos mercados de trabalho. Uma característica fundamental do neoliberalismo é que ele alimentou um processo que muitos chamam de “financeirização”, ou seja, o crescente domínio do setor financeiro sobre o sistema econômico.

Alguns estudiosos parecem estar agora, cada vez mais, insinuando que o termo neoliberalismo se tornou inadequado. O capitalismo mudou muito desde a década de 1980 e isso parece exigir uma conceituação diferente, que visa compreender a sua configuração contemporânea. Ele tem sido diagnosticado de várias formas: “capitalismo de vigilância” (Zubboff, 2019), “capitalismo rentista” (Christophers, 2020), “capitalismo de plataforma” (Srnicek, 2017), “capitalismo de gestão de ativos” (Braun, 2022), “capitalismo canibal” (Fraser, 2022), ou “capitalismo de precariedade” (Azmanova, 2020). Ao fazê-lo, também se aponta para diferentes previsões sobre a possibilidade de transformação social progressiva. Varoufakis (2023) e Decano (2020) chegam ao ponto de sugerir que se deve perguntar se ainda é possível falar de capitalismo.

Se o neoliberalismo foi superado, como se deve entender a forma de capitalismo em que habitamos agora? Neste artigo, argumento que qualquer resposta à pergunta sobre o que vem depois do neoliberalismo deve levar em conta a ascensão das grandes empresas de tecnologia e de gestão de ativos e, assim, o seu crescente controle sobre nossas vidas. Vou me basear em duas conceituações que enfocam essas transformações do capitalismo contemporâneo, a saber, a de Yanis Varoufakis, que usa o termo “tecnofeudalismo”, e a de Benjamin Braun, que emprega a expressão “capitalismo de gestão de ativos”.

De fato, uma chave para entender a mais recente transformação do capitalismo contemporâneo pode ser encontrada na exploração dos vínculos entre o que Varoufakis chama de “capital-nuvem” (cloud capital) e as empresas gestoras de ativos, as quais, como argumenta Braun, se tornaram onipresentes. Fazendo um pequeno desvio pela história do pensamento econômico, argumentarei que ambos esses fenômenos sugerem o mesmo, ou seja, que ocorreu já um triunfo da apropriação sobre a produção e, em consequência, da renda sobre o lucro. Sendo assim, as dúvidas sobre a sobrevivência do capitalismo parecem realmente justificadas.

Tecnofeudalismo

Em Tecnofeudalismo: o que matou o capitalismo (2023), Varoufakis argumenta que o uso da inteligência artificial e das redes digitais e algorítmicas transformou a natureza e o poder de certos bolsões de capital. Ou seja, surgiu uma nova forma de capital – a qual ele chama de “capital-nuvem” – que tem o poder de subjugar a produção capitalista às suas próprias necessidades e lógica. A produção ainda é capitalista, no sentido de que se baseia nos meios de produção privados e na exploração do trabalho assalariado, mas ela está integrada agora por meio de uma estrutura tecnofeudal (voltarei a essa questão na última seção). Enquanto o capital tradicional (ou “capital terrestre”, como o chama Varoufakis) só pode explorar trabalhadores, o capital-nuvem também pode explorar os consumidores, bem como outros capitalistas que não possuem capital-nuvem. Isso adiciona uma camada adicional não apenas à hierarquia de estratificação econômica do capitalismo, mas também à hierarquia social de poder e controle.

Como afirma Varoufakis, os consumidores são explorados porque seu tempo de lazer está sendo explorado pelas “big techs” para obter lucro. O tempo de lazer gasto pesquisando no Google, interagindo com Alexa, postando no Instagram ou navegando pelo TikTok foi instrumentalizado para acumulação de capital na nuvem. Contudo, os consumidores não obtêm nenhum valor extra desse seu “trabalho”.

Uma grande parte dos dados pessoais que compartilhamos em todas essas plataformas acaba formando o que Shoshana Zuboff (2019) chama de “excedente comportamental” (ou seja, o excedente de dados sobre o comportamento do consumidor acumulados acima do necessário para melhorar a experiência do consumidor). Esse excedente é vendido aos anunciantes na esperança de não apenas prever, mas também afetar nosso comportamento futuro.


Varoufakis ressalta que toda vez que interagimos com um servidor digital, como o Alexa, treinamos seu algoritmo para que ele reconheça os nossos hábitos e preferências e possa nos oferecer “boas” recomendações. Mas no final chega um momento, depois de uma inevitável geração de confiança, em que a Alexa começa a explorar o nosso perfil de consumidor para mudar os nossos hábitos e preferências, promovendo produtos que de outra forma não compraríamos. Nesse ponto, não está mais claro quem treina quem, quem é o mestre e quem é o servo.

Em suma, a produção de capital na nuvem depende não apenas do trabalho assalariado (de pessoas diretamente empregadas por empresas como Google ou X), mas também do trabalho não remunerado dos consumidores. Consequentemente, enquanto empresas capitalistas tradicionais como General Motors e General Electric gastam cerca de 80% de sua receita em salários, as grandes empresas de tecnologia acabam gastando apenas cerca de 1%. Esse modo de produzir que recorre ao trabalho não assalariado é aquele que fornece uma semelhança com a ordem feudal.

O capital-nuvem também tem a capacidade de explorar outros capitalistas que não o possuem, substituindo mercados por feudos formados pela própria nuvem. Varoufakis argumenta que plataformas de comércio eletrônico como a Amazon não se constituem propriamente como mercados. Para ele, os mercados são instituições públicas que hospedam interações espontâneas e descentralizadas entre consumidores e produtores.

Em vez disso, os feudos-nuvem isolam o comprador do comprador, o vendedor do vendedor, de modo que apenas o algoritmo tem o poder de conectá-los. Entrar na Amazon é como entrar em uma cidade onde tudo pertence e é controlado por uma única pessoa, ou seja, por Jeff Bezos. Ao contrário da natureza pública e aberta dos mercados, isso descreve um arranjo institucional privatizado por meio de um processo de centralização. Isso permite que os proprietários do capital-nuvem exijam comissões excessivas (até 40% no caso da Amazon) de outros capitalistas para que eles possam acessar o feudo tecnológico, pagando o que Varoufakis chama de “aluguéis da nuvem”.

Quanto ao efeito do capital-nuvem sobre os trabalhadores, Varoufakis mostra que sua capacidade de supervisão e controle total leva a uma exploração ainda maior do trabalhador, mais até do que aquela que o capitalista tradicional poderia fazer. Isso se mostra bem nos armazéns da Amazon, onde a tecnologia portátil e os algoritmos trabalham incansavelmente para otimizar os processos de embalagem e, assim, para espremer os trabalhadores do armazém ao ponto de levá-los ao colapso. Em vez de responder a um chefe, os trabalhadores respondem a um algoritmo que rastreia todos os seus movimentos. Como resultado, não apenas eles são forçados a trabalhar mais, mas sua capacidade de ação coletiva para salvaguardar as condições mínimas de trabalho (como o direito de ir ao banheiro) é significativamente diminuída.

No contexto do neoliberalismo, isso implica numa grande perda de poder por parte dos trabalhadores, e esse padrão tem ficado muito evidente nas últimas décadas. Desde a década de 1980, os ganhos de produtividade beneficiaram quase exclusivamente os empregadores nos EUA, enquanto os trabalhadores viram seus salários reais estagnarem, se não diminuírem. Veja-se o gráfico abaixo produzido pelo Economic Policy Institute, em 2024. Ele mostra a crescente diferença entre a produtividade dos trabalhadores e a remuneração salarial nos EUA (1984-2024).

Nancy Fraser (2022) chama esse fenômeno de ascensão do “trabalhador híbrido”, um trabalhador que é ao mesmo tempo explorado e expropriado. Seguindo Marx, Fraser entende que a exploração capitalista ocorre porque o empregador paga um salário que cobre apenas os custos necessários de reprodução do trabalhador, mas fica com a maior parte do valor gerado, na forma de mais-valor (na forma do lucro).

No entanto, afirma Fraser (2022), a expansão da dívida permitiu que os empregadores pagassem ainda menos aos trabalhadores. Ou seja, muitos trabalhadores sob o neoliberalismo recebiam menos do que precisavam para sobreviver como trabalhadores ativos, o que os levava a se endividarem cada vez mais. Assim, além de explorado, ele passou a ser também expropriado. A isso, Varoufakis (2023) acrescenta que a chegada do capital-nuvem piora ainda mais as coisas devido à sua maior capacidade de vigilância e controle que, juntamente com o endividamento, torna o trabalho dos trabalhadores ainda mais expropriáveis.

Varoufakis afirma que a chegada do capital-nuvem implica a impossibilidade da social-democracia, pelo menos tal como foi concebida no final do século XX. Pois, não se sabe bem como é possível regular as plataformas das “big techs”. A regulamentação de preços é impossível, pois elas oferecem seus produtos gratuitamente; por outro lado, a regulamentação antitruste é difícil de aplicar, já que a lógica das plataformas consiste em sua capacidade de realizar economias de escala. Seja uma plataforma de aluguel de apartamentos ou uma plataforma de aluguel de táxi, o principal produto que uma plataforma oferece a compradores e vendedores é o acesso a uma ampla rede de compradores e vendedores. Na maioria dos casos, uma plataforma pequena oferece sempre um produto ruim.

Além disso, sob o capitalismo de vigilância, os trabalhadores são monitorados de perto para impedir sua ação coletiva; ademais, enquanto consumidores, eles ficam fisicamente isolados, o que dificulta a organização de boicotes. Ainda assim, o recente sucesso do sindicato dos trabalhadores da Amazon nos EUA e os boicotes dos consumidores à Starbucks, Pizza Hut e McDonald’s mostram que nem toda esperança foi perdida.

De fato, Varoufakis argumenta que essas barreiras podem ser superadas por uma grande coalizão de trabalhadores, consumidores e pequenos capitalistas que não possuem capital-nuvem (por exemplo, o restaurante ou o bar de bairro, cujos lucros são reduzidos por taxas exorbitantes cobradas pelo Uber Eats). Tudo isso mostra que é preciso pensar além das estratégias tradicionais da política progressista; ele sugere que é preciso gerar um engajamento que chama de “mobilização em nuvem” – isto é, seria necessário usar os recursos da nuvem contra o próprio capital-nuvem.

Capitalismo de gestão de ativos

Enquanto a análise da ordem social atual como “tecnofeudal” concentra a atenção no poder social das plataformas e das grandes empresas de tecnologia, o diagnóstico do “capitalismo de gestão de ativos” nos convida a levar em consideração a enorme ascensão das empresas de gestão de ativos. Benjamin Braun e Brett Christophers apresentam em seu livro alguns fatos estilizados.

As três grandes gestoras de ativos (BlackRock, Vanguard e State Street) detinham, em 2008, cerca de 13,5% de todas as empresas do S&P 500; agora, em 2024, essa porcentagem chegou a 22%. Varoufakis (2023) acrescenta que elas são os maiores acionistas de 90% das empresas da Bolsa de Valores de Nova York. Além disso, as gestoras de ativos controlam conjuntamente US$ 126 trilhões em recursos financeiros, obtêm um total de US$ 526 bilhões em receita, auferindo lucros estimados em cerca de US$ 200 bilhões por ano (equivalente ao PIB da Grécia) (Braun & Christophers 2024). Sem dúvida, como se vê, os números aqui falam por si.

As gestoras de ativos usam seu imenso acesso a recursos financeiros para influenciar ativamente o comportamento das empresas capitalistas. As gestoras de ativos “convencionais”, como as “três grandes”, obtêm recursos das empresas de seguros, dos fundos de pensão e dos fundos soberanos, todos os quais procuram-nas para investir as enormes somas de capital que detêm. Devido ao seu enorme tamanho, as gestoras de ativos tendem a possuir um capital significativo, o que lhes permite manter um controle substancial sobre as políticas das empresas. Braun e Christophers afirmam que as gestoras de ativos se tornaram o “sistema nervoso central da sociedade capitalista contemporânea”, bem como componentes centrais do capitalismo como um todo.

Os Estados também são reféns das preferências políticas das grandes gestoras de ativos. Especialmente no Sul Global, onde os países dependem de títulos denominados em moeda para financiar seus serviços estatais, as gestoras de ativos podem afetar diretamente seu acesso ao mercado de títulos soberanos. Tornam-se, portanto, árbitros de capacidade creditícia, da solvabilidade e, em última análise, também da soberania de vários países.

Além disso, muitos Estados dependem cada vez mais das gestoras de ativos para conceber e aplicar as suas próprias políticas, por exemplo, no que diz respeito à transição ecológica e até mesmo para o fornecimento de bens públicos básicos. Não apenas isso, mas a dependência do Estado e o enfraquecimento (ou completa inexistência) da soberania monetária, juntamente com o imenso acesso aos recursos, significam que as gestoras de ativos também têm a capacidade de pressionar diretamente os governos. Isso ocorre com o objetivo de impedir a regulamentação ou para promover ativamente sua agenda política.

Um exemplo de um espaço de política em que a influência das gestoras de ativos tem sido crítica é a política monetária. Benjamin Braun (2022) argumenta que a abordagem moderada adotada pela maioria dos bancos centrais para combater a inflação recente está relacionada à influência das gestoras de ativos.

Tradicionalmente, a política monetária tem sido um campo em que se dá o conflito de classes. Os bancos, os credores e os poupadores geralmente preferem inflação baixa e altas taxas de juros, mesmo que isso custe algum desemprego. Pelo contrário, os trabalhadores e os devedores preferem taxas de juros baixas, pois facilitam o investimento e a criação de empregos. Na verdade, os devedores muitas vezes estão dispostos a suportar alguma inflação porque ela consome o valor real de sua dívida.

A ascensão das gestoras de ativos alinhou os interesses de Wall Street com os da classe trabalhadora na questão do nível da taxa de juros. As taxas de juros persistentemente baixas levaram à inflação dos preços dos ativos; conforme se eleva os seus valores de mercado, aumenta a receita dessas empresas que obtêm na forma de taxas. Ao tornar os empréstimos mais baratos, as baixas taxas de juros também reduziram os custos de financiamento para as gestoras de ativos altamente alavancadas. Dessa maneira, os interesses dos bancos e poupadores foram superados pelo poder acumulado pelas gestoras de ativos.

O que não está claro nesta apresentação do capitalismo das gestoras de ativos é a questão de saber se isso representa uma ruptura radical com o neoliberalismo ou se se está diante simplesmente do resultado do aprofundamento da financeirização. Uma crítica muito comum ao neoliberalismo é que ele significou o triunfo do capital financeiro sobre o resto da economia. No entanto, esse triunfo transformou o motor do sistema econômico; se era produtivo, tornou-se parasitário. As atividades especulativas tornaram-se mais lucrativas do que o investimento produtivo, criando uma situação em que se gera muita instabilidade financeira. Não apenas isso, mas esse domínio sufoca supostamente o crescimento da produtividade, pois o capital é cada vez mais desviado de outras atividades para as finanças (ver Mazzucato 2018, Harvey 2024, Lapavitsas 2013).

Talvez o primeiro economista a estabelecer uma ligação explícita entre o neoliberalismo e a crescente influência de investidores institucionais, como fundos de pensão, tenha sido Hyman Minsky (Whalen 2010). Para Minsky, a década de 1980 inaugurou a era do “capitalismo das gestoras de dinheiro”; nesse andamento, as gestoras e os seus fundos se tornaram os novos mestres da economia. As suas preocupações sobre esse fenômeno eram muito semelhantes às discutidas acima, ou seja, apontavam para a natureza propensa a crises do sistema, bem como sua relutância em financiar investimentos produtivos. Embora o diagnóstico de Minsky tenha sido bem profundo, é duvidoso que ele tenha imaginado a extensão da propriedade concentrada e o poder que os gestores de ativos acumularam agora.

Assim, se a ascensão das gestoras de ativos representa o culminar do longo processo de financeirização da economia (ou seja, o crescente domínio das finanças sobre todos os outros setores produtivos), muitas das críticas ao neoliberalismo nas últimas décadas ainda podem ser relevantes. Podemos estar testemunhando novos níveis de concentração de capital; diante disso, portanto, continua sendo uma prioridade política controlar as finanças para garantir que elas funcionem para o bem público. No entanto, este não é o caso se se aceita o diagnóstico proposto por Varoufakis. Como foi sugerido na seção anterior, se se aceita a hipótese do tecnofeudalismo, torna-se necessário repensar radicalmente as prioridades políticas, bem como das estratégias para a transformação social progressista.

O que vem depois do neoliberalismo?

É inegável que a ascensão do capital-nuvem e das gestoras de ativos são dois fenômenos fundamentais que estruturam o capitalismo contemporâneo. Talvez sejam esses dois tipos de corporações que configuram, pelo menos até certo ponto, o que virá (ou o que já está vindo) depois do neoliberalismo.

Embora as duas críticas ao capitalismo contemporâneo antes analisadas direcionem nossa atenção para fenômenos diferentes, as implicações que podem ser extraídas delas têm muito em comum. Na verdade, ambas implicam uma maior concentração de capital e de poder nas mãos de poucos, bem como um aumento da desigualdade de renda e riqueza. No entanto, o que quero enfatizar aqui é que ambas as estruturas sugerem a predominância da renda sobre o lucro, da apropriação sobre a produção.

Muitos consideraram que o advento do neoliberalismo e da financeirização vêm de mãos dadas com o retorno da figura do rentista. Por exemplo, Harvey (2024) argumenta que a financeirização e a monopolização criaram o rentista moderno que não produz nada além de benefícios monetários por meio da propriedade de ativos ou especulação financeira. Azmanova (2020) considera que os rentistas têm sido ativamente criados por políticas estatais que visam aumentar a competitividade dos “campeões” nacionais ou regionais, em detrimento da concorrência de mercado e da regulação antitruste.

Parece que o processo em andamento de substituição do neoliberalismo está trazendo algo ainda pior. Os donos das nuvens e as gestoras de ativos são rentistas por excelência. Eles estão no negócio de tomar, não de fazer. Eles se beneficiam da propriedade e do controle – e não da produção – em condições de concorrência limitada. Brett Christophers (2020) tem a mesma visão, sugerindo que os aluguéis pagos pelo uso das plataformas desempenham um papel fundamental no que ele chama de “capitalismo rentista”.

Em seu livro sobre empresas de gestão de ativos, ele também conclui que os gestores de ativos são “rentistas puros” (Christophers, 2023). Um gestor de ativos pode ser proprietário de um parque eólico na Noruega ou de um complexo imobiliário na Flórida, mas isso não tem nada a ver com a operação e manutenção do dia a dia desses ativos, que são terceirizados para outras empresas. Eles não produzem nada, enquanto “seu negócio é maximizar o próprio ganho por meio da extração de receitas – ou seja, aquele rendimento que é obtido por meio desse ativo” (Christophers 2023).

Esses estudiosos consideram que a produção capitalista é simultaneamente baseada no lucro e na renda, na produção e na apropriação, na exploração e na expropriação. Embora na ascensão do capitalismo a renda, a apropriação e a expropriação tenham sido obstadas, elas nunca foram completamente superadas. Essas duplicatas não são equivalentes entre si, mas todas apontam para o fato de que o capitalismo não é um mero sistema de troca contratual no qual os mais eficientes, os mais produtivos e os mais inteligentes se beneficiam de acordo. Por trás da troca contratual está escondida a morada da renda imerecida, do capital patrimonial, do poder hereditário e da expropriação pura e simples. Para Varoufakis (2023), o triunfo do lucro sobre a renda foi o que acabou definindo a transição do feudalismo para o capitalismo. Nesse sentido, o retorno da renda que o capital da nuvem trouxe significa que devemos questionar se estamos vivendo ainda sob o capitalismo.

Na economia política marxista, a importância do equilíbrio entre lucro e renda foi mais claramente expressa por Rosa Luxemburgo, que argumentou que a acumulação primitiva era uma característica estrutural do capitalismo – e não apenas sua condição primitiva. Por outro lado, na economia política clássica, David Ricardo considerava os latifundiários rentistas como vestígios do feudalismo que impediam o pleno florescimento do modo de produção capitalista. Keynes, da mesma forma, pediu a eutanásia do rentista, referindo-se principalmente aos financistas parasitas que enriqueceram mantendo o capital artificialmente escasso (Mann, 2019). Mesmo na economia neoclássica convencional, o termo renda monopolista refere-se aos lucros acumulados acima dos lucros normais alcançáveis sob um design de mercado eficiente e competitivo.

Antes de resumir o resultado dessa apresentação sumária da questão da superação histórica do neoliberalismo, apresentamos abaixo um retrato dos vinte principais acionistas institucionais das 10 maiores empresas de tecnologia dos EUA:

Conclusão

Em suma, em muitas escolas de pensamento econômico, bem como em afiliações políticas, a busca de renda, a apropriação e a expropriação são vistas como fardos em uma economia capitalista. De uma perspectiva avaliativa, se toda essa extração não pode ser considerada como totalmente moral, pelo menos tem de ser tomada como politicamente censurável. Portanto, se o que estamos testemunhando agora é uma nova mudança na balança em direção à renda e à apropriação, ainda maior do que a provocada pelo neoliberalismo, então maiores problemas virão.

Varoufakis (2023) coloca a origem dos problemas (ou seja, a extração de renda ou “rent-seeking”) em grandes empresas de tecnologia, enquanto Braun e Christophers (2024) o fazem em empresas de gestão de ativos. O que falta, no entanto, é a relação entre esses dois fenômenos. Dado que a Blackrock et al. são os principais acionistas de grandes empresas de tecnologia, como isso afeta a nova dinâmica introduzida pelo capital em nuvem? Os gestores de ativos são os verdadeiros rentistas de nuvem? Como pode ser visto na tabela acima, parece que a resposta é afirmativa (Hyppolite & Michon, 2018). As gestoras BlackRock, Vanguard, State Street e Fidelity detêm as maiores participações (coletivamente, mais de 20%) nas 10 principais empresas de tecnologia dos EUA.

Se os mercados públicos e abertos não são mais o principal mecanismo de distribuição de bens e serviços, se a alocação de recursos financeiros está sujeita aos caprichos idiossincráticos de algumas corporações gigantescas, se as grandes empresas de tecnologia adquirem uma parcela significativa de seu capital gratuitamente porque os consumidores lhes fornecem os seus dados – isto é, se a renda deslocou o lucro nas economias, então, na verdade, ainda estamos falando sobre o capitalismo?

Teorizar o agora se tornou, muitas vezes, desafiador. No entanto, tentar conciliar a ascensão do capital-nuvem com a ascensão das gestoras de ativos pode ser a chave para entender as profundas transformações pelas quais o capitalismo está passando. O que deve se seguir do exposto, tomando o desafio de Varoufakis, é uma tentativa de vincular teoria e prática. Ou seja, encarar o fato de que, junto com o neoliberalismo, a conhecida caixa de ferramentas da política progressista (por exemplo, tributação, regulamentação e mobilização) também se tornou desatualizada, ou pelo menos inadequada para os desafios futuros. Talvez devêssemos pensar e agir de forma mais radical.

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O Futuro Sustentável da Química no Brasil

10 Produtos com Maior Potencial de Desenvolvimento para a Química Verde e Sustentável no Brasil

1. Eteno Verde

• Produzido a partir do etanol derivado de biomassa, como a cana-de-açúcar, o eteno verde é utilizado como matéria-prima na fabricação de plásticos, como o polietileno verde. Essa alternativa sustentável reduz a dependência de fontes fósseis e diminui a pegada de carbono da indústria petroquímica.

2. Metanol Verde

• Obtido de biomassa ou do reaproveitamento de CO₂, o metanol verde é um insumo essencial para combustíveis sustentáveis (biodiesel, metil-terciário-butil-éter – MTBE) e produtos químicos, como resinas, plásticos e formaldeídos.

3. Carvão Ativado

• Feito de resíduos agroindustriais, como casca de coco ou bagaço de cana, o carvão ativado tem aplicações crescentes na purificação de água, captura de gases poluentes e como catalisador em processos químicos mais limpos.

4. Nitrocelulose

• Derivada da celulose de biomassa (como madeira ou algodão), a nitrocelulose é usada na produção de vernizes, tintas, filmes e explosivos, com menos impacto ambiental em comparação com alternativas petroquímicas.

5. Glicerina Verde

• Subproduto do biodiesel, a glicerina tem usos diversificados, incluindo cosméticos, produtos farmacêuticos, aditivos para combustíveis e como insumo para fabricar compostos químicos como glicerol e propileno glicol.

6. Ácido Lático

• Obtido pela fermentação de biomassa (como milho ou cana-de-açúcar), o ácido lático é usado na fabricação de polímeros biodegradáveis, como PLA (poliácido lático), além de produtos alimentícios, farmacêuticos e cosméticos.

7. Bioquerosene

• Produzido a partir de óleos vegetais ou resíduos, é uma alternativa sustentável para o setor de aviação. Com o Brasil sendo um grande produtor de soja e cana, o bioquerosene tem potencial estratégico para descarbonizar o transporte aéreo.

8. Polímeros Biodegradáveis (PHA e PLA)

• Derivados de fontes renováveis, esses polímeros são alternativas sustentáveis ao plástico convencional, com aplicações em embalagens, utensílios descartáveis e dispositivos médicos. O Brasil tem potencial para ser líder devido à sua biomassa abundante.

9. Ácido Succínico Verde

• Produzido por fermentação de biomassa, esse ácido é usado na fabricação de resinas, polímeros e solventes. É uma alternativa promissora ao petróleo para aplicações industriais e farmacêuticas.

10. Surfactantes Naturais

• Obtidos de óleos vegetais, como soja ou palma, esses compostos são usados em detergentes, produtos de limpeza e cosméticos. Por serem biodegradáveis e menos tóxicos, os surfactantes naturais substituem os derivados de petróleo em diversas aplicações.

Por que esses produtos têm alto potencial no Brasil?

1. Disponibilidade de Biomassa: O Brasil é líder global na produção de cana-de-açúcar, soja e outros cultivos que podem ser usados como matéria-prima para química verde.

2. Infraestrutura Estabelecida: Setores como o etanol e o biodiesel já possuem cadeias produtivas bem estruturadas, facilitando a transição para produtos químicos sustentáveis.

3. Compromisso Ambiental Global: A crescente demanda internacional por soluções sustentáveis cria uma oportunidade para o Brasil expandir sua liderança em química verde.

4. Apoio Governamental e Privado: O setor de bioeconomia recebe incentivos e investimentos no Brasil, acelerando a pesquisa e o desenvolvimento de tecnologias inovadoras.

Esses produtos representam o futuro da indústria química, conciliando crescimento econômico com sustentabilidade e fortalecendo a posição estratégica do Brasil no mercado global.


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Da Rota da Seda ao Vale do Silício: A Evolução dos Bens Sofisticados e Complexos na História

Um Paralelo Entre Bens Complexos Hoje e Bens Sofisticados nos Séculos XV, XVI e XVII

Bens Complexos no Mundo Moderno

Hoje, bens complexos são aqueles que demandam alta tecnologia, cadeias produtivas globais e conhecimento técnico especializado. Eles incluem produtos como:

  • Microchips e componentes eletrônicos.
  • Aeronaves e veículos autônomos.
  • Máquinas industriais de precisão.
  • Produtos farmacêuticos avançados, como vacinas de mRNA.
  • Software e sistemas integrados.

Esses bens estão no topo da complexidade econômica, exigindo infraestrutura tecnológica, capital humano altamente qualificado e capacidade de inovação.


Bens Sofisticados nos Séculos XV, XVI e XVII

Nos séculos XV, XVI e XVII, os bens considerados sofisticados eram aqueles que demandavam grande habilidade artesanal, conhecimento técnico da época e cadeias produtivas avançadas para o período. Exemplos incluem:

  • Têxteis finos:
    • Roupas e tecidos de alta qualidade, como seda da China, linho da Flandres e veludo de Florença.
  • Produtos de luxo:
    • Porcelanas chinesas, altamente valorizadas na Europa.
    • Cristais de Veneza, famosos por sua transparência e design.
  • Instrumentos científicos e náuticos:
    • Como astrolábios, sextantes e globos terrestres, essenciais para a Era das Grandes Navegações.
  • Armas e armaduras:
    • Produzidas em cidades como Toledo (Espanha) e Solingen (Alemanha).
  • Joias e ourivesaria:
    • Itens como coroas, colares e artefatos em ouro e prata, com destaque para os trabalhos feitos na Índia e no Oriente Médio.
  • Livros e mapas:
    • Impressos em cidades como Veneza e Amsterdã, que eram pioneiras na impressão tipográfica.

Grandes Cidades Produtoras de Bens Sofisticados (Séculos XV-XVII)

1. Veneza (Itália)
  • Produtos: Vidro de Murano, cristais finos, têxteis de luxo.
  • Relevância: Veneza era uma potência comercial conectada ao Oriente e dominava o mercado de especiarias e bens de luxo.
2. Amsterdã (Holanda)
  • Produtos: Livros, mapas, instrumentos náuticos e armas.
  • Relevância: Centro do comércio mundial e da Revolução Científica, facilitando a troca de conhecimento e produtos sofisticados.
3. Lisboa (Portugal)
  • Produtos: Armas, navios e mercadorias adquiridas nas colônias, como especiarias, açúcar e ouro.
  • Relevância: Porta de entrada para bens das Índias Orientais na Europa.
4. Antuérpia (Flandres)
  • Produtos: Tecidos de linho e lã, ourivesaria, diamantes.
  • Relevância: Centro financeiro e comercial, conectando produtores europeus ao mercado global.
5. Toledo (Espanha)
  • Produtos: Espadas e armaduras de alta qualidade.
  • Relevância: Reconhecida pela produção de aço superior e exportação de armas para toda a Europa.
6. Pequim (China)
  • Produtos: Seda, porcelana, papel, arte e instrumentos técnicos.
  • Relevância: Um dos maiores centros de produção do mundo, abastecendo a Rota da Seda com bens altamente valorizados.
7. Kyoto (Japão)
  • Produtos: Espadas samurais, tecidos, cerâmica.
  • Relevância: Kyoto era um centro cultural e técnico do Japão, especializado em produtos artesanais de luxo.


Conclusão

Enquanto os bens sofisticados dos séculos XV-XVII dependiam de habilidades artesanais e cadeias comerciais baseadas em navegação, os bens complexos atuais são resultados de inovação tecnológica, ciência e cadeias globais digitalizadas. As cidades que lideravam a produção de bens sofisticados no passado, como Veneza e Amsterdã, eram equivalentes às metrópoles tecnológicas de hoje, como Shenzhen e o Vale do Silício. A evolução reflete como a tecnologia redefine os critérios de sofisticação e valor em cada era.

O Poder do Monopólio na Produção de Bens Sofisticados e sua Conexão com a Riqueza Regional

Ao longo da história, o poder de monopólio tem desempenhado um papel central na produção e comercialização de bens sofisticados, garantindo riqueza e prosperidade às regiões produtoras. Esse poder monopolista surge quando uma região ou um grupo possui vantagens exclusivas para produzir bens de alta demanda, seja por controle de recursos naturaisconhecimento técnico exclusivo ou acesso privilegiado a mercados globais.


1. O Monopólio nos Bens Sofisticados Históricos

Nos séculos XV a XVII, os bens considerados sofisticados — como tecidos finos, especiarias, porcelanas, cristais e armamentos — eram frequentemente produzidos em regiões que detinham controle exclusivo das técnicas ou recursos necessários para fabricá-los. Esses monopólios eram sustentados por:

  • Geografia e Recursos Naturais:
    • Especiarias: Regiões do Sudeste Asiático, como as Ilhas Molucas, monopolizavam a produção de cravo e noz-moscada, o que gerava imensas riquezas para comerciantes locais e europeus que controlavam sua exportação.
    • Seda e porcelana: A China detinha o monopólio da produção de seda e porcelana, protegendo os segredos da manufatura por séculos.
  • Conhecimento Técnico Exclusivo:
    • Vidros de Murano (Veneza): Veneza mantinha o monopólio na produção de vidros finos por meio do isolamento dos artesãos em Murano e da proteção rigorosa de seus métodos.
    • Aço de Toledo: A Espanha era reconhecida pela produção de espadas superiores, fruto de conhecimentos técnicos locais difíceis de replicar.
  • Controle Político e Econômico:
    • Companhias de Comércio: Monopólios comerciais, como a Companhia das Índias Orientais, controlavam o comércio de bens sofisticados, extraindo lucros e enriquecendo cidades como Amsterdã e Lisboa.
    • Patrocínio Real: Muitas regiões prosperaram porque monarquias ou governos locais protegiam seus produtores com tarifas ou privilégios comerciais exclusivos.

Esses monopólios garantiam que as regiões produtoras acumulassem riquezas significativas, que eram reinvestidas em infraestrutura, cultura e comércio.


2. O Monopólio nos Bens Complexos Modernos

No mundo contemporâneo, bens complexos — como microchips, aeronaves e produtos farmacêuticos — também estão associados a estruturas monopolistas ou oligopolistas que concentram riqueza nas regiões produtoras. Esse monopólio é sustentado por:

  • Capital Humano e Inovação Tecnológica:
    • O Vale do Silício (EUA) domina a produção de tecnologias avançadas e microchips devido à concentração de talentos, infraestrutura e financiamento.
    • Empresas como TSMC (Taiwan) monopolizam a fabricação de semicondutores de última geração, fundamentais para a economia global.
  • Patentes e Propriedade Intelectual:
    • Indústrias farmacêuticas detêm monopólios temporários por meio de patentes, como no caso de vacinas de mRNA e medicamentos inovadores, concentrando lucros em centros como Suíça e Estados Unidos.
  • Barreiras de Entrada e Escala:
    • A produção de aeronaves comerciais, dominada por Boeing e Airbus, requer investimentos maciços e redes globais de fornecedores, criando uma barreira quase intransponível para novos concorrentes.

3. Impactos do Monopólio na Riqueza Regional

O monopólio sobre bens sofisticados ou complexos transforma regiões produtoras em centros de riqueza e influência global. Os impactos incluem:

  • Atração de Capital e Talentos:
    • Regiões monopolistas, como Florença no Renascimento ou Shenzhen na atualidade, atraem capital financeiro e talentos criativos ou técnicos, alimentando ciclos de crescimento.
  • Desenvolvimento de Infraestrutura:
    • A riqueza gerada por monopólios é frequentemente usada para financiar portos, estradas e instalações industriais, como em Amsterdã durante a Era de Ouro.
  • Influência Cultural e Política:
    • Veneza utilizava os lucros do monopólio do vidro e comércio marítimo para financiar artes e arquitetura, enquanto cidades modernas, como São Francisco (Vale do Silício), moldam narrativas culturais globais.
  • Controle sobre Redes Globais de Comércio:
    • Cidades monopolistas historicamente dominavam as rotas de comércio, como Lisboa e sua ligação com as colônias, enquanto hoje centros como Seattle (sede da Amazon) controlam a logística global.

4. Desafios do Monopólio

Apesar de seus benefícios, o poder de monopólio também pode criar desigualdades econômicas e tensões geopolíticas:

  • Concentração de Riqueza: Monopólios podem aprofundar desigualdades regionais e globais.
  • Dependência Econômica: Regiões produtoras tornam-se vulneráveis a mudanças tecnológicas ou de demanda.
  • Disputas Comerciais e Conflitos: No passado, guerras como as das Especiarias surgiram por disputas monopolistas; hoje, há tensões em torno de semicondutores e baterias.

5. Conclusão

O monopólio sempre foi uma ferramenta poderosa para gerar riqueza e posicionar regiões como líderes econômicos e culturais. Enquanto no passado o monopólio de bens sofisticados como seda e vidros transformava cidades como Veneza em potências globais, hoje a concentração de tecnologia e inovação em bens complexos como microchips e aeronaves cria centros de riqueza como o Vale do Silício. A história mostra que controlar a produção de bens essenciais à economia global é um caminho certo para a prosperidade regional, ainda que também traga desafios de desigualdade e competição.   


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Os Mercados, a Incerteza e o Mundo Real: Uma Visão Pós-Keynesiana

O livro “Financial Markets, Money and the Real World” de Paul Davidson, um dos principais economistas pós-keynesianos, apresenta uma crítica ao mainstream econômico e oferece uma visão alternativa sobre o funcionamento dos mercados financeiros e da economia. Suas ideias são centradas na incerteza fundamental, no papel das expectativas e na importância das instituições financeiras. Abaixo estão os principais pontos abordados na obra:

1. Incerteza Fundamental

Davidson argumenta que os mercados financeiros operam sob condições de incerteza genuína, diferente de riscos mensuráveis. Inspirado por John Maynard Keynes, ele enfatiza que os agentes econômicos não possuem informações perfeitas ou previsões confiáveis sobre o futuro. Isso leva a decisões baseadas em convenções sociais ou expectativas de curto prazo, o que pode causar volatilidade nos mercados.

2. Diferenciação entre Riscos e Incertezas

O autor distingue risco, que pode ser calculado probabilisticamente, de incerteza, que é irreversível e imprevisível. Ele argumenta que a teoria econômica dominante, ao ignorar essa distinção, falha em capturar a complexidade dos mercados financeiros e suas crises.

3. Papel dos Mercados Financeiros

Davidson critica a visão de que os mercados financeiros sempre alocam recursos de forma eficiente. Ele sugere que, frequentemente, os mercados financeiros estão mais preocupados com ganhos especulativos de curto prazo do que com investimentos produtivos de longo prazo. Essa desconexão entre o setor financeiro e a economia real pode levar a instabilidade econômica.

4. Moeda e Liquidez

A moeda desempenha um papel central no pensamento de Davidson. Ele argumenta que a demanda por liquidez reflete a necessidade de proteção contra incertezas futuras. Isso está em contraste com a visão neoclássica, que trata a moeda apenas como um meio de troca. A preferência pela liquidez pode reduzir investimentos produtivos, exacerbando recessões econômicas.

5. Crítica ao Livre Mercado

Davidson questiona a crença de que os mercados financeiros, deixados a si mesmos, podem se autorregular. Ele argumenta que a especulação e o comportamento em manada podem amplificar instabilidades, o que torna essencial a presença de regulação governamental para estabilizar os mercados e proteger a economia.

6. Importância da Intervenção Estatal

Para Davidson, o governo deve desempenhar um papel ativo na economia, especialmente em tempos de crise. Ele propõe políticas fiscais e monetárias contracíclicas, regulação dos mercados financeiros e investimentos públicos para fomentar o crescimento econômico e o emprego.

7. Heterodoxia Econômica

O livro é uma defesa do pensamento pós-keynesiano, contrastando com a abordagem neoclássica. Ele critica a suposição de equilíbrio automático e destaca a importância de estudar a economia como um sistema dinâmico e dependente do tempo.

8. Globalização e Instabilidade

Davidson discute como a globalização financeira exacerbou a instabilidade econômica. Ele critica a falta de um sistema financeiro internacional robusto para lidar com desequilíbrios comerciais e crises financeiras globais. Propõe reformas no sistema monetário internacional, como o uso de uma moeda internacional (inspirada no “bancor” de Keynes) para evitar os problemas associados ao dólar como moeda de reserva global.

9. Recomendações de Políticas

• Regulamentação mais rigorosa dos mercados financeiros para conter a especulação.

• Estímulo ao investimento produtivo em vez de ganhos especulativos.

• Criação de instituições internacionais para coordenar políticas econômicas e reduzir desequilíbrios globais.

Importância da Obra

O livro é uma contribuição importante para aqueles que buscam uma visão alternativa à teoria econômica dominante. Davidson oferece ferramentas teóricas para compreender a natureza instável dos mercados financeiros e propõe soluções práticas para tornar o sistema econômico mais resiliente e equitativo.


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O Contrabando que Mudou o Mundo: Como Henry Wickham Derrubou o Império brasileiro da Borracha

No século XIX, o Brasil controlava impressionantes 90% do suprimento mundial de borracha. No entanto, esse domínio incomodava os britânicos, que decidiram agir estrategicamente para minar o poder brasileiro.

Com o avanço das bicicletas, automóveis e máquinas industriais no final do século XIX, a demanda global por borracha crescia de forma exponencial. No centro desse boom estava Manaus, uma cidade brasileira localizada no coração da Amazônia.

A riqueza proveniente da borracha transformou Manaus na cidade mais próspera da América do Sul no final dos anos 1800, rendendo-lhe o título de “Paris dos Trópicos”. Graças às seringueiras da bacia amazônica, o Brasil detinha praticamente o monopólio global desse recurso.

Os barões da borracha viviam como aristocratas, confiantes de que dominariam a indústria para sempre. Contudo, o cenário começou a mudar.

Os britânicos, insatisfeitos com sua exclusão desse mercado lucrativo, iniciaram nos anos 1860 um plano meticuloso para quebrar o monopólio brasileiro. O objetivo? Transferir o comércio de borracha para fora do controle do Brasil.

Mas havia um grande obstáculo: as sementes de seringueira, ricas em óleo e látex, dificilmente sobreviviam à longa viagem pelo Atlântico. Esse desafio parecia insuperável até que um personagem improvável surgiu.

Henry Wickham, nascido em 1846, era um empresário sem sucesso e sem nada a perder. Em 1876, ele se tornou um espião a serviço dos britânicos, elaborando um ousado plano para contrabandear sementes de seringueira para fora do Brasil. Wickham não se limitou a levar poucas sementes — ele contrabandeou cerca de 70.000.

Escondendo cuidadosamente sua carga e evitando suspeitas, Wickham conseguiu enviar as sementes para Londres, onde elas chegaram aos Jardins Botânicos Reais de Kew. Lá, especialistas cuidaram delas com atenção. Das 70.000 sementes, mais de 2.000 sobreviveram, número suficiente para desencadear uma verdadeira revolução no mercado global.

Enquanto o Brasil desfrutava de sua opulência, os britânicos começaram a plantar seringueiras em regiões como Ceilão, Malásia, Sri Lanka e Indonésia. Ao contrário das árvores selvagens da Amazônia, essas plantações eram organizadas, controladas e muito mais produtivas. O clima do Sudeste Asiático era perfeito para o cultivo, o que resultou em uma produção de borracha mais rápida, barata e eficiente.

Em 1920, apenas a Malásia contava com 1 milhão de acres de plantações de seringueira. O Sudeste Asiático rapidamente assumiu o mercado global, deixando o Brasil para trás. A queda foi drástica: em 1910, a produção brasileira havia diminuído 50%. Em 1914, a participação do Brasil no mercado global já havia caído para 30%, e, em 1940, era de apenas 1,3%.

O colapso foi devastador para a Amazônia. Milhares de seringueiros perderam seus meios de subsistência, e comunidades inteiras enfrentaram o caos econômico. No entanto, para o restante do mundo, a mudança para o Sudeste Asiático trouxe borracha mais barata e confiável, transformando a economia global.

Atualmente, cerca de 80% da produção mundial de borracha vem do Sudeste Asiático, um cenário que se iniciou com o ousado contrabando de Henry Wickham. Sua ação não apenas desmantelou o império da borracha brasileiro, mas também redefiniu as cadeias globais de suprimento. Ao transferir a produção das florestas selvagens do Brasil para plantações organizadas na Ásia, Wickham transformou um recurso imprevisível em um dos pilares da eficiência industrial, alterando para sempre o curso do comércio global.

referências:

1. Dean, Warren. A luta pela borracha no Brasil: um estudo de história ecológica. São Paulo: Nobel, 1989.

• Este livro fornece uma análise detalhada sobre o ciclo da borracha no Brasil e os fatores que levaram ao declínio da hegemonia brasileira no mercado global.

2. Grandin, Greg. Fordlândia: Ascensão e queda da cidade esquecida de Henry Ford na selva. São Paulo: Rocco, 2010.

• Apesar de focar em Fordlândia, o livro aborda a história da indústria da borracha e o impacto da perda do monopólio brasileiro.

3. Barham, Bradford; Coomes, Oliver T. Amazônia e o declínio da borracha: uma história econômica. Cambridge: Harvard University Press, 1996.

• Este estudo detalha a transição do monopólio da borracha da Amazônia para o Sudeste Asiático e as implicações econômicas disso.

4. Hecht, Susanna B.; Cockburn, Alexander. A sorte da floresta: destruição e sobrevivência na Amazônia brasileira. São Paulo: Companhia das Letras, 2013.

• Uma análise ambiental e social dos impactos do declínio da economia da borracha na Amazônia.

5. Kew Gardens Archives

• Os Jardins Botânicos Reais de Kew, em Londres, possuem registros históricos relacionados à introdução das sementes de seringueira contrabandeadas por Henry Wickham. Eles também são uma fonte confiável sobre o impacto global dessa transferência.

6. Mattoso, Kátia M. de Queirós. História econômica do Brasil. São Paulo: Ática, 1994.

• Uma visão geral das principais transformações econômicas do Brasil, incluindo o ciclo da borracha.

Essas referências são amplamente reconhecidas no campo da história econômica e ambiental e fornecem uma base sólida para explorar os eventos narrados.

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Dinâmica dos Mercados e Estratégias Empresariais: Uma Análise das Ideias de Oz Shy sobre organização industrial

O livro Industrial Organization: Theory and Applications de Oz Shy é uma das obras fundamentais no campo da organização industrial. Ele aborda a estrutura e o comportamento das empresas nos mercados, explorando como diferentes configurações de mercado afetam as decisões estratégicas das firmas e os resultados econômicos.

Aqui estão alguns dos principais temas e ideias discutidos na obra:

1. Estruturas de Mercado

Shy analisa diferentes estruturas de mercado, como:

• Concorrência perfeita: Caracterizada por muitas empresas, produtos homogêneos e nenhuma barreira à entrada.

• Monopólio: Uma única empresa domina o mercado.

• Oligopólio: Poucas empresas competem, o que leva a interações estratégicas entre elas.

• Concorrência monopolística: Muitas empresas oferecem produtos diferenciados.

O autor destaca como cada estrutura afeta preços, lucros e eficiência.

2. Teoria dos Jogos Aplicada à Organização Industrial

Shy utiliza a teoria dos jogos para modelar a interação estratégica entre empresas, abordando temas como:

• Guerra de preços: Estratégias de empresas em mercados competitivos.

• Decisões de entrada e saída: Como as barreiras à entrada e os custos fixos influenciam as decisões estratégicas.

• Colusão e formação de cartéis: Como as empresas podem cooperar para aumentar lucros, mesmo que isso seja prejudicial para os consumidores.

3. Diferenciação de Produtos

O livro dedica um capítulo significativo à diferenciação de produtos, explorando:

• Horizontal: Preferências distintas dos consumidores (ex.: sabor, localização).

• Vertical: Qualidade percebida do produto.

Shy argumenta que a diferenciação pode permitir que as empresas escapem da competição por preços e aumentem sua margem de lucro.

4. Política de Preços

A obra analisa estratégias de precificação, como:

• Discriminação de preços: Cobrar diferentes preços de diferentes consumidores com base em sua disposição a pagar.

• Estratégias de preços dinâmicos: Como os preços mudam ao longo do tempo, considerando o ciclo de vida dos produtos.

5. Barreiras à Entrada e Concorrência Estratégica

Shy explora os mecanismos pelos quais as empresas estabelecidas podem criar barreiras à entrada para novas concorrentes, como:

• Economias de escala.

• Investimento em pesquisa e desenvolvimento (P&D).

• Controle de canais de distribuição.

Essas estratégias são fundamentais para manter posições dominantes no mercado.

6. Interação entre Empresas e Regulação

Outro tema central do livro é como as empresas interagem com os reguladores e as políticas antitruste. Shy analisa como as políticas governamentais podem:

• Restringir práticas anticompetitivas.

• Promover a entrada de novas empresas.

• Beneficiar consumidores por meio da redução de preços e aumento de inovação.

7. Mercados Digitais e Tecnologia

Embora o livro tenha sido escrito antes do boom das empresas digitais, Shy aborda conceitos que se aplicam ao mercado moderno, como:

• Efeitos de rede: Produtos ou serviços que se tornam mais valiosos à medida que mais pessoas os utilizam.

• Custos de troca: Dificuldade ou custo enfrentado pelos consumidores para mudar de fornecedor.

Contribuição Acadêmica

A abordagem de Shy é tanto teórica quanto aplicada, combinando modelos matemáticos rigorosos com análises práticas. Ele fornece exemplos que conectam a teoria a situações reais de mercado, tornando o livro acessível tanto para acadêmicos quanto para estudantes e profissionais.

Impacto

O livro é uma leitura indispensável para quem deseja entender a dinâmica da competição e das estratégias empresariais em mercados modernos. Ele fornece uma base sólida para a análise de políticas antitruste, regulação de mercados e o impacto das decisões empresariais no bem-estar social.    


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A atualidade radical da Renda Básica

Num mundo em que a riqueza coletiva é capturada por tão poucos, alguns ainda julgam descabido oferecer dinheiro sem contrapartida em trabalho. É hora de demonstrar a inconsistência – ética, social e econômica – desta oposição

Enquanto a economia for movida principalmente pela maximização do lucro, ela responderá à demanda expressa pelos grupos mais ricos da sociedade, levando a formas extrativistas de produção que agravam a exclusão social em nome da criação de mais riqueza, e deixará de assegurar os direitos das pessoas em situação de pobreza.
(Olivier de Schutter)¹

O ponto de partida óbvio é que o que produzimos no mundo, o chamado PIB global, é suficiente para garantir uma vida digna e próspera para todos. Também podemos usar a Renda Nacional Líquida ou acrescentar a infraestrutura já construída – casas, estradas, eletricidade, sistemas de água, ruas e tantas outras melhorias herdadas -, mas o fato básico é que o que temos e produzimos é suficiente. Para se ter uma referência, o PIB mundial, de 110 trilhões de dólares, para uma população de 8 bilhões, equivale a 4.600 dólares por mês para uma família de quatro membros. Mesmo no Brasil, com um PIB per capita de 10 mil dólares por ano, o que produzimos equivale a 3,3 mil dólares por mês por família de quatro membros. Podemos brincar com os números, mas o fato básico é que nosso problema não é econômico, mas de organização social e política.


É claro que teríamos de ajustar o que produzimos. Os EUA gastaram 2,3 trilhões em 20 anos na guerra do Afeganistão. Isso equivale a 315 milhões por dia, uma quantia que nos permitiria construir 8 mil casas por dia, escolas, casas, sistemas de esgoto, o que for. Teria sido mais popular. Você poderia ter feito isso no Paquistão, para criar integração política. Certamente teria sido mais inteligente do que bombardear, se considerarmos os resultados. E construir escolas, tirar as pessoas da pobreza e gerar empregos é politicamente mais poderoso do que gerenciar centenas de bases militares em todo o mundo.

Esse é apenas um exemplo, mas há muitos absurdos. Produzimos alimentos suficientes para todos, mas perdemos 30% deles por má administração. Certamente, os lucros financeiros e o setor militar aumentam o PIB, mesmo que sejam custos líquidos para a sociedade, mas será que o objetivo é esse “crescimento”? A questão não é o crescimento, mas o ajuste do que fazemos às necessidades sociais e aos desafios ambientais. Temos os recursos, as tecnologias e sabemos onde estão os dramas.

Um segundo ponto é que uma renda básica é extremamente necessária. Temos 750 milhões de pessoas passando fome e mais de 2 bilhões em situação de insegurança alimentar. Será que eles merecem? Será que cerca de 180 milhões de crianças que passam fome merecem isso? Na verdade, nem os pobres merecem sua pobreza, nem os bilionários das empresas financeiras merecem suas riquezas. Não estamos discutindo mérito aqui, mas humanidade básica. Desde quando a economia pode ser isenta de uma abordagem ética? Estamos falando de uma grande parte da humanidade em situações desesperadoras, quando a solução da questão das necessidades básicas custa uma ninharia.²

Veja um número simples: dados do Crédit Suisse/UBS mostram que a riqueza do 1% dos adultos mais ricos do mundo chega a aproximadamente 250 trilhões de dólares. A metade inferior tem 5 trilhões. Isso significa simplesmente que uma transferência de 2% do 1% mais rico dobraria a riqueza da metade inferior. Em termos sociais, um dólar na base da sociedade é radicalmente mais produtivo do que no topo. A utilidade marginal do dinheiro é maximizada quando você o distribui. Coloco isso nesses termos porque soa muito científico, para os economistas. Mas é uma questão de bom senso e de respeito à dignidade humana.

E, por favor, não me venha com a conversa fiada de que se você der dinheiro aos pobres eles vão parar de trabalhar. No Brasil, o programa Bolsa Família do governo Lula, iniciado em 2003, alcançou mais de 50 milhões de pessoas e aumentou radicalmente o emprego. Não é um maná que cai do céu, é um piso sobre o qual os pobres podem se apoiar para construir suas vidas. Sim, a renda básica como um piso. O Banco Mundial fez amplos estudos sobre a armadilha da pobreza e, atualmente, temos muitos detalhes sobre isso no World Inequality Database (WID), nas publicações da Oxfam, nos estudos da equipe de Thomas Piketty e em muitos outros. As luzes estão acesas, depois de tanta Economia de Lixo [Junk Economics], como Michael Hudson a chama.

O que vimos no Brasil é que o dinheiro na base estimula a demanda – ele não se transfere para paraísos fiscais nem alimenta a dívida pública – o que, por sua vez, estimula a produção e a criação de empregos. E estamos falando de empregos úteis, como a construção de casas, a compra de móveis ou de alimentos melhores e coisas do gênero. E não gera inflação, pois esses são produtos cuja oferta pode se expandir rapidamente, garantindo o equilíbrio entre oferta e demanda. À medida que a economia se expande, mais dinheiro é arrecadado em impostos, equilibrando o orçamento. Não há mistério aqui. Durante a década de 2003-2013, tivemos uma redução drástica da pobreza e do desemprego, bem como um forte investimento e um crescimento do PIB de 3,8%. Mas o mundo financeiro odiou: era a prosperidade baseada na produção, não na extração financeira.³

O que temos até agora com relação à questão da renda básica? Temos o dinheiro, podemos torná-lo útil (não na guerra contra o Afeganistão ou nas finanças). Ela é extremamente necessária, é útil tanto em termos de crescimento econômico quanto em termos éticos, e temos toda a economia necessária, uma vez que deixamos de lado a economia de baixo nível. E temos uma implementação em larga escala ao longo de muitos anos que mostra que funciona. E os custos? No Brasil, ajudar todas essas pessoas custou entre 0,5% e 1,5% do PIB, de acordo com os períodos. Na verdade, esses custos foram supercompensados: o estudo do IPEA mostrou que cada 1 real investido no Bolsa Família aumentou o PIB em 1,78 real.


É simplesmente o efeito multiplicador: o dinheiro na base gera consumo, demanda, empregos e impostos. O dinheiro no topo gera poder político e a devastação social e ambiental que estamos enfrentando – e o discurso de fachada de que eles são executivos responsáveis e preocupados com a austeridade. Sua austeridade é comovente, já que seu salário médio é, nos EUA, 350 vezes maior do que o salário médio de um funcionário. A quem estamos enganando?

Mas o que contraria muitas pessoas é o fato de que, enquanto elas trabalham para ganhar cada centavo, esse dinheiro chegaria a todos “de graça”. Uma primeira questão sobre esse argumento é que todos nós recebemos muitas coisas de graça. A terra, a água, as praias, a natureza, os chamados bens comuns. Elinor Ostrom recebeu o prêmio Nobel de Economia do Banco da Suécia por seu estudo sobre Governing the Commons [Governando os bens comuns, em tradução livre]. No Brasil, este ano, a privatização do acesso às praias está sendo discutida no Congresso Nacional. A privatização da água está crescendo em muitas regiões. O livre acesso aos bens comuns provou sua utilidade. Mas há muito mais. Na maioria dos países europeus, assim como no Canadá ou na China, o acesso aos serviços de saúde é gratuito e universal. Em muitos países, a educação também é gratuita, assim como o acesso a parques em uma cidade ou o uso de ruas, calçadas e estradas. E isso funciona. Nos Estados Unidos, assim como no Brasil, grandes grupos financeiros assumiram o controle da educação e da saúde. É um desastre.

Os serviços básicos universais representam custos, mas nós os temos “de graça”, o que significa que os custos foram cobertos pelos impostos que pagamos. Nenhum argumento moral é levantado aqui: os sistemas públicos de acesso universal gratuito são simples e radicalmente mais eficientes em várias áreas. Compare os custos dos serviços de saúde nos EUA: 11 mil dólares por pessoa por ano, com os custos de 5 mil dólares no Canadá, sendo que o Canadá está muito à frente dos EUA em termos de longevidade e saúde geral da população. O mesmo vale para a educação: com acesso universal público, ou pelo menos unidades sem fins lucrativos, o sistema é mais eficiente, enquanto a privatização leva a uma espécie de indústria ineficiente de diplomas.

De acordo com o relatório Schutter da ONU, os serviços básicos universais funcionam melhor quando são gratuitos. “Quanto mais as necessidades básicas forem atendidas pelos serviços básicos universais, menos as diferenças de renda serão importantes e menos as famílias de baixa renda serão penalizadas. A deliberação democrática deve assegurar que os recursos disponíveis sejam dedicados principalmente a garantir níveis adequados de prestação de serviços públicos (em áreas como saúde, educação, transporte público, fornecimento de energia e moradia) e proteção social, em vez de atender à demanda expressa pelos grupos com maior poder aquisitivo.” (págs. 9 e 15)

Portanto, de fato, muitos bens e serviços básicos são gratuitos para o uso de todos, mesmo que tenham custos. Como ordem de grandeza, podemos considerar que dois terços do bem-estar econômico das famílias resultam de ter dinheiro no bolso, para usar em lojas ou para pagar o aluguel, enquanto um terço resulta do acesso ao que chamamos de bens de consumo coletivo, ou um salário não direto, já que é pago pela administração pública, mas certamente representa uma parte do nosso conforto material. Viver em uma rua pavimentada certamente faz parte do nosso conforto. Os bens comuns, os serviços públicos e a infraestrutura são gratuitos, independentemente de se e quanto você paga de impostos. Será que não podemos considerar que alguma renda poderia ser adicionada a isso? Certamente não é uma questão moral, considere-a parte das necessidades básicas. E, como visto, certamente é produtivo para a economia. A ganância é estúpida. Um pouco de dinheiro sem custos não é muito diferente de outras formas de acesso à riqueza social.

Portanto, algumas coisas certamente precisam ser consertadas. Garantir uma renda básica é certamente a maneira mais eficaz e barata de reduzir o sofrimento e estimular a economia. Tom Malleson apresenta um argumento básico: Assim como é absurdo uma criança passar fome ou ficar doente e não ser atendida, porque seus pais não têm dinheiro, o apoio básico para uma vida próspera deve ser fornecido a todos, simplesmente porque são seres humanos: “Todos os seres humanos têm o mesmo valor moral. A razão final, e talvez a mais forte, para ser um igualitário é a razão prática: uma sociedade com mais igualdade seria, considerando todas as coisas, um lugar imensamente melhor para se viver.” (253)

Uma questão importante é que fornecer uma renda básica é tecnicamente muito mais fácil com o dinheiro virtual moderno e a conectividade global. Nossa experiência no Brasil mostra que isso pode funcionar se você fizer a lição de casa: um registro básico – ao construí-lo, descobrimos que muitas pessoas simplesmente não existiam formalmente, por não terem uma certidão de nascimento ou qualquer documento de identidade – e definir os valores e as condições. Ao fornecer um cartão de crédito específico para cada família, de preferência para as mães, o dinheiro transferido chega às famílias imediatamente – basta pressionar “Enter” no banco gestor. Baixo custo e sem intermediários.

O gerenciamento de rede do sistema é simples. Você pode começar com valores baixos, para que os ricos não fiquem muito desesperados com o fato de outras pessoas receberem dinheiro de graça em vez de eles mesmos, e aumentar e ajustar esses valores progressivamente. Em escala mundial, o imposto de 2% sobre os bilionários certamente ajudará. A renda básica não apenas aumentará a Felicidade Interna Bruta e estimulará a economia, mas também nos colocará em um caminho moral correto. Nossa atual prosperidade global é uma construção social, e a sociedade deve se beneficiar.

1 Olivier de Schutter, UN Special Rapporteur, Eradicating poverty beyond growth, UN, Human Rights Council, June 18 – July 12 2024.
2 Michael Sandel, The Tyranny of Merit: can we find the common good?, Picador Paper, 2021.
3 L. Dowbor e Bruno Barbosa Cezar, Distribution and exclusion in economic policy Latin American Perspectives, September 2022.
4 Tom Malleson, Against Inequality: the practical and ethical case for abolishing the superrich, Oxford University Press, 2023.


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Delft no Século XVII: A Cidade holandesa que Inspirou Vermeer

O livro “Vermeer: A View of Delft”, de Anthony Bailey, oferece uma análise profunda e envolvente sobre a vida, a obra e o contexto histórico do pintor holandês Johannes Vermeer. Publicado originalmente em 2001, o livro combina história da arte, biografia e história social para explorar o mundo em que Vermeer viveu e trabalhou.

Principais ideias do livro:

1. O enigma de Vermeer

Bailey investiga como Vermeer, uma figura relativamente obscura durante sua vida, se tornou um dos pintores mais admirados da história da arte. O autor reflete sobre o paradoxo de Vermeer ter produzido tão poucas obras conhecidas (cerca de 35) e, ainda assim, ter alcançado tamanha perfeição técnica e impacto cultural.

2. A vida em Delft

O livro reconstrói o cotidiano de Delft, uma próspera cidade dos Países Baixos no século XVII. Bailey analisa como a atmosfera cultural, econômica e religiosa da cidade influenciou Vermeer, um católico vivendo em um ambiente predominantemente protestante.

3. O processo criativo de Vermeer

Bailey discute as técnicas e os métodos do pintor, incluindo o uso possível da câmara escura, que teria permitido a Vermeer alcançar a precisão óptica e o jogo de luz e sombra característicos de suas pinturas.

4. A relação com o mercado de arte

O autor também explora como Vermeer dependia de patronos e comerciantes de arte, como Pieter Claesz van Ruijven, e como a economia da época impactava sua produção artística.

5. Obras como janelas para o mundo

Bailey examina pinturas icônicas, como Vista de Delft e A Moça com Brinco de Pérola, mostrando como cada obra é uma janela para a sensibilidade estética e as preocupações intelectuais de Vermeer.

6. O mistério do legado de Vermeer

Após sua morte em 1675, Vermeer caiu no esquecimento por quase dois séculos, sendo redescoberto apenas no século XIX. Bailey reflete sobre como o gosto estético do público mudou, permitindo que sua obra fosse redescoberta e celebrada.

Estilo do livro

O texto combina erudição e acessibilidade. Bailey não apenas analisa os aspectos técnicos das pinturas, mas também mergulha em narrativas emocionais e humanas, o que torna o livro atraente tanto para estudiosos da arte quanto para leitores leigos.

Delft no século XVII era uma cidade vibrante e próspera, situada na República das Sete Províncias Unidas dos Países Baixos, uma das regiões mais ricas e culturalmente influentes da Europa. Esse período, conhecido como a Idade de Ouro Holandesa, foi marcado por grandes avanços econômicos, científicos e artísticos. Delft, embora menor que Amsterdã ou Roterdã, desempenhou um papel significativo nesse contexto, com sua economia, religião e cultura contribuindo para a formação do ambiente em que Johannes Vermeer viveu e trabalhou.

Aspectos de Delft no Século XVII

1. Economia e Comércio

• Delft prosperava como um centro de comércio e manufatura. A cidade era famosa por sua produção de cerâmica de alta qualidade, conhecida como Delftware (faiança de Delft), que imitava a porcelana chinesa, muito apreciada na época.

• A proximidade de Delft a canais e rotas marítimas facilitava o comércio, conectando a cidade a outras regiões da República Holandesa e ao exterior.

• A Companhia Holandesa das Índias Orientais (VOC), uma das maiores corporações do mundo na época, tinha forte influência na região, trazendo riqueza e mercadorias exóticas, como especiarias, tecidos e porcelana.

2. Estrutura Social

• A sociedade de Delft era composta por uma elite mercantil rica, uma classe média em crescimento, trabalhadores urbanos e pobres. Os comerciantes bem-sucedidos e os proprietários de oficinas dominavam a economia local.

• As guildas, associações de artesãos e comerciantes, desempenhavam um papel crucial na organização da economia e no controle da qualidade da produção, inclusive das cerâmicas.

3. Cultura e Arte

• Delft era uma cidade profundamente influenciada pela arte. Embora não tão central quanto Amsterdã, Delft abrigava uma escola de pintura vibrante, representada por artistas como Carel Fabritius e Pieter de Hooch, além de Vermeer.

• A arte holandesa da época focava em cenas de gênero, paisagens, naturezas-mortas e retratos, refletindo o gosto da classe média em ascensão por representações detalhadas e realistas da vida cotidiana.

• O interesse por ciência e tecnologia também era evidente. Cientistas como Antonie van Leeuwenhoek, que nasceu em Delft, fizeram contribuições significativas ao desenvolvimento da ciência moderna, como a invenção do microscópio.

4. Religião

• A religião era um aspecto central da vida em Delft. Após a Reforma Protestante, a maioria da população aderiu ao Calvinismo, que tornou-se a religião oficial. Igrejas como a Nova Igreja (Nieuwe Kerk) e a Velha Igreja (Oude Kerk) dominavam o panorama religioso e cultural.

• Vermeer, porém, era católico em uma cidade predominantemente protestante. Sua fé e casamento com Catharina Bolnes, também católica, influenciaram sua vida e, possivelmente, sua arte.

5. Arquitetura e Ambiente Urbano

• Delft era conhecida por suas ruas estreitas e bem organizadas, seus canais pitorescos e suas igrejas imponentes. O centro da cidade era o coração da vida cívica, com o mercado central e a prefeitura servindo como locais de encontro e comércio.

• A explosão em 1654, quando um depósito de pólvora no centro da cidade explodiu, destruiu grande parte de Delft e matou centenas de pessoas. Esse evento teve impacto duradouro na memória coletiva da cidade e na vida de seus habitantes.

6. A Importância da Pintura de Delft

• Artistas como Vermeer retrataram o cotidiano e a serenidade de Delft com precisão e beleza, tornando a cidade imortal por meio de suas pinturas. Obras como Vista de Delft mostram a cidade com uma luminosidade calma e detalhista, representando tanto a realidade quanto a atmosfera idealizada da cidade.

Delft, nesse período, era um microcosmo da Idade de Ouro Holandesa, combinando comércio, inovação e cultura em um ambiente que inspirou grandes avanços artísticos e científicos. Foi nesse contexto rico que Vermeer viveu, absorvendo a essência de sua cidade para transformá-la em arte atemporal.

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O Potencial do Brasil para Liderar a Produção Sustentável de Nitrocelulose no Mundo

O que é Nitrocelulose?

nitrocelulose é um composto derivado da celulose, que é a principal fibra estrutural encontrada em plantas. A nitrocelulose é produzida por meio de um processo de nitrificação da celulose, em que grupos nitro (-NO₂) são adicionados à sua estrutura por meio de uma reação química com ácidos nítrico e sulfúrico concentrados. Esse processo confere propriedades únicas ao material, tornando-o inflamável e extremamente versátil em várias aplicações industriais.


1. Propriedades da Nitrocelulose

  • Inflamabilidade: A nitrocelulose é altamente inflamável e queima rapidamente, o que a torna útil em aplicações como explosivos e propulsores.
  • Transparência e Brilho: Quando dissolvida em solventes, pode ser usada em revestimentos transparentes e brilhantes.
  • Elasticidade e Aderência: A nitrocelulose é flexível, aderente e forma filmes finos e resistentes.
  • Solubilidade: Ela é solúvel em solventes orgânicos como acetona, éter e álcool, mas insolúvel em água.

2. Produção da Nitrocelulose

A nitrocelulose é produzida a partir de fibras de celulose natural (como algodão ou polpa de madeira) por meio do processo de nitrificação:

  1. A celulose é tratada com uma mistura de ácido nítrico e ácido sulfúrico concentrados.
  2. Durante o processo, os átomos de hidrogênio presentes na celulose são substituídos por grupos nitro (-NO₂).
  3. A reação é controlada para determinar o grau de nitrificação, que influencia a estabilidade e inflamabilidade do produto final.

O grau de nitrificação define se a nitrocelulose será usada em aplicações explosivas ou industriais mais controladas.


3. Aplicações da Nitrocelulose

3.1. Explosivos e Propulsores

  • Pólvora sem fumaça: A nitrocelulose é amplamente utilizada como componente em pólvoras para munições e propulsores militares, pois queima rapidamente e sem produzir muita fumaça.
  • Explosivos controlados: A versão altamente nitrada da nitrocelulose, conhecida como algodão-pólvora, é utilizada em explosivos.

3.2. Revestimentos e Vernizes

  • É usada em tintasvernizes e lacres, especialmente na indústria automotiva e de móveis, devido ao seu acabamento brilhante e secagem rápida.
  • É aplicada em revestimentos de madeira e instrumentos musicais, como guitarras, para dar brilho e proteção.

3.3. Indústria Gráfica

  • A nitrocelulose é utilizada na produção de tintas de impressão e películas para filmes fotográficos devido à sua transparência e capacidade de formar películas finas.

3.4. Cosméticos

  • Ela está presente em esmaltes para unhas devido à sua propriedade de formar uma película resistente e brilhante.

3.5. Plásticos e Celuloide

  • No passado, a nitrocelulose era usada para fabricar celuloide, um dos primeiros plásticos usados em filmes fotográficos e cinematográficos. Contudo, o celuloide foi substituído devido à sua alta inflamabilidade.

4. Riscos e Segurança

  • A nitrocelulose é extremamente inflamável e pode ser perigosa se manuseada incorretamente.
  • Armazenamento inadequado ou exposição a calor e faíscas pode causar incêndios ou explosões.
  • Por esse motivo, são seguidas normas rigorosas para seu transporte, armazenamento e utilização.

5. Conclusão

nitrocelulose é um material versátil com propriedades que a tornam indispensável em diversas indústrias, desde explosivos até revestimentos, tintas e cosméticos. Sua produção controlada e aplicações adaptáveis mostram o quão importante ela é, embora seja necessária atenção aos cuidados com a segurança devido à sua alta inflamabilidade.

O Potencial do Brasil para Produzir Nitrocelulose

O Brasil possui um grande potencial para a produção de nitrocelulose, devido à abundância de recursos naturais, matérias-primas sustentáveis e uma indústria química em expansão. A nitrocelulose, amplamente utilizada em setores como explosivos, tintas, vernizes, cosméticos e filmes fotográficos, depende de celulose de alta qualidade, um insumo que o Brasil produz em larga escala.


1. Abundância de Matéria-Prima: Celulose

O Brasil é um dos maiores produtores mundiais de celulose, especialmente proveniente de florestas plantadas de eucalipto e pinus. Essa celulose de fibra curta é ideal para a produção de nitrocelulose de alta qualidade, por suas características estruturais e baixo custo.

Dados relevantes sobre a celulose no Brasil:

  • O Brasil é o segundo maior produtor mundial de celulose, atrás apenas dos Estados Unidos.
  • A indústria florestal nacional é baseada em florestas plantadas, com mais de 9 milhões de hectares, o que garante uma produção sustentável e contínua.
  • A produtividade do eucalipto brasileiro é a maior do mundo, com colheita em ciclos de 6 a 7 anos, o que torna o custo da matéria-prima mais baixo e competitivo globalmente.

2. Capacidade Industrial e Infraestrutura

O Brasil possui uma indústria química e florestal avançada, com infraestrutura robusta para a transformação da celulose em produtos de alto valor agregado.

  • Indústrias de celulose e papel: O setor já conta com tecnologia moderna e capacidade para expandir a produção e diversificar produtos derivados, como a nitrocelulose.
  • Setor químico consolidado: Empresas brasileiras possuem experiência na produção de produtos químicos finos e reagentes essenciais para o processo de nitrificação, como ácido sulfúrico e ácido nítrico.

Essa combinação de matéria-prima abundante e capacidade técnica coloca o Brasil em posição de destaque para atender o mercado global de nitrocelulose.


3. Sustentabilidade como Diferencial

A produção de nitrocelulose no Brasil pode se beneficiar do conceito de sustentabilidade e do uso de recursos renováveis, um grande diferencial no mercado global:

  • Celulose de florestas plantadas: A utilização de eucalipto e pinus, cultivados em áreas específicas, reduz o impacto ambiental em comparação à celulose oriunda de desmatamento.
  • Energia limpa: O Brasil possui uma matriz energética majoritariamente renovável (hidrelétrica, solar e eólica), o que torna o processo de produção mais sustentável.
  • Redução de resíduos agrícolas: Biomassa residual de atividades agrícolas e florestais pode complementar a produção de nitrocelulose.

A capacidade de produzir nitrocelulose de forma sustentável pode abrir mercados para o Brasil em países que exigem padrões ambientais rigorosos.


4. Demanda Crescente por Nitrocelulose

nitrocelulose tem alta demanda em indústrias-chave, como:

  • Revestimentos e tintas: Utilizada em vernizes automotivos, móveis e instrumentos musicais.
  • Cosméticos: É insumo essencial em esmaltes e outros produtos de beleza.
  • Explosivos e propulsores: Para usos militares, mineração e indústria de fogos de artifício.
  • Indústria gráfica: Produção de tintas e filmes fotográficos.

Com o aumento da demanda global, o Brasil pode atender tanto o mercado interno quanto o externo, tornando-se um importante exportador de nitrocelulose.


5. Desafios para Produção de Nitrocelulose no Brasil

Apesar do potencial, o Brasil enfrenta alguns desafios para consolidar-se como um grande produtor de nitrocelulose:

  • Investimento em tecnologia: A produção de nitrocelulose exige processos controlados e seguros devido à sua alta inflamabilidade.
  • Políticas regulatórias: A fabricação e o transporte de nitrocelulose exigem normas rigorosas de segurança.
  • Cadeia de valor: É necessário fortalecer o elo entre produtores de celulose e a indústria química para aumentar a produção em escala.

6. Oportunidades Econômicas

Investir na produção de nitrocelulose traz benefícios econômicos e sociais:

  • Geração de emprego: Criação de postos de trabalho em áreas industriais e florestais.
  • Aumento das exportações: O Brasil poderia se tornar um dos principais fornecedores globais de nitrocelulose, competindo com países como China e Índia.
  • Valor agregado: Transformar a celulose em nitrocelulose gera maior retorno econômico do que exportar celulose bruta.

7. Conclusão

O Brasil reúne todos os elementos necessários para se tornar um líder global na produção de nitrocelulose: abundância de celulose, infraestrutura industrial avançada, compromisso com sustentabilidade e um mercado crescente de produtos químicos de alto valor. Com investimentos em tecnologia, segurança e políticas públicas adequadas, o país pode agregar valor à sua cadeia produtiva, fortalecer o setor químico e aumentar sua competitividade no mercado internacional.

 

O Uso da Nanocelulose: Propriedades e Aplicações

nanocelulose é um material inovador derivado da celulose, a fibra natural mais abundante na Terra. Ela é composta por partículas extremamente pequenas, em escala nanométrica (bilionésimos de metro), e possui propriedades únicas que a tornam ideal para diversas aplicações tecnológicas, industriais e sustentáveis. A nanocelulose pode ser extraída de fontes renováveis como madeira, resíduos agrícolas e algas, posicionando-se como um material versátil, leve e ecologicamente correto.


1. Tipos de Nanocelulose

Existem três principais tipos de nanocelulose, cada um com características específicas:

  • NCC (Nanocristais de Celulose):
    • Formados por regiões cristalinas da celulose.
    • Possuem alta resistência mecânica e estabilidade térmica.
  • CNF (Fibrilas de Nanocelulose):
    • Fibras ultrafinas de celulose com estrutura em rede.
    • Flexíveis, leves e com excelente capacidade de formação de filmes.
  • BNC (Nanocelulose Bacteriana):
    • Produzida por bactérias em processos biotecnológicos.
    • Possui alta pureza e capacidade de retenção de água, sendo usada em aplicações biomédicas.

2. Propriedades da Nanocelulose

A nanocelulose se destaca por suas propriedades únicas, incluindo:

  • Alta resistência mecânica: Mais forte que o aço em relação ao peso.
  • Baixa densidade: Extremamente leve, ideal para materiais estruturais.
  • Biodegradabilidade: Material 100% renovável e sustentável.
  • Alta capacidade de absorção: Excelente retenção de água e outros líquidos.
  • Transparência: Pode formar filmes transparentes, ideal para revestimentos.
  • Barreira a gases: Atua como barreira em embalagens, impedindo a passagem de oxigênio.

3. Aplicações da Nanocelulose

A combinação de resistência, leveza e sustentabilidade faz com que a nanocelulose tenha aplicações em diversos setores:

3.1. Embalagens Sustentáveis

  • Utilizada para substituir plásticos em embalagens biodegradáveis e filmes protetores.
  • Sua capacidade de formar barreiras contra oxigênio e vapor de água a torna ideal para alimentos e produtos farmacêuticos.

3.2. Indústria de Papel e Têxtil

  • Adicionada ao papel para aumentar sua resistência mecânica e reduzir o peso.
  • Utilizada na produção de tecidos mais leves e resistentes, além de revestimentos antiumidade.

3.3. Biomateriais e Medicina

  • Curativos e membranas: A nanocelulose bacteriana (BNC) é usada em curativos por ser biocompatível, absorvente e auxiliar no processo de cicatrização.
  • Implantes e tecidos artificiais: Sua resistência e biocompatibilidade permitem aplicações em engenharia de tecidos.

3.4. Compósitos Estruturais

  • Incorporada em plásticos e polímeros para produzir materiais mais resistentes e leves.
  • Aplicada em setores como automotivoaeroespacial e construção civil.

3.5. Indústria Cosmética

  • Utilizada em géis e cremes devido à sua capacidade de retenção de água e formação de filmes protetores.

3.6. Eletrônicos e Energia

  • Em baterias e supercapacitores, a nanocelulose atua como material condutor e suporte estrutural leve.
  • Aplicada em displays transparentes e sensores flexíveis devido à sua transparência e propriedades mecânicas.

3.7. Tratamento de Água

  • Utilizada em filtros de água para remoção de contaminantes, metais pesados e nanopartículas.

4. O Potencial do Brasil na Produção de Nanocelulose

O Brasil, sendo um dos maiores produtores de celulose e detentor de extensas áreas de florestas plantadas, possui vantagens competitivas na produção de nanocelulose. Com investimentos em tecnologia e pesquisa, o país pode se tornar um grande fornecedor global desse material inovador, atendendo às demandas de mercados como:

  • Sustentabilidade e embalagens verdes;
  • Materiais leves para a indústria automotiva e aeronáutica;
  • Biomedicina e saúde;
  • Produtos eletrônicos e energéticos.

5. Conclusão

nanocelulose é um material revolucionário, com potencial para substituir produtos convencionais em diversas indústrias, especialmente na busca por soluções mais leves, resistentes e sustentáveis. Com sua capacidade de ser produzida a partir de recursos renováveis e sua versatilidade, a nanocelulose se destaca como uma peça-chave para o futuro de materiais avançados e ecologicamente corretos. O Brasil, com sua riqueza em matérias-primas, está bem posicionado para liderar esse mercado emergente.


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O Potencial do Brasil na Produção de Carvão Ativado

carvão ativado funciona como um filtro altamente eficiente devido à sua estrutura e propriedades químicas únicas. Ele é amplamente utilizado para purificação de ar, água, bebidas e até mesmo em processos industriais e de saúde. A eficiência do carvão ativado como filtro está relacionada principalmente à sua alta porosidade e capacidade de adsorção.


1. Estrutura do Carvão Ativado

  • O carvão ativado é um material composto principalmente de carbono e produzido a partir de matérias-primas orgânicas como madeira, cascas de coco, carvão mineral ou resíduos agrícolas.
  • Durante o processo de ativação térmica ou química, o material é tratado em altas temperaturas (600°C a 900°C) em presença de vapor ou agentes químicos. Isso cria uma estrutura com microporos e mesoporos, aumentando drasticamente sua área superficial.
  • A área superficial de 1 grama de carvão ativado pode ultrapassar 1.000 m², o que significa uma imensa superfície disponível para capturar partículas e moléculas.

2. O Processo de Adsorção

A principal propriedade do carvão ativado é a adsorção, um fenômeno no qual moléculas, íons ou partículas aderem à superfície do material, sem penetrarem em sua estrutura. O processo funciona assim:

  • Forças de Van der Waals: As interações moleculares de baixa energia entre a superfície do carvão ativado e os contaminantes fazem com que as moléculas “grudem” nos poros.
  • Retenção Física: Os microporos e mesoporos funcionam como “armadilhas” para as partículas, impedindo que passem através do filtro.

3. Como o Carvão Ativado Filtra Diferentes Substâncias?

Filtração de Água

  • Impurezas Orgânicas: O carvão ativado é eficaz na remoção de compostos orgânicos, como pesticidas, solventes e produtos petroquímicos, que são adsorvidos na sua superfície.
  • Cloro e Subprodutos: Ele também remove o cloro livre presente em águas tratadas, eliminando odores e sabores desagradáveis.
  • Metais Pesados: Em processos mais avançados, o carvão ativado pode adsorver íons metálicos como chumbo e mercúrio, embora sua eficiência dependa do tipo de carvão ativado utilizado.

Purificação do Ar

  • O carvão ativado é amplamente utilizado em purificadores de ar e máscaras de proteção para capturar gases tóxicos, vapores orgânicos voláteis (VOCs) e odores.
  • Substâncias como benzeno, formaldeído e outros poluentes atmosféricos se ligam aos poros do carvão ativado.

Uso em Aplicações Médicas

  • O carvão ativado é usado em casos de intoxicação ou envenenamento, pois ele adsorve toxinas presentes no trato gastrointestinal antes que sejam absorvidas pelo organismo.

4. Regeneração e Limitações

  • Regeneração: O carvão ativado pode ser saturado após adsorver uma quantidade significativa de contaminantes. A regeneração é feita através de aquecimento ou processos químicos para liberar as substâncias adsorvidas.
  • Limitações:Ele não é eficaz na remoção de sais dissolvidos e alguns metais pesados específicos.
    • A eficiência depende do tamanho dos poros e da compatibilidade com as substâncias filtradas.

5. Conclusão

O carvão ativado funciona como filtro devido à sua elevada área superficial e capacidade de adsorção, capturando impurezas, gases e contaminantes. Sua estrutura porosa permite que ele retenha moléculas em sua superfície, tornando-o extremamente eficiente para purificação de água, ar e diversos processos industriais e médicos. É um exemplo notável de como materiais com propriedades físicas especiais podem resolver problemas ambientais e de saúde.

O Potencial do Brasil para Produzir Carvão Ativado

Brasil possui um enorme potencial para se tornar um grande produtor de carvão ativado, devido à abundância de recursos naturais, matéria-prima diversificada e um setor agroindustrial robusto. O carvão ativado, amplamente utilizado em processos de filtração, purificação de água e ar, indústria química, farmacêutica e até em remediação ambiental, pode ser produzido a partir de biomassa, o que coloca o país em uma posição privilegiada.


1. Abundância de Matéria-Prima

O Brasil é um dos maiores produtores mundiais de biomassa, matéria-prima fundamental para a produção de carvão ativado. Algumas fontes abundantes no país incluem:

1.1. Resíduos Agrícolas

  • Cascas de coco: O Brasil é um dos maiores produtores de coco no mundo, gerando uma grande quantidade de resíduos, como a casca do fruto, que é ideal para a produção de carvão ativado devido à sua densidade e estrutura fibrosa.
  • Bagaço de cana-de-açúcar: A indústria sucroalcooleira brasileira é líder mundial, gerando milhões de toneladas de bagaço por ano, que podem ser convertidas em carvão ativado de alta qualidade.
  • Casca de arroz: Outra biomassa abundante, proveniente da grande produção de arroz no país, especialmente no Sul.
  • Serragem e resíduos florestais: A vasta indústria madeireira brasileira gera resíduos como serragem, lascas e cascas de árvores, que podem ser aproveitados.

1.2. Carvão Vegetal

O Brasil é um dos maiores produtores de carvão vegetal, especialmente na siderurgia, utilizando carvão proveniente de florestas plantadas como o eucalipto. Esse conhecimento pode ser aproveitado para a produção de carvão ativado, agregando maior valor ao produto.


2. Infraestrutura e Capacidade Técnica

O Brasil possui um setor industrial consolidado com experiência na produção de biocombustíveisprocessamento de biomassa e carbonização, tecnologias semelhantes às necessárias para produzir carvão ativado. Isso inclui:

  • Tecnologia de carbonização: A expertise do país em produzir carvão vegetal pode ser facilmente adaptada para produzir carvão ativado por meio de processos de ativação química ou térmica.
  • Pesquisa e inovação: Universidades e centros de pesquisa brasileiros, como a Embrapa e instituições de engenharia, já estudam tecnologias para otimizar o uso de biomassa em produtos de maior valor agregado.

3. Demanda Crescente no Mercado Interno e Externo

A produção de carvão ativado atende a uma demanda global crescente, com amplas aplicações em diversos setores:

  • Tratamento de água e esgoto: O carvão ativado é essencial para filtrar contaminantes e remover impurezas da água, uma aplicação de grande interesse no Brasil para saneamento básico.
  • Purificação do ar: Cresce a demanda por carvão ativado em purificadores de ar e filtros para emissões industriais.
  • Indústria química e farmacêutica: O carvão ativado é usado como agente purificador em processos químicos e no tratamento de intoxicações.
  • Remediação ambiental: O mercado global exige soluções para despoluição de solos e rios, onde o carvão ativado desempenha papel fundamental.

Com uma indústria agropecuária e florestal robusta, o Brasil pode produzir carvão ativado para consumo interno e exportação, competindo com países líderes como Índia e China.


4. Sustentabilidade e Valor Agregado

O Brasil pode produzir carvão ativado sustentável, aproveitando biomassa renovável e resíduos agroindustriais que normalmente teriam baixo valor econômico ou seriam descartados. Os benefícios incluem:

  • Redução do desperdício: Aproveitamento de resíduos agrícolas e florestais.
  • Desenvolvimento regional: Criação de indústrias em regiões rurais produtoras de biomassa.
  • Baixa pegada de carbono: Produção de carvão ativado a partir de biomassa pode ter menor impacto ambiental em comparação ao uso de carvão mineral.
  • Agregação de valor: Transformar biomassa de baixo valor em carvão ativado de alto valor comercial.

5. Desafios para Explorar o Potencial

Apesar do enorme potencial, o Brasil enfrenta desafios que precisam ser superados para liderar a produção de carvão ativado:

  • Investimentos em tecnologia: A produção de carvão ativado de alta qualidade requer processos avançados de carbonização e ativação.
  • Infraestrutura logística: Melhorias no transporte e processamento de biomassa são necessárias.
  • Políticas públicas e incentivos: O governo pode criar estímulos fiscais e linhas de crédito para fomentar essa indústria.

6. Conclusão

O Brasil tem um potencial excepcional para se tornar um líder mundial na produção de carvão ativado, graças à abundância de biomassa, experiência em processos de carbonização e uma demanda crescente por soluções sustentáveis. Transformar resíduos agrícolas e florestais em carvão ativado representa uma oportunidade econômica e ambiental significativa, agregando valor à cadeia produtiva e posicionando o país como um fornecedor competitivo no mercado global de produtos de alto valor agregado.   


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Liberdade e Limites: A Necessidade do Estado de Direito para Evitar a Lei do Mais Forte

A questão da liberdade individual e sua interação com as liberdades de outras pessoas é um dos temas centrais da filosofia política e do direito. Esse dilema nasce da tensão entre a autonomia individual e a convivência em sociedade, onde o exercício da liberdade de uma pessoa pode, inevitavelmente, interferir na liberdade de outra. Por isso, a existência de um sistema de mediação — como o Estado de Direito — é fundamental para regular essas interações e evitar que a liberdade seja reduzida à lei do mais forte.

A tensão entre liberdades individuais

John Stuart Mill, em “Sobre a Liberdade”, argumenta que a liberdade individual só deve ser limitada quando interfere no bem-estar ou nos direitos de outros. Seu famoso princípio do “dano” estabelece que “o único propósito pelo qual o poder pode ser exercido legitimamente sobre qualquer membro de uma comunidade civilizada, contra a sua vontade, é evitar o dano a outros”. Esse princípio sustenta a necessidade de um sistema legal ou normativo para arbitrar disputas e regular o comportamento.

O papel do Estado de Direito

A ausência de um sistema mediador, como o Estado de Direito, pode levar a uma situação de “estado de natureza”, como descrito por Thomas Hobbes em “Leviatã”. Para Hobbes, no estado de natureza, a liberdade irrestrita de todos leva ao caos e à “guerra de todos contra todos”, pois cada indivíduo busca maximizar seus próprios interesses sem considerar os limites impostos pelas necessidades dos outros. Nesse contexto, o mais forte ou o mais astuto tende a prevalecer, suprimindo a liberdade dos mais fracos.

Hobbes defende que o contrato social e a submissão a um soberano — o Leviatã — são necessários para garantir a ordem e a segurança, protegendo a liberdade dentro de um quadro de regras. O Estado, assim, atua como mediador e garantidor da convivência pacífica entre liberdades que, de outra forma, estariam em constante conflito.

Liberdade e justiça social

John Rawls, em “Uma Teoria da Justiça”, amplia esse debate ao incorporar a justiça social como elemento central para equilibrar a liberdade. Ele propõe o princípio da diferença, segundo o qual as desigualdades só são aceitáveis se beneficiam os menos favorecidos. Rawls argumenta que um sistema justo deve garantir que todos tenham a mesma igualdade de oportunidades e que as liberdades básicas sejam respeitadas. A mediação estatal, portanto, é essencial para evitar que diferenças de poder econômico ou social resultem na opressão de uns sobre os outros.

A necessidade de limites

Pensadores contemporâneos, como Amartya Sen, também enfatizam a importância de instituições que protejam as liberdades individuais, mas reconhecem que essas liberdades precisam ser condicionadas por princípios éticos e legais. Sen, em “Desenvolvimento como Liberdade”, argumenta que o verdadeiro progresso é alcançado quando as liberdades de todos são expandidas de forma equitativa, o que requer uma forte governança para mediar conflitos e corrigir desigualdades.

Conclusão

Sem um sistema de mediação — como o Estado de Direito —, a liberdade se transforma em um conceito vazio, dominado pela força ou pela manipulação. Autores como Mill, Hobbes, Rawls e Sen nos mostram que a liberdade só pode florescer em um ambiente onde existem limites claros, regras justas e mecanismos que garantam que as liberdades de uns não sejam exercidas às custas de outros. Esse equilíbrio é o que impede que a liberdade se torne a lei do mais forte e preserva o princípio fundamental de igualdade em uma sociedade.


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Voz e Saída: Os Mecanismos de Reação Social e Econômica segundo Albert Hirschman

A ideia de “voice and exit” de Albert Hirschman, apresentada em seu livro clássico “Exit, Voice, and Loyalty” (1970), explora como indivíduos e organizações reagem a declínios percebidos em empresas, instituições ou Estados. Hirschman propõe dois mecanismos principais de resposta:

1. Exit (Saída):

Refere-se à opção de abandonar a relação com uma organização ou sistema. Por exemplo, um cliente insatisfeito pode simplesmente parar de comprar de uma empresa e mudar para outra. No contexto político, um cidadão descontente pode emigrar ou retirar seu apoio ao governo. Esse mecanismo depende da existência de alternativas viáveis e é frequentemente associado ao mercado e à competição.

2. Voice (Voz):

É a tentativa de melhorar ou reparar uma situação insatisfatória por meio de comunicação, protesto ou articulação de demandas. No caso de uma empresa, um cliente pode registrar uma reclamação ou sugerir mudanças. No contexto político, os cidadãos podem recorrer a manifestações, greves ou votar contra líderes existentes. “Voice” tende a ser mais prevalente em contextos onde a lealdade ou o vínculo emocional são fortes, ou onde “exit” não é uma opção imediata.

3. Loyalty (Lealdade):

Hirschman adiciona a lealdade como uma variável moderadora entre “voice” e “exit”. Quando a lealdade é alta, os indivíduos estão mais inclinados a tentar a “voice” antes de recorrer ao “exit”. Em contrapartida, baixa lealdade facilita a saída como resposta inicial a problemas.

Aplicações da Teoria

A teoria de Hirschman é amplamente aplicável em várias disciplinas, incluindo economia, ciência política e sociologia. Alguns exemplos incluem:

• Empresas e consumidores: Um cliente pode abandonar um produto (exit) ou reclamar para tentar melhorar a qualidade (voice).

• Organizações políticas: Cidadãos insatisfeitos podem protestar (voice) ou migrar para outro país (exit).

• Sindicatos: Trabalhadores podem fazer greves (voice) ou mudar de emprego (exit).

Implicações

• A importância da lealdade: A lealdade de membros ou consumidores pode dar tempo para que as organizações respondam ao feedback antes que as pessoas optem pela saída.

• Desafios para o “voice”: “Voice” pode ser difícil de exercer em sistemas onde há barreiras para o feedback ou repressão política, o que pode aumentar a tendência ao “exit” (como em regimes autoritários).

• Impacto na concorrência: Em mercados altamente competitivos, o “exit” tende a predominar, pois os consumidores têm opções claras. Já em mercados com menos alternativas, o “voice” pode ser a única maneira de pressionar por mudanças.

A genialidade de Hirschman está em sintetizar como escolhas aparentemente simples revelam dinâmicas profundas nas relações sociais e econômicas. A interação entre “voice” e “exit” continua sendo um modelo poderoso para analisar situações de insatisfação e mudança em diversos contextos.


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CRB x Bloomberg Commodity Index: Comparando os Gigantes dos Indicadores de Commodities

O CRB Index (Commodity Research Bureau Index) e o Bloomberg Commodity Index (BCOM) são dois índices amplamente usados para monitorar o desempenho do mercado de commodities, mas diferem em metodologia, composição e objetivos:

1. Origem e Objetivo

• CRB Index: Foi criado em 1957 pelo Commodity Research Bureau, sendo um dos índices mais antigos. Seu objetivo original era medir a evolução dos preços de um conjunto amplo de commodities, representando as tendências inflacionárias relacionadas às matérias-primas.

• Bloomberg Commodity Index: Criado em 1998 (originalmente como Dow Jones-AIG Commodity Index), é um índice mais recente e busca oferecer uma representação mais diversificada e equilibrada do mercado global de commodities.

2. Composição e Peso das Commodities

• CRB Index:

• Inclui 19 commodities.

• Os pesos são iguais ou quase iguais entre as commodities, com menor ajuste para refletir sua relevância econômica ou liquidez.

• Exemplo de commodities: petróleo, ouro, algodão, açúcar, café, entre outros.

• Bloomberg Commodity Index (BCOM):

• Inclui cerca de 23 commodities, cobrindo energia, metais (preciosos e industriais) e agricultura.

• Os pesos são ajustados com base em critérios como liquidez (volume negociado) e importância econômica global, buscando maior equilíbrio entre setores (ex.: energia, metais e agricultura).

• Exemplo: o petróleo, que é altamente líquido, tem maior peso em comparação a outras commodities.

3. Metodologia de Cálculo

• CRB Index:

• Calcula o índice de forma simples e com rebalanceamentos menos frequentes.

• A estrutura mais tradicional do CRB foca em capturar as mudanças absolutas de preços, com um viés histórico em direção à inflação.

• Bloomberg Commodity Index:

• É mais sofisticado, com rebalanceamentos regulares para manter a representatividade econômica e evitar concentração em apenas algumas commodities.

• Tem regras rigorosas para evitar sobreposição de contratos e garantir diversificação.

4. Setores e Abordagem

• CRB Index: Geralmente dá maior peso às commodities agrícolas e menos às energéticas, refletindo sua origem histórica como medida da inflação agrícola.

• Bloomberg Commodity Index (BCOM): Dá mais peso ao setor de energia (ex.: petróleo e gás natural), devido à maior relevância econômica global e liquidez.

5. Utilização no Mercado

• CRB Index:

• Usado frequentemente como um indicador geral do movimento de preços das commodities.

• Acompanhado por investidores interessados em tendências de inflação.

• Bloomberg Commodity Index:

• Usado por investidores institucionais para criar estratégias de investimento mais equilibradas e diversificadas em commodities.

• Serve como benchmark para fundos que acompanham o mercado de commodities.

Resumo

• O CRB Index é mais histórico, com uma metodologia simples e enfoque tradicional em inflação e commodities agrícolas.

• O BCOM é mais moderno, com uma abordagem mais sofisticada e diversificada, melhor refletindo o mercado global de commodities e servindo como referência para investidores.

A escolha entre os dois depende dos objetivos de análise ou investimento.

    


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